Política

Taques se omitiu na obra do Hospital Universitário, diz ex-reitora

A paulista Maria Lúcia Cavalli Neder chegou a Mato Grosso com apenas 21 anos, pouco após sua formatura no curso de Letras, em Tupã, em 1973.  Naquele hoje distante dia, há mais de quatro décadas, durante uma visitação ao centro de humanidades de uma Universidade Federal de Mato Grosso ainda em processo de instalação, foi surpreendida pelo convite do professor Gervásio Leite para ministrar aulas de língua portuguesa ao chamado ciclo básico. Não titubeou em aceitar o desafio e imediatamente ligou para os pais comunicando a decisão e solicitando que lhe enviassem uma mala com suas roupas. Três anos depois, em 1976, participava do primeiro curso de graduação instalado no interior, na cidade de Cáceres. Já de volta à capital, continuou trabalhando pela interiorização da UFMT.  Após aposentar-se da carreira acadêmica, decidiu se lançar pré-candidata ao Senado Federal pelo PCdoB. Leia os principais trechos da entrevista que ela concedeu ao Circuito Mato Grosso, onde falou sobre sua rixa com o governador Pedro Taques por causa da não-construção do Hospital Universitário Júlio Muller, suas propostas políticas, a privatização do RU e a atual greve imposta pelo movimento estudantil contra a reitoria da UFMT.

Circuito Mato Grosso – A senhora está no coro dos que se decepcionaram com o governador Pedro Taques?

Maria Lúcia Cavalli Neder – Com o projeto de desenvolvimento proposto para Mato Grosso e não cumprido? Sim. Nós assistimos a todas as proposições, vimos uma construção de uma frente muito ampla na busca de um processo de desenvolvimento bastante forte para Mato Grosso, com a questão da inclusão social, dos programas sociais, luta contra a corrupção (a bandeira prioritária do governo). Entretanto, foi uma decepção ver que o projeto nunca se concretizou em propostas prioritárias e vimos, na questão da corrupção, as mesmas práticas que antes eram criticadas.

CMT – O conhece há quanto tempo? Tem uma relação pessoal com ele?

M.L.C.N. – Conheço porque estive na universidade durante oito anos como reitora, e como é uma instituição importante para o processo de desenvolvimento de Mato Grosso, sempre tive uma atuação muito propositiva em relação a todas as instituições que concorrem para esse processo de desenvolvimento. Nesse sentido, sempre estive presente, junto ao governador, inclusive ajudando naquilo que foi possível e necessário quando houve solicitação. Além disso, tínhamos projetos em comum, entre eles a construção do hospital universitário. Uma proposição de construção com responsabilidade do Estado, mas com financiamento meio a meio do governo federal via universidade. Também cedemos uma parte da UFMT para a construção do COT, pensando em ter ali uma praça de esportes profissionalizada para Mato Grosso, mas essas duas ações não se concretizaram. O que faz com que a gente também faça a crítica, porque não houve esforço do governo para que pudéssemos ter êxito nessas proposições.

CMT – A senhora é professora há quanto tempo?

M.L.C.N. – Há 45 anos na UFMT, mais cinco, porque comecei a dar aula naqueles cursos de admissão, como se falava antigamente. Tenho 66 anos, com 50 de magistério, mas me considero profissional da educação a partir do momento em que entro na universidade com políticas de inclusão, democratização e sobretudo de interiorização, que foi o caminho percorrido nesse tempo todo.

CMT – Quem a senhora vai apoiar para o governo do Estado?

M.L.C.N. – Estamos numa frente ampla de vários partidos. Para governar um estado é preciso que a gente tenha uma conjunção de forças, e estamos nessa luta neste momento com o senador Wellington (Fagundes). Como venho do PCdoB, trazemos para a aliança toda essa vivência que nós temos na educação e na área social. É a contribuição para a construção de um projeto de desenvolvimento econômico, mas sobretudo desenvolvimento social, e na busca de uma inclusão social mais ampla.

