Ao Circuito Mato Grosso, o jornalista Antero Paes de Barros deu a sua versão sobre uma suposta doação dada pelo empresário Marcelo Odebrecht a pedido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) para a campanha eleitoral para o cargo de senador em 2010.
De acordo com o jornal O Globo, cerca de R$ 100 mil foram doados para a campanha de Antero Paes de Barros. Os repasses foram feitos por duas empresas do Grupo Petrópolis – Leyroz de Caxias Indústria, Comércio e Logística e Praiamar Indústria Comércio e Distribuição. As empresas constam na lista de doadores da declaração eleitoral do jornalista.
“O depósito foi feito na conta oficial de campanha. Foi declarado na disputa eleitoral. Aprovado por unanimidade na Justiça Eleitoral. Tanto é que não sou investigado por isso, porque a declaração foi absolutamente legal”, apontou.
O pedido foi encontrado em e-mails trocados entre o empresário e o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso. As mensagens foram achadas pela Polícia Federal em um dos computadores pessoais de Marcel Odebrecht.
O caso, apesar de tratar de algo do ano anterior a gestão Petista, estaria anexado a um processo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, pelo recebimento de vantagens indevidas da Odebrecht, que teria recebido um terreno que serviria de sede para o Instituto Lula.
Antero negou qualquer ato ilegal das doações. “Não tinha nada ilícito na doação para a campanha minha”, apontou. Ao jornal “O Globo”, ele disse que não teve nenhum contato com ninguém da Odebrecht e comentou que o ex-presidente fala da conta da campanha. “O ilegal seria se eu tivesse recebido e escondido a doação”, afirmou o jornalista e marqueteiro político.
As informações também constam em planilhas da Odebrecht apreendidas na 23ª fase da Operação Lava Jato. Segundo o jornal, os delatores disseram que essas empresas eram usadas para fazer pagamento de caixa 2. Em vídeo divulgado pelo “Jornal Nacional”, Marcelo também confirma que costumava usar outras empresas para fazer as doações.
Antero disputou as eleições gerais pelo PSDB em 2010, mas não conseguiu se eleger no pleito daquele ano. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o jornalista recebeu 345.094 votos.
Segundo a reportagem, as trocas de mensagens entre o ex-presidente e o empresário começaram em setembro de 2010. Cardoso enviou um SOS a Marcelo. Na época, Fernando Henrique Cardoso não ocupava cargo público e era o presidente de honra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Todo o processo do pedido do ex-presidente ao empresário durou uma semana. Cardoso também aproveitou e pediu contribuições para a campanha de Flexa Ribeiro, que conseguiu se eleger ao cargo de senador pelo Estado do Pará.
Em 13 de setembro de 2010, o ex-presidente escreveu para Marcelo o seguinte:
"Caro Marcelo, recordando nossa conversa no jantar de outro dia, envio-lhe um SOS. O candidato ao Senado, Antero Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dados bancários (…)".
Pouco tempo depois, Marcelo responde:
"Presidente, estou fora até amanhã, mas até 4ª dou uma olhada e retorno. Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos".
No dia seguinte, Marcelo envia outro e-mail para Fernando Henrique:
"Já solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua disponibilidade para lhe apresentar um balanço".
Em 21 de setembro de 2010, Fernando Henrique responde a Marcelo. No título da mensagem está escrito “o de sempre”, conforme aponta o laudo da PF:
"Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso; 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito".
No dia seguinte, Marcelo responde:
"Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apoiá-lo. 0 Flexa não sei dizer, mas vou verificar".
Fernando Henrique Cardoso se defendeu por meio de sua assessoria de imprensa. O ex-presidente disse que pode ter pedido doações à Odebrecht, mas apontou que a prática foi legal à época. Além disso, ele disse que não se lembra de se deram o dinheiro aos beneficiados a seu pedido.
EMPRESAS TAMBÉM ESTÃO EM CPI DA RENÚNCIA FISCAL
As mesmas empresas que doaram os R$ 100 mil à campanha de Antero aparecem em outra lista. Com outras 158 firmas, elas são apontadas por dar um prejuízo de bilhões de reais ao Estado de Mato Grosso. O caso foi objeto de investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Renúncia e Sonegação Fiscal.
A CPI foi instalada ainda no ano de 2015. Ela investigava suspeita de fraudes por meio de algum tipo de concessão irregular de incentivo fiscal. No relatório final, a Comissão conseguiu apontar que mais de R$ 1,7 bilhões foram desviados dos cofres públicos mato-grossenses. A Assembleia Legislativa aprovou o documento em abril de 2017.