TERRA BRASILIS: ANO NOVO
O caminho para uma nova surpresa, para uma nova estação. A frase-destino é do poeta e jornalista carioca Olavo Bilac. Pelos cem anos de sua morte, ocorridos em 28 de dezembro, é aqui contemplado no intento dessa data não ser passada em branca. E mais: o autor de Ouvir as Estrelas não pode cair no esquecimento.
Mas, voltemos à frase-destino de Olavo Bilac: O caminho para uma nova surpresa, para uma nova estação. Final de ano leva grande parte das pessoas à reflexão. Além de fazermos uma retrospectiva de nossas vidas dentro do ano que está indo embora, projetamos nossos sonhos ao ano vindouro. Sonhos são lançados e se nada do que será de novo do jeito que já foi um dia, chega a hora de passarmos a limpo o que esperamos de 2019. E mesmo não sabendo o que ele trará, fazemos projeções.
No calendário indígena Nambiquara, flores amarelas desabrocham no cerrado, a indicar a chegada de um novo ciclo. O ciclo da colheita e do novo plantio que será regado pelas chuvas. Será o ano novo Nambiquara? Sabe-se lá… Nessa época, identificada pela civilização ocidental como Primavera, a renovação é anunciada pela natureza e neste cenário renovado, nascido das cinzas, os índios renovam suas esperanças, seus sonhos. Como escreveu Lévi-Strauss, é possível perceber nessa época uma euforia no ânimo Nambiquara. O que se sabe é que sociedades têm seus ciclos ou concebidos pela mão da natureza e pela mão humana.
O caminho para uma nova surpresa, para uma nova estação, escreveu Bilac, considerado o “príncipe dos poetas brasileiros”. Talvez o melhor será seguir a filosofia dos índios e viver um dia de cada vez. E, em cada dia, cultivar a felicidade, a solidariedade, a alegria. Flores amarelas ou árvores de Natal, pouco importam os signos. Sem dúvida o que vale é a intensidade da boa intensão: Feliz 2019!
Ano Novo, de Olavo Bilac
Que é a existência, senão uma viagem cheia de incidentes? – é como uma jornada, em estrada de ferro. O trem galopa, os minutos passam, morosos e monótonos: o tédio cresce dentro da alma, o cansaço alquebra o corpo: – quando chegará a primeira estação? Um silvo agudo, uma parada brusca da máquina… Aí uma estação, aí está um ano novo! Abrem-se todas as janelas dos vagões; assomam cabeças curiosas, espiando a paisagem, olhando o aspecto da gare, examinando a fisionomia das gentes da terra. Quem sabe? Talvez vão aparecer ali, a mulher que nos amará, o incidente que nos há de dar a glória, o negócio que fará a nossa fortuna… Não apareceu? Pouco importa! – silva de novo a locomotiva, move-se de novo o comboio, recomeça a viagem, recomeça o tédio, – e recomeça a esperança: o caminho para uma nova surpresa, para uma nova estação, para um novo ano!