O transtorno de ansiedade envolve um angustiante estado de nervosismo crônico, de maneira flutuante, cuja gravidade é desproporcional às circunstâncias da pessoa. A ansiedade é uma resposta normal a uma ameaça ou a um estresse psicológico, sentida ocasionalmente por todas as pessoas, tem sua raiz no medo e cumpre um importante papel na sobrevivência. Quando uma pessoa se vê perante uma situação perigosa, a ansiedade desencadeia uma resposta de luta ou fuga. Com uma variedade de alterações físicas surgem, como maior irrigação sanguínea para o coração e para os músculos para proporcionar ao corpo a energia e a força necessárias para enfrentar situações de risco à vida, como, por exemplo, fugir de um animal agressivo ou enfrentar um agressor. No entanto, quando a ansiedade surge em momentos inadequados, com muita frequência, ou é tão intensa e duradoura a ponto de afetar as atividades normais da pessoa, ela passa a ser considerada como um transtorno.
Os transtornos de ansiedade são o tipo mais frequente de transtorno mental e acredita-se que o Brasil seja o recordista mundial, com 9,3% da população de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde, em 2017. No entanto, muitas vezes os transtornos de ansiedade não são identificados pelas pessoas afetadas nem pelos profissionais de saúde, o que faz com que essas pessoas raramente recebam tratamento.
Os transtornos de ansiedade incluem transtorno de ansiedade generalizada, ataques de pânico e síndrome do pânico e transtornos fóbicos específicos. A angústia mental que ocorre imediatamente ou logo após vivenciar ou testemunhar um evento traumático significativo não é mais considerado transtorno de ansiedade. Esses transtornos são agora chamados de transtornos relacionados a trauma e a estresse e incluem o transtorno de estresse agudo e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
As causas dos transtornos de ansiedade não são completamente conhecidas, mas pode haver o envolvimento de fatores como os genéticos (incluindo histórico familiar), ambiental (como, por exemplo, vivenciar um evento traumático ou estresse), constituição psicológica ou uma doença física. Um transtorno de ansiedade pode ser iniciado por estresses causados pelo meio, como o fim de um relacionamento importante ou a exposição a um desastre com risco à vida. Pode se desenvolver quando situações estressantes provocam respostas inadequadas, ou quando a pessoa é subjugada pelos acontecimentos. Por exemplo, algumas pessoas entendem que discursar em público é uma atividade estimulante, outras, contudo, não suportam a idéia, e são tomadas por ansiedade, com sintomas como sudorese, medo, aumento da frequência cardíaca e tremores. Os médicos acreditam que algumas dessas tendências podem ser hereditárias, mas algumas são provavelmente adquiridas pela convivência com pessoas ansiosas.
A ansiedade também pode ser causada por doenças físicas, pelo consumo de algum medicamento ou droga ou por sua interrupção (abstinência). As doenças físicas que podem causar ansiedade incluem as doenças cardíacas, como insuficiência cardíaca e ritmos cardíacos anormais (arritmias), doenças hormonais (endócrinas), como hiperatividade da glândula adrenal (hiperadrenocorticismo) ou da tireoide (hipertireoidismo) ou um tumor com secreção hormonal chamado feocromocitoma, doenças pulmonares (respiratórias), como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Mesmo a febre pode causar ansiedade. Pode ocorrer ansiedade em uma pessoa em estado terminal em decorrência de medo da morte, dores e dificuldades respiratórias. As drogas ou medicamentos que podem desencadear ansiedade incluem o álcool, estimulantes (como as anfetaminas), cafeína, cocaína, muitos medicamentos de venda sob prescrição médica, como corticosteróides e alguns produtos emagrecedores de venda livre, como os que contêm produtos fitoterápicos, como guaraná, cafeína ou ambos. A abstinência de álcool ou sedativos como benzodiazepínicos (usada para tratar transtornos de ansiedade), pode causar ansiedade e outros sintomas, como insônia e inquietude.
A ansiedade pode surgir subitamente, como em crises de pânico, ou gradualmente no decurso de minutos, horas ou dias. A duração da ansiedade pode variar muito, de alguns segundos a vários anos. Pode haver variação de intensidade, desde uma angústia quase imperceptível até um ataque de pânico muito grave, durante o qual a pessoa pode sentir falta de ar, tontura, aumento da frequência cardíaca e agitações (tremor). Os transtornos de ansiedade podem ser muito angustiantes e interferir na vida da pessoa a ponto de causar depressão. Pessoas com transtornos de ansiedade (exceto no caso de fobias muito específicas, como medo de aranha) têm pelo menos duas vezes mais probabilidade de desenvolver depressão do que pessoas que não têm transtornos de ansiedade.
Pode ser complicado decidir quando a ansiedade é grave o suficiente para ser considerado um transtorno. A capacidade de uma pessoa de suportar a ansiedade varia e pode ser difícil determinar o que deve ser considerado como grau anormal de ansiedade. Os médicos normalmente usam os seguintes critérios específicos estabelecidos como a ansiedade é muito angustiante? A ansiedade interfere no seu desempenho de atividades? A ansiedade não se resolve espontaneamente no prazo de alguns dias? Os médicos perguntam se os membros da família já apresentaram sintomas similares. Um histórico familiar de transtorno de ansiedade pode auxiliar no diagnóstico. Exame físico, exames de sangue e outros exames podem ser feitos para verificar a presença de doenças físicas que possam provocar a ansiedade.
O estabelecimento de um diagnóstico preciso é importante, uma vez que os tratamentos diferem de acordo com o tipo de transtorno de ansiedade. Além disso, os transtornos de ansiedade devem ser diferenciados da ansiedade que ocorre em muitos outros transtornos de saúde mental, que envolvem diferentes abordagens de tratamento. Se a causa for uma doença física ou um medicamento ou droga, o médico tem por meta corrigir a causa em vez de tratar os sintomas de ansiedade. Se a ansiedade permanecer, podem ser utilizados medicamentos ansiolíticos ou psicoterapia (como terapia comportamental).
Caso um transtorno de ansiedade seja diagnosticado, uma terapia medicamentosa ou psicoterapia, isoladamente ou em associação, podem aliviar significativamente a angústia e a disfunção na maioria das pessoas. Os tratamentos específicos dependem de qual transtorno de ansiedade é diagnosticado.
Caso você tenha dúvidas sobre o assunto, se sinta ansiosa ou conhece alguém que possa estar sofrendo com o transtorno de ansiedade, procure seu médico. Evite a automedicação. Até a próxima semana.
DRA POLIANA PELISSARI
MÉDICA GENERALISTA PELA UNIFENAS BH