Às vésperas do Natal, o que escrever em um espaço que se propõe a falar dos povos indígenas? Optamos por saudar os caros leitores com uma mensagem que encarna sinceros votos de um país que está localizado abaixo da linha do Equador. Os Wayana e Aparai, dentre os mais de duzentos povos indígenas no Brasil, são apontados a nossa aspiração.
No igarapé Axiki, afluente do rio Paru de Leste, Tulupere, uma enorme serpente, de flancos ornados com belas pinturas, habitava águas dos territórios dos Wayana e Aparai, localizados no Amapá, Pará, Guiana Francesa e Suriname. O ser sobrenatural, ao virar as canoas dos índios, tornava inacessível a navegação e impossibilitava as relações entre os povos. Os sobreviventes ao naufrágio eram devorados por Tulupere e, por isso, os Wayana e Aparai nunca se encontravam.
A constância dos náufragos em consequência da voracidade da serpente levou um grupo Wayana, auxiliado por um pajé, a derrotá-la. No embate os índios puderam ver que os flancos de Tulupere eram adornados com pinturas pretas (jenipapo) e vermelhas (urucum). Mais tarde foi a vez do grupo Aparai quando encontrou o monstro tombado, avistando apenas um dos lados de seu corpo. Sem se preocupar com a ferocidade do monstro, pois ali jazia, conseguiu, com calma, ver com minúcias as pinturas que estavam expostas.
Enquanto o grupo de homens Wayana teve a oportunidade de observar os motivos ornamentais dos dois flancos de Tulupere, mesmo que em condições de extrema tensão, o grupo Aparai, que não visualizou todos eles, captou com extrema habilidade suas formas. O fim de Tulupere providenciou a união entre os dois povos, que passaram a manter relações matrimoniais. A morte da serpente possibilitou o encontro amistoso entre os Wayana e Aparai, o primeiro detentor de um repertório extremamente diversificado de pinturas e o segundo de uma técnica aperfeiçoada de confecção artística.
Que o Natal de 2018 proporcione maior aliança entre os povos, heterogêneos culturalmente, cônscios de que todos juntos podemos fortalecer nossas identidades e construir uma felicidade vindoura enlaçada na qualidade da coletividade.