CMT – Ainda faz sentido ser de um partido comunista nos dias que correm?

M.L.C.N. – Sou de um partido que traz consigo aqueles princípios que defendi durante toda a minha vida de educadora e como pessoa. Um deles é a questão da democracia, um bem inquestionável, irrevogável pra gente. Soberania nacional, inclusão social, valorização do trabalho, distribuição de renda e diminuição das limitações regionais e culturais, trabalhar mais para diminuição de toda desigualdade social. São princípios e bandeiras que sustentam não só o discurso, mas nossas ações.

CMT – No caso de a candidata do PCdoB, Manuela D’Ávila, não chegar ao segundo turno, pretende seguir ideologia ou o pragmatismo do partido, que mantém aliança até com o DEM nos municípios e estados?

M.L.C.N. – Eu acho que é preciso fazer uma análise de conjuntura primeiro. Não é tão simples ir pela ideologia ou pelo pragmatismo. Tem de se perguntar neste momento, nestas circunstâncias, neste contexto político e histórico: qual a melhor ação para contribuir para o desenvolvimento? Claro que a ideologia é importante, porque se não tem princípios e diretrizes de luta, não tem sentido inclusive sua vida, é preciso que ela esteja presente, inclusive para que se paute em todos os espaços em que estiver; se for numa coligação, tem que respeitar todo o posicionamento ideológico que nós temos, senão não podemos fazer aliança. Espero que haja essa democracia no processo. Mas é óbvio que às vezes você pensa que é melhor, entre ter alguém que lute pela inclusão social, democratização da educação, democracia, e um outro que é entreguista, que não se preocupa com a desigualdade, que se preocupa apenas com o enriquecimento pessoal, particular, nessa hora é necessário ocupar os espaços.

CMT – Por que a senhora, cujo partido defende bandeiras de universalização pública, deu aval para a exploração privada do Restaurante Universitário da UFMT?

M.L.C.N. – São duas coisas diferentes e posso analisá-las separadamente. Somos a favor do ensino público, gratuito e de qualidade, mas isso não implica que somos contra instituições privadas. O governo federal tem obrigação de ofertar o ensino público sobretudo para os estudantes de baixa renda, e houve um esforço muito grande, principalmente na minha gestão, com a questão das cotas, que aprovamos antes mesmo da lei federal; a questão da lei do Sisu, porque compreendemos que o estudante de qualquer lugar de Mato Grosso, de baixa renda, teria dificuldade de chegar aqui pagando ônibus, pensão, alimentação etc, pra fazer o vestibular. Implantamos uma ampliação de cursos como nunca na universidade, porque tínhamos 77 cursos e fomos pra 106 na graduação, tínhamos 17 de pós-graduação e fomos pra 62 quando eu saí. Tivemos um crescimento, alunos indígenas, quilombolas, trazendo inclusão social pra dentro da universidade. Um investimento triplicado, de R$ 300 milhões para quase R$ 700 milhões na minha saída, mas o mais importante: contratamos 600 novos professores, 500 novos técnicos e todos os índices de qualidade da UFMT avançaram sensivelmente, éramos 67º lugar no ranking nacional, quando entreguei a UFMT, dois anos atrás, estávamos em 33º, um crescimento de qualidade muito importante. Criamos dois novos de medicina (em Sinop e Rondonópolis), por entendermos a importância desses cursos tanto pra região norte quanto a região sul.

[Interrompendo] CMT – Não era mais barato manter a própria UFMT fazendo a comida?

