Política

Professora se afasta de sala em universidade após ataque contra posição política

A professora Márcia* recebeu mensagem de um aluno no mês passado de agradecimento por seu trabalho na universidade – o esforço dela em ajuda-lo no desenvolvimento em algumas matérias. Na semana passada, o mesmo aluno apareceu em reportagem na TV a acusando de doutrinação política a favor do PT. Uma mudança que a surpreendeu, pois ela diz que o único fato ocorrido nos quase trinta dias entre os dois eventos foi a eleição de primeiro turno.

Hoje, ela está afastada das aulas que ministra na Unemat (Universidade de Mato Grosso) por se sentir abalada com a repercussão de uma mudança que extrapolou a sala de aula e se propagou por Nova Mutum, cidade onde está o campus da universidade em que trabalha.

O evento que gerou a controvérsia está documentado em protocolo de queixa ao Ministério Público do Eleitoral (MPE). Uma recomendação para que a professora não usasse um notebook próprio no qual está estampado um adesivo de propaganda do candidato petista à Presidência Fernando Haddad.

“Eu estava manifestando minha posição política democraticamente. Não estava pedindo voto, nem indicando o meu candidato para outras pessoas. Outros professores da universidade têm adesivo do [Jair] Bolsonaro (PSL), falam dele, da mesma forma que eu falava do meu candidato, e não sofreram nenhum cerceamento”, comenta.

Márcia, professora de química na faculdade de agronomia da Unemat, conta que a mudança começou com comentários sobre programas do Estado e alguns estudantes se manifestaram contra por achar que ela defendia Haddad.

“Eu sequer toquei no nome do candidato. Falei de programas de Estado que estão em vigor e eles entenderam que eu falava do PT”.

A conversa em sala de aula foi gravada e passou por montagem com cortes e edição de fala e imagem para construir um discurso partidário, afirma a professora. O fenômeno da fake News que ocupou grande parte dos debates em redes sociais até o momento, gerou outra situação após sua publicação por uma emissora de TV local.

“Eu estou sendo ameaçada. Fui um dia na faculdade nesta semana e não consegui voltar. Já vários áudios de pessoas de fora da universidade que estão ameaçando, dizendo que estou doutrinando os alunos. É algo que não consigo entender. Tinha boa relação com um dos alunos que acusou na reportagem [da TV]. Ele me agradecia por achar que era uma dos únicos professores que realmente se importa com os estudantes”.

“Além do cerceamento de liberdade expressão, acho que tem machismo. Um professor disse na mesma sala de aula que vota no Haddad e houve nenhuma reação contra ele”.

No dia em que reportagem falou com a professora, na quinta (18), ela disse que considerava mudar da cidade, depois de sete meses de estadia, por receio de atentado físico.

Conforme dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Jair Bolsonaro (PSL) recebeu 71,32% dos votos em Nova Mutum; e Haddad 17,95%.

Ação judicial

No dia 10 deste mês, a 5ª da Justiça Eleitoral emitiu uma ordem para a professora não utilizar o notebook em sala de aula ou para retirar o adesivo do candidato petista. A juíza Ana Helena Alves Porcel Ronkoski acatou pedido de Ministério Público Eleitoral e entendeu que há promoção indevida de candidato via propaganda.

Permanência do uso do aparelho com adesivo pode acarretar multa entre R$ 2 mil e R$ 8 mil. Como garantia da decisão, a juíza determinou que um oficial de justiça ao campus da universidade, num prazo de 48 horas, consultar se professora havia acatado a determinação.

(*Nome modificado a pedido da entrevistada)

Redação

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