A relação que as pessoas têm com a comida vem se tornando cada vez mais complexa. A clássica sensação de culpa depois de comer e a dificuldade para manter ou reduzir o peso são apenas algumas das consequências dessa conturbada relação. A nutrição leva em consideração não apenas a comida, mas todo o comportamento relacionado a ela. Por exemplo, um paciente disse-me: “Por favor, não retire meu leite da noite”, e aos poucos pude entender quão importante era esse leite, pois sua mãe lhe oferecia o leite todos os dias antes de dormir, ela tinha falecido quando ele ainda era criança e essa foi uma imagem muito significativa em sua vida. Isso é muito importante para adequarmos o plano alimentar ajudando-o em sua totalidade. Apesar da grande quantidade de informações sobre alimentos e dietas, as pessoas continuam enxergando a comida como grande inimiga. A nutrição tem como objetivo mudar essa relação, fazendo com que as pessoas sintam prazer e não culpa em comer. A pessoa passa a aprender a identificar suas emoções e a não buscar consolo nos alimentos, como acontece quando o estresse e a ansiedade tomam conta. Não é preciso cortar nada da alimentação, apenas fazer escolhas certas nos momentos certos, respeitando as necessidades e as reações do corpo. O propósito aqui é entender a relação que o paciente tem com o alimento para, a partir disso, estabelecer uma orientação que vá funcionar para ele, em que o paciente possa identificar suas principais dificuldades, as experiências e o quão preparado ele está para mudar sua relação com a comida. Ou seja, mostrar que o foco é entender as relações envolvidas no ato de se alimentar ao invés de apenas contar calorias. Mostrar quanto se come, quando, com quem, qual o sentimento, quais as dificuldades, é esse tipo de autoconhecimento que deve ser estimulado e compreendido. Afinal, estabelecer um vínculo saudável com a comida é uma excelente forma de começar a melhorar a alimentação em qualquer faixa etária. Tal melhora é sucedida por escolhas inteligentes feitas não por obrigação ou devido a dietas restritivas, e sim ao conhecer o próprio corpo e suas necessidades. Na maioria das vezes, é apenas isso que falta para essas pessoas se tornarem mais saudáveis. Cada vez mais surgem dietas ou “tendências” que colocam um ou outro alimento na posição de saudável ou não saudável. O comportamento desencadeado por essa forma de se alimentar passa a transformar a comida em vilã, já que as pessoas passam a enxergar a comida como um conjunto de calorias, conturbando a relação com o alimento. Dessa forma, o prazer de comer desaparece e dá lugar a uma geração de pessoas que esquecem que o problema não é o alimento, mas a relação que se estabelece com ele. É dessa forma que o vínculo saudável com a comida se restabelece e o prazer em comer volta a fazer parte da rotina. Afinal, a satisfação não pode ser desconsiderada num processo tão essencial e frequente como a alimentação.