M.L.C.N. – Se você permitir, posso explicar. Foi criado no governo Lula um plano nacional de assistência estudantil chamado Pnas. Dentro desse plano havia a previsão de acolher os alunos de baixa renda, dar a eles a segurança de concluir o ensino, porque muitas vezes entra na universidade, mas não tem condições de se manter, porque não tem casa, não tem alimentação gratuita etc., o investimento no restaurante universitário faz parte dessa política de assegurar ao estudante meios de ele se manter aqui, pela alimentação. Criamos também, na ocasião, a bolsa moradia, para que o estudante que comprovasse baixa renda familiar pudesse, junto com outros estudantes, alugar espaços, pagar pensão etc. Foi uma política estudantil que reforcei na minha gestão. Infelizmente, com o golpe do impeachment da presidenta Dilma, todo o investimento nesse crescimento fantástico nas federais teve uma retração muito grande. O que vai se refletir na questão do RU. Mas não vou entrar particularmente nessa questão do restaurante por uma questão ética, não sou a reitora, não tenho acompanhado a discussão, mas se tem um culpado pela crise chama-se governo Temer, que reduziu drasticamente o investimento, principalmente na assistência estudantil, o que faz com que qualquer reitor tenha que rever, às vezes, suas políticas pra se adequar àquilo que tem em orçamento. Mas há que se lembrar sempre que na educação a gente não fala em gasto, fala em investimento.

CMT – Por que uma empresa privada para gerir o restaurante?

M.L.C.N. – Porque o governo há muito tempo extinguiu cargos na universidade, entre eles os diretamente ligados à cozinha, como o açougueiro, a merendeira, a cozinheira. Esses cargos não existem mais na universidade, ou você terceiriza com uma empresa que põe os servidores lá dentro ou terceiriza com uma empresa que já entrega a refeição pronta. Em relação aos custos, você faz esse balanço e, pra nós, naquele momento, era mais importante ter uma empresa. E aí abrimos uma licitação. Pra nós não interessam os meios, no meu pragmatismo de apoio ao estudante não interessa quem faz a comida, interessa que a comida esteja disponível a um preço acessível, que se garanta a permanência dele na universidade, e a UFMT sempre trabalha de forma inequívoca, com transparência, dentro dos seus processos licitatórios; não foi privatizada, já era privatizada. Há um equívoco quando alguém fala isso, porque quem fazia a comida era uma empresa terceirizada, só que com funcionários lá dentro e a UFMT comprava os insumos, o que era dispendioso e exigia de outra parte uma equipe muito forte na administração. Gastava pra quem fazia a comida e gastava pra quem garante toda a compra, um processo diário, permanente, trabalhoso e que precisa de muita gente. Nesse sentido, uma empresa que forneça com a qualidade que nós fornecemos, com equipe de nutricionistas, tudo balanceado, pra garantir alimentação necessária pra um ser humano diariamente, com café da manhã (que fui eu quem criou, antes não existia), almoço e jantar pra quase três mil pessoas. Outra coisa, quando eu entrei, tínhamos só um [RU], quando fui reitora, construímos mais quatro, então, todos os campus universitários têm restaurante hoje, porque entendemos que é um modo de garantir alimentação e permanência do estudante, sobretudo o de baixa renda, porque estudante que não tem problema de renda familiar não precisa do restaurante universitário, quem precisa do restaurante é o aluno de baixa renda.

CMT – O que travou tanto a construção do novo Hospital Universitário Júlio Muller?

M.L.C.N. – No convênio estabelecido foi firmado que o governo do Estado tocaria a obra, desde a licitação, acompanhamento e avaliação. A UF apenas acompanharia o processo. Infelizmente houve um problema com a primeira licitação: eram empresas do sul, um consórcio de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Ele não deu conta, não sei por que, se não tinham capital ou expertise ou não sei o que não tinha. Era pra trabalhar com 250 homens na obra, mas trabalhavam com 60, 70, e isso inviabilizava o término. Então o governo do Estado, com aceite da UFMT, rescindiu o contrato. De lá para cá, o governador Pedro Taques assumiu a responsabilidade. E aí eu falo o Estado de Mato Grosso na figura do governador, que tem que assumir a responsabilidade de um convênio acordado entre as instituições.

CMT – Quando foi isso?

