Para fechar a “Trilogia do Retrato” (composta pelos livros Telefone sem fio e Bocejo), a dupla Ilan Brenman e Renato Moriconi acaba de lançar Caras animalescas, um livro que mantém o humor e a ousadia dos anteriores, apostando na inteligência e perspicácia dos leitores. A capa encara com olhar de ciclope e “crina moicana punk rock”. A sombra do rosto, em fundo vermelho, ajuda a decifrar aquela semelhança que a gente não sabe de onde vem: é o focinho de um cavalo! A pergunta da primeira dupla de páginas guia o olhar do leitor ao longo de todo o livro: “vocês já repararam que existem pessoas que se parecem com alguns animais?”. Reparar bem é essencial para ler este álbum.
Como nos demais títulos da trilogia, a leitura do todo não exclui a das partes e vice-versa. A diferença é que Caras Animalescas não é um livro-imagem como os outros dois. Neste terceiro livro, figura e fundo compõem uma imagem acompanhada de um “texto-legenda” que reforça o tom lúdico da proposta de adivinhar o animal escondido em cada personagem.
Lembrando uma brincadeira muito comum entre as crianças (“fulana tem cara de…”), o texto se repete na mesma fórmula rimada ao longo de todas as páginas. A combinação sonora no final das sílabas ajuda a antecipar o animal que combina com cada nome. Impressos com letra bastão palito, em caixa-alta, os versos parecem escritos caprichosa e discretamente à mão, com o objetivo de não ofuscar a grandiloquência das ilustrações.
Pode-se dizer que o texto afirma com rimas, apelidos e neologismos, o que a ilustração sugere em sombras, cores e tipos. Os “Srs. & Sras.” apresentados têm apelidos afáveis, como Maricota ou Ninoca, ou nomes pouco usuais como Deodata, Abelardo e Abdala. São muitas as possibilidades de estabelecer relações e cruzar referências. Nada excede e há margem para outras invenções.