O sinal amarelo está ligado e especialistas alertam para os cuidados com os rios da baixada cuiabana, principalmente o Rio Coxipó. Esgotos são lançados nas águas que abastecem a capital, toneladas de lixo são retiradas dali de dentro e estudos apontam a presença de microplásticos poluindo as águas pantaneiras, já sendo encontradas dentro dos peixes.
Ibraim Fantim da Cruz é professor de engenharia sanitária e ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e entre suas pesquisas há grupos que desenvolvem projetos sobre os recursos hídricos do estado. Um deles avalia a qualidade das águas que são utilizadas para abastecimento público. Segundo o docente, o Rio Cuiabá abastece 70% da população, enquanto o Rio Coxipó, 30%.
“Quando a gente analisa a qualidade da água, ela é boa. O problema é quando ela atravessa as áreas urbanas, que não é só em Cuiabá, e tem o lançamento de efluentes direto”, alerta o docente.
Ibraim conta que água do Rio Cuiabá não é indicada para balneabilidade nas áreas urbanas, ou seja, o contato direto em mergulhos, natação e recreação podem causar prejuízos à saúde.
O docente relata que o rio é extenso e que a barragem do Manso contribui com a vasão do mesmo. “O Manso regularizou isso e o rio não tem o comportamento de secar ou encher muito. Isso acaba facilitando a melhora na diluição dos efluentes e isso ajuda a não comprometer a qualidade da água”.
O último relatório de monitoramento de qualidade da água superficial de Mato Grosso, divulgado pela Secretária Estadual de Meio Ambiente (Sema) em 2018, com ano referência de 2015 a 2017, explica que a bacia do Paraguai abriga em sua extensão 86 municípios, sendo 53 deles em Mato Grosso = 37,5% do total dos 141 municípios. Ou seja, parte expressiva da população do Estado está concentrada nas proximidades do Rio Cuiabá e isso exerce alteração na qualidade e disponibilidade da água.
O levantamento evidenciou altos valores de contaminação no Rio Cuiabá e os resultados obtidos demonstram uma piora na qualidade da água. Já o Rio Coxipó tem apresentado qualidade das águas ruim, com altas concetrações de resíduos de esgoto, em especial de bactérias presentes nas fezes humanas, indicando que o rio está contaminado por esgoto de origem domiciliar.
Ibraim conta que seus estudos na UFMT estão focados na segurança hídrica para abastecimento público no Rio Coxipó, visto que a falta de capacidade de vasão da água não deixa com que os efluentes se diluam.
“Onde o Rio Coxipó nasce ele está protegido, ali em Chapada dos Guimarães, que ele passa pela Cachoeira do Véu de Noiva, mas depois que ele passa dali que começa o problema”, conta o professor.
O professor alerta para os perigos dos resíduos sólidos, sobre o esgoto que são jogados nas galerias fluviais, mas também para o processo de erosão do rio. “A expansão urbana promove a retirada de vegetação e começa a ter carreamento de areia em grande quantidade para o rio”.
Outra atividade preocupante é a piscicultura, a criação de peixes. Ele alerta que há muitos locais que praticam e quando eles realizam a despesca, retiram a água do tanque para esterilizar e ser utilizado no próximo ciclo, a água é jogada e cai no rio Coxipó, por exemplo.
“Ela é jogada sem tratamento nenhum e riquíssima em nutrientes. São as excretas dos peixes, misturadas com os restos de ração e isso acaba deixando os locais propícios para o desenvolvimento das cianobactérias, que podem ter cianotoxinas que comprometem a qualidade da água. Caso isso entre no sistema de tratamento pode ter relação direta com a saúde pública. Tem efeitos negativos para a população”.
Lixo no rio, microplástico no Pantanal
Ibraim compartilhou com o Circuito Mato Grosso um estudo que já aponta que os microplásticos estão contaminando o Pantanal e seus afluentes. Esse conteúdo é resultado do descarte inadequado de embalagens e outros produtos originários do plástico, que com o decorrer do tempo vão se fragmentando e as partículas já são um problema emergente ao ecossistema de água doce, afetando a fauna local.
Foi explicado que quando alguém joga uma sacola ou qualquer plástico com restos de comida, ou que teve carne envolta e ficou o cheiro, o peixe vai encontrar e tentar comer achando que é comida.
“Esses peixes que estão consumindo plástico, além de comprometer a saúde do próprio peixe, o plástico não é digerido pelo sistema. Nós podemos estar consumindo esses plásticos também”, diz o professor.
Além disso, estudos apontam a presença de microplásticos em cosméticos, como esfoliantes, shampoos, entre outros, que em um banho, por exemplo, quando ele é retirado do corpo, cai no ralo e vai parar no rio, também auxilia nas consequênc