Quando me coloco diante do COMA FRONTEIRA coletivo com pessoas como Caio Augusto Ribeiro, Marcella Gaioto e Pedro Duarte sinto que é preciso saber respirar, que é preciso escutar, que é preciso sentir e aprender a ver. Tudo por conta dos movimentos que esses jovens artistas aprontam e apontam para um hoje que não é agora, para um ontem que não foi e para um será que não é futuro. Suportes nada mais.
Antes de tudo é preciso saber que pulsa em cada um deles a diferença que sublinha a identidade e, que torna mágica a coletiva criação. Ora isso é chover no molhado pois, o que torna a árdua tarefa rica, é a experimentação com os olhares desses jovens e que acaba por fabricar espécies de batalhas.
Os signos que surgem nesse trabalho falam mais de um possível artístico do que obras estabelecidas para olhares oficiais ou extremamente treinados. O que sustenta os grafos dos zines está imaterial e materialmente presente ao longo de todo o percurso do trabalho apresentado.
Tais estruturas mostram uma arte que por desobedecer às regras tradicionais causam estranheza e levam as críticas que revelam ignorância.
Para esses jovens sinto que a vida é um imbricamento de movimento das coisas no espaço e no tempo. Tal discussão já foi longa, mas, agora o que quero é recortar o tempo e o espaço para recoloca-lo entre ou em outros espaços-tempos. Assim não é um agora que esteve no passado e muito menos que se encontrará no futuro. Um processo que o fazer tenta desordenar a ordem (como bem disse Marcella Gaioto), mas onde o começo é o pós de uma final e o fim é o cerne de um outro começo. Tal circularidade, não linear, se funda pelo olhar. A mirada dos artistas, dos que criam fanzines sobre o universo e a visão do mundo sobre a obra dos “fanzineiros”. Nessa variedade de olhares, penso um espaço/tempo do olhar que têm sua origem numa visão inicial, e que ao mesmo tempo se torna começo a cada nova faísca do olhar. Portanto é um nunca terminar da observação que vai tramando a cada visualidade objetos nascentes.
Se os fanzines são xerox de uma fantasia ou se tomam do real seus lados mais misteriosos, ou seja, eles podem ser a fronteira daquilo que é percebido ou a mente de quem percebe.
Cabe ressaltar que é no fenômeno dos traços dos fanzines que desobedecendo as ordens tradicionais a percepção desafia a compreensão dos processos mentais que regem a fatura das imagens.
Necessário sublinhar que é neste tempo do século XXI que o fanzine toma cada vez mais força para reservar as possíveis criações que ferem o Corpus dilapidado de uma torta realidade invadida por sujeições que impedem o processo cognitivo.
São suportes e ou suporte como estes marcos é que fazem possível deslocar os lugares, os espaços e os locais para a constituição de uma nova espécie de fatura artística que clama por uma visão cada vez mais inaugural.
Assim sendo, entendo importante ressaltar a luta desses jovens que acabam por explicitar por que o fenômeno que está lá fora, no mundo, chega até nós de modo que nos é compreensível.
Na verdade, eles tornam possível abrir nossos olhos para observar belezas e designers da realidade oculta pelos tradicionais. Suportes segurando suporte de acordo com a memória ou não do agente artista.
Agradeço ao COMA FRONTEIRA romper e escancarar os deslimites.
Penúltimo dia de abril de 2019.
- Professora adjunta da UFMT, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e ocupante da cadeira nº 2 da Academia Mato Grossense de Letras;