Opinião

O santo é o dono da festa

Em 1720, os afrodescendentes de Chapada dos Guimarães faziam a batucada na broaca, bolsa de couro usada para o transporte de mantimentos pelo boi de cangaia, desta percussão sincretizada ao catolicismo nasceu à festa de santo. Ela é celebrada pela musica e bateção de pé e mão nas danças em circulo, tais performances significam o louvor ao santo. Destas celebrações nasceram às alianças das redes de parentada e compadresco, elas podem ser observadas nos corpos dos afrodescendentes atuais, que compõe os territórios quilombolas das Lagoinhas de Baixo e de Cima, Péba e Cambambi.

Neste idioma sonoro, o quilombola e a festa dialogam com tradição nascida dos troncos velhos ou antepassados. Foram eles que compuseram este rizoma memorial melódico, no qual bebe a gente de raiz afrodescendente atual. Com isso, a tradição da festa e da musica é vivenciada pelos mestres violeiros, cururueiros e siririeiros, capelão, rei, rainha, alferes bandeira, e capitão do mastro, juiz, juíza dançarinos (as) e participantes. São eles que envolvem os espetáculos e compõem as performances das danças, ladainhas, batizados de fogueira, comida gratuita, muxirum entre outras tradições culturais herdadas.

Desde o nascimento até a atualidade a musica dos afrodescendentes de Chapada dos Guimarães segue um fluxo que embala as gerações. A broaca parou de ser feita com a especulação imobiliária dos anos setenta, prevalecendo então à viola de cocho e o ganzá. Estes começaram a declinar em 2000 com a chegada da energia elétrica nas comunidades e sobreposição do território pelas mineradoras, hidrelétricas, campos de soja, milho, algodão, pecuária e áreas de preservação ambiental.

Portanto, a festa de santo, quilombola, é uma tradição que segue o fluxo dos acontecimentos. Nesta proposição, é possível concluir que a festa de santo continua “bombando” no presente, entretanto, ressignificada no fluxo atual. Assim, o santo continua a ser o dono da festa, porém incorporou-se nova roupagem, onde a viola de cocho e o siriri e cururu que tiveram seu apogeu nos tempos de outrora, existe, e ainda marca a brincadeira em louvação ao santo. Mas, o baile, com o toque atual, é embalado pelo rasqueado, lambadão e forró, tocado por bandas com instrumentos eletrônicos que agitam os corpos.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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