Opinião

Cláudia Andujar: ‘Povo da lua povo do sangue’

Quando a Alemanha nazista dominou a Hungria durante a II Guerra Mundial, os judeus foram forçados a deixar suas casas e levados aos guetos espalhados em inúmeras regiões da Alemanha e de cidades invadidas por ela. Homens, mulheres e crianças foram marcados brutalmente por violentos tratamentos discriminatórios. Sofreram pressões, circunstâncias sociais, “guetização”, privatização geral, fuzilamento, asfixia. Um genocídio patrocinado pelo Estado nazista que resultou na morte de milhões de pessoas.

A menina Cláudia Andujar, filha de um engenheiro húngaro judeu, escapou das atrocidades no nazismo. Em 1955, Cláudia chegou ao Brasil depois de morar em New York. São Paulo, onde já morava sua mãe, foi a cidade que passou a viver com sua câmera Rolleiflex. Por várias cidades brasileiras e de outros países da América Latina viajou a fotografar pessoas. Nas revistas Quatro Rodas, Setenta, Cláudia, Goodyer Brasil, Life, Look, Fortune, IBM Horizon USA, Aperture, dentre outras publicou seu vasto trabalho iconográfico.

No ano de 1958, pelas mãos do antropólogo Darcy Ribeiro, entrou em contato com o povo Karajá, na Ilha do Bananal. A fotógrafa e ativista suíça, que se naturalizou brasileira, em 1971, chegou ao território Yanomani, momento em que viveu entre Roraima e Amazonas. Ao ser enquadrada pela Lei de Segurança Nacional pela ditadura militar, foi expulsa do território indígena e retornou a São Paulo. Nesse contexto nasceu a Comissão pela Criação do Parque Yanomani, mais tarde Comissão Pró-Yanomani, instituição que passou a denunciar as ameaças à sobrevivência dos indígenas diante à violência do contato com os não indígenas. Esse movimento também foi fundamental para a viabilização da demarcação da terra Indígena Yanomani, efetivada em 1992.

Dia 22 de junho foi aniversário de Cláudia Andujar. Aos 88 anos, para além das honrarias que recebeu por seu esplendoroso trabalho fotográfico, destaca-se a Ordem do Mérito Cultural, ordem honorífica dada a personalidades brasileira e estrangeira em reconhecimento à cultura do país. No ano passado, recebeu a Medalha Goethe, do Goethe-Institut, condecoração oficial da República Federal da Alemanha, em louvor ao trabalho junto ao povo Yanomami.

Em agradecimento à dedicação de Cláudia Andujar pelo trabalho junto ao povo Indígena Yanomani, assistir ao documentário ‘Povo da lua, povo do sangue’ (1984), de Marcelo Tassara, pode ser um jeito de homenagear à brasileira que tanto respeita o modo de ser indígena, de ser Yanomani, de suas formas de sobrevivência diante às vicissitudes do contato ainda tão violento com os não índios. É um caminho para se conhecer uma parte de seu acervo fotográfico. Vamos cantar parabéns à Cláudia?  Esse documentário, que reúne fotografias e pesquisas sonoras de campo realizadas por Cláudia Andujar, é certamente uma linda homenagem: https://vimeo.com/201569402.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do