Há 50 anos, o engenheiro aeroespacial e astronauta norte-americano Neil Alden Armstrong, junto a Edwin Aldrin e Michael Collins, alunissaram à Lua a bordo da Apollo XI. Um acontecimento inesquecível. A transmissão do evento, de acordo com a Nasa, foi transmitida pela televisão a 530 milhões de pessoas dos quatro cantos do planeta. No Brasil, a audiência chegou a 41% de televisores ligados, quando, ainda que por poucos minutos, as agruras do governo de Artur da Costa e Silva foi eclipsada.
Nessa época, em Juiz de Fora, eu e meus irmãos cursávamos o ginasial no Instituto Granbery. Lembro-me que minha casa se preparou para o grande espetáculo. Era um domingo de quase Lua Crescente. Todos diante à televisão, pasmamos ao assistir Neil Armstrong passear pela Lua em tantos tons de cinza. Para mim, ainda que a qualidade das imagens tenha deixado a desejar, aquela cena lunática chegava emantada de um aspecto assombrado.
Ao término da apresentação, cada um de nós celebrou suas impressões em falas atravessadas. Incólume estava minha vó Aurora, em silêncio absoluto, sentada quase imóvel em uma das cadeiras da sala de estar. Minha mãe Wilma, preocupada, dirigiu-se a ela para saber o que tinha achado do homem pisar na Lua. Em tranquilidade, respondeu: vocês são muito bobos, o que acabamos de ver foi um “truque de filmagem”. Crédulos diante ao que acabávamos de presenciar na televisão, não conseguimos gargalhar. A inverossimilhança sobre o homem ter chegado à Lua não pairou somente na cabeça de minha vó. As imagens ofuscadas deram margem à desconfiança de muita gente, até mesmo da teoria da conspiração.
Tantos anos se passaram (e põe anos nisso…). Hoje, não me preocupo mais se o homem realmente foi à Lua naquele dia 20 de julho; se aquelas cenas foram gravadas em estúdio de cinema. Quero sim guardar a Lua assombrada, povoada por seres que olhos e telescópios não atingem, ainda que vivemos em tempos das “mais avançada das tecnologias”. Quero ver a Lua com um olhar decolonial, ou seja, transcender a face obscura da modernidade que vem operando como um padrão mundial de poder. Quero ver a Lua com olhos dos povos indígenas: assombrada, sagrada, representando ou o homem, ou a mulher, ou o herói mítico, criador de todas as coisas.
Para o povo Nambiquara, do Oeste de Mato Grosso, Ilakisu, Lua, é o Sol da noite, um menino, casado com Ujenakisu, Sol, uma menina, a mais bonita do onãnkosu, céu. Todas as vezes que Ilakisu e Ujenakisu fazem amor, no Onãnkosu nascem centenas de Waiwaitala, estrelas.
Vamos “sulear” o céu sob nossas cabeças? Afinal de contas, “não existe pecado do lado de baixo do Equador”, compuseram Chico Buarque e Rui Guerra, na trilha do historiador Sérgio Buarque de Holanda que, por sua vez, percorreu a do holandês Gaspar Barléu, da corte de Maurício de Nassau, por ocasião da invasão holandesa no Brasil no século XVII.