Decidi falar sobre esse tema que vem rondando meus pensamentos nos últimos tempos.
Em conversa com uma amiga surgiu o seguinte questionamento: a raiva ajuda na resolução de um problema, de algo que está fazendo mal àquela pessoa?
Analisando rapidamente podemos dizer que sim, pois com raiva tomamos decisões no ímpeto que podem nos livrar de coisas que estejam nos fazendo mal, como nos primórdios da humanidade, num vai e vem de emoções que nos levavam a fuga e/ou ataque e garantiram a sobrevivência da espécie humana.
Porém decidi aprofundar mais nessa questão e descobri coisas bem legais que decidi compartilhar aqui.
Lendo sobre Inteligência Emocional do mestre no assunto dr. Daniel Goleman, temos o conceito de que um indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar sua emoções com facilidade, que a grande vantagem das pessoas com inteligência emocional aprimorada é a capacidade de se automotivar e seguir em frente, mesmo diante das frustrações e desilusões que vivem.
Daniel Goleman afirma também que a Inteligência Emocional é dividida em cinco habilidades específicas: Autoconhecimento emocional, controle emocional, automotivação, empatia e desenvolver relacionamentos interpessoais.
Olhando mais para as habilidades que compõe a competência Inteligência emocional, descobrimos que conhecer nossas emoções e gerenciá-las poderá nos levar a melhorar nossa vida e nossos resultados, bem como melhorar nosso convívio em sociedade, sendo que para se chegar a este último é necessário também reconhecer as emoções do outro.
O que se observa ao trabalhar com desenvolvimento humano é que muitas pessoas, mesmo descontentes e com muita raiva, ansiedade e frustração nem sempre conseguem sair da situação e dar um salto para uma vida mais plena e satisfatória.
Afinal o que nos faz sair da inércia?
Considerando os estudos em torno da Inteligência emocional, são vários recursos a serem desenvolvidos que levarão as pessoas às suas conquistas.
Iniciar por um profundo mergulho em nós mesmos, de forma humilde e honesta refletindo para entender o que dispara em nós certas emoções, nesse caso a raiva.
Fazer essa descoberta não será o fim da procura, mas o início da solução. Será necessário ampliar nossa percepção sobre a situação, considerando possibilidades antes desconhecidas que podem nos levar a aceitação do fato. Usar a empatia verdadeira, que provoque em nós um interesse genuíno pelo outro, será instrumento capaz de nos levar até lá.
Por exemplo: quando eu cumprimento alguém pela manhã ao chegar no trabalho e o outro não corresponde, de imediato posso pensar que ele não gosta de mim. Em decorrência desse meu pensamento eu posso ter ações que anulem meu relacionamento com aquela pessoa.
Ampliando as possibilidades sobre o que motivou o outro a não corresponder ao meu bom dia posso encontrar: ele não me ouviu, algo deve ter acontecido com ele que o deixou triste ou nervoso demais, ele não dormiu a noite anterior com o filho recém-nascido e está sonolento, ele não entende a importância de um bom dia e pensa que isso é irrelevante, ele está mal humorado com algo que lhe aconteceu e ainda não conseguiu diluir a raiva, ou quem sabe, ele realmente esteja magoado com algo que eu tenha feito.
O fato é que a forma como eu penso sobre o evento vai definir meu sentimento e em consequência, minha ação, que nesse caso poderia interromper o meu relacionamento com o colega de trabalho.
Criar condições de aceitação nada tem a ver com ficar inerte diante da situação, tem a ver com estar equilibrado para procurar o colega e tentar entender verdadeiramente como ele está e se for necessário perguntar o que houve em relação ao evento. Posso garantir que na maioria das vezes o que motivou o evento nada tem a ver com você, mas de outras circunstâncias que envolvem aquela pessoa naquele momento.
Conforme os estudos da neurociência essa prática da aceitação serve apenas para tirar o foco do nosso cérebro do sistema límbico (condição de ameaça) quando atacamos ou fugimos e nos levar a área do cérebro (córtex pré frontal) região do raciocínio, onde conseguimos criar soluções para os problemas e nossa capacidade de aprender é muito maior.
Nesse novo estado teremos condições de estabelecer ações que nos permitam resolver o problema, como no exemplo acima, definir que para esclarecer o mal entendido precisaria conversar com o colega, afim de obter mais informações.
Criar as soluções não garantirá o fim do problema, mas garantirá um plano de ações que deverá ser colocado em prática e possivelmente levará a resolução.
É nessa etapa que os obstáculos surgirão – medo e ansiedade, serão seus companheiros, por isso estar automotivado com foco no que precisa ser feito será determinante para a pessoa sair da situação desconfortável que se encontra. Esse é o momento de olhar lá na frente e manter-se focado nos ganhos que obterá no final.
Resolver o que está ruim em nossas vidas é condição para uma vida saudável, porém nossa consciência de seres sociais não permite que sejamos pessoas equilibradas e felizes se esta lei estiver subjulgada, ou seja, se estivermos nos sentindo oponentes ou inimigos dos outros.
Não importa exatamente se o outro gosta ou não de mim, se ele é meu inimigo, o que importa sou eu gostar dele e não sentir mágoa, sempre que pensar naquela pessoa sentir alegria e desejar o bem a ela. Lembrando que energia não se engana, não adianta ter o discurso de que está bem com aquela pessoa, é necessário que esteja verdadeiramente sentindo isso.
Depois de analisar um pouco mais, concluo que a raiva de fato pode nos impulsionar a mudar algo, pois ela indica que existe um problema, porém por si só não possibilita uma mudança consistente e que leve a melhores resultados, mudanças feitas de forma impetuosa podem nos tirar de um problema e nos colocar em outros.
O que vai gerar soluções efetivas será analisar qual a minha parte de controle na situação e atuar nela. E iniciamos esse processo pelo entendimento e aceitação da situação, traçando metas e planos que precisarão ser executados, e então ao final esse problema estar superado, isso sem atropelar e causar rompimentos com as pessoas do nosso convívio, garantindo uma vida melhor e a saúde dos nossos relacionamentos.
O que nos leva a inércia é o comodismo e o medo de sairmos da nossa zona de conforto e de nos desafiarmos no incerto. Daí uma ótima oportunidade de iniciar todo esse processo novamente, partindo da emoção medo que tanto nos atrapalha.
Um forte abraço a todos. Sucesso!!!
Edilene Bocchi
Consultoria organizacional com foco em gestão de pessoas e Coach