M.L.C.N. – Assim que ele ganhou a eleição, ele era senador, fui a Brasília e ele me garantiu que faria todo o esforço pra terminar essa obra, passaram vários secretários na Secid, insistíamos permanentemente, trouxemos especialistas para trabalhar uma nova licitação, inclusive no regime diferenciado, em cálculo… Apesar de todo esse esforço, o governo não tocou a nova licitação dizendo que há problemas no projeto. Como há problemas se o próprio governo contratou uma empresa e começou a obra? Se havia problema, tinha que ser detectado lá.

CMT – Nenhum problema ficou demonstrado então?

M.L.C.N. – Há dois laudos no projeto, um do TCU [Tribunal de Contas da União] dizendo que a obra e o projeto estão ok e elogiando o projeto, outro laudo é do MEC direcionado só para a questão dos HU dizendo que estava tudo ok e que o projeto podia ser implementado. A outra desculpa é alagamento no terreno. Nada que uma drenagem bem feita não resolva. É mais uma necessidade de vontade política do governo que precisa ter compromisso com a saúde pública do Estado de Mato Grosso. Se esse hospital ficar pronto, todo ano a universidade vai gastar de R$ 100 a R$ 150 milhões de custeio, olha o ganho que o governo teria? E a população tendo ganho de atendimento de alta qualidade? Só digo o seguinte: a responsabilidade da construção é do governo do Estado, o dinheiro da universidade está depositado desde 2013.

CMT – O Fies sempre foi vendido como meio de fazer chegar pobres à universidade, mas o valor das mensalidades mais do que quintuplicou a partir da implantação dele, ao mesmo tempo em que os mais ricos passaram a frequentar majoritariamente as instituições públicas. De outra feita, também há muito mais pobres nas particulares hoje em dia. Por quê?

M.L.C.N. – Pode parecer uma contradição investir no financiamento público para as instituições privadas, mas o que se tem é uma política pública de inclusão dos jovens, e aí é preciso mostrar o seguinte: hoje 84% dos jovens do ensino médio não chegam à universidade. Pode parecer que apesar desse crescimento bastante forte das federais, ainda não foi o suficiente para alcançarmos a taxa que lutamos no plano nacional de educação, de 30%. Argentina e Chile estão nessa taxa há muito tempo. O Brasil, com todo esse crescimento, ainda não é capaz de abarcar o número de jovens que precisa chegar à universidade. Nos próximos dez anos, temos que ter um crescimento de no mínimo de 12% ano ano. Precisamos continuar investindo e só se faz isso financiando. Logo, ProUni e Fies são, sim, muito importantes.

CMT – Por que, então, especialistas como Tiago Ring, da Kapitalo Investimentos, contratada pelo grupo Kroton (o que mais cresceu nos anos do PT no poder), dizem que o Fies inflacionou o mercado do ensino universitário, fazendo triplicar o valor das mensalidades só no período estudado?

M.L.C.N. – Há empresas privadas que são sérias realmente e não visam somente o lucro, mas visam o progresso social que uma educação bem feita traz, e são muito importantes. Mas é preciso uma política de controle e acompanhamento maior na abertura desses cursos. Agora, é preciso estimular o aluno a chegar à universidade, não podemos continuar com essas taxas baixíssimas se quisermos ser um país de futuro. Agora, se não quisermos, se quisermos continuar sendo uma colônia, como sempre fomos…

CMT – Como senadora, de que modo fará para melhorar as perspectivas da educação nos próximos oito anos?

M.L.C.N. – Primeiro, descongelar os gastos da educação e da saúde. Bens públicos, direitos do cidadão e que o país não pode aceitar manter assim. É preciso fazer uma revogação com consulta popular, e precisamos trabalhar nesse sentido. Embora tenhamos quase que a universalização do ensino fundamental no Brasil, temos um déficit muito forte na educação infantil, prioritária para a questão da qualidade da educação. Está comprovado que 50% das crianças até o terceiro ano não aprendem a ler e a escrever. É um problema sério que o Brasil tem que enfrentar, porque estamos formando uma legião de analfabetos funcionais que passaram pela escola, mas não têm capacidade mínima de elaborar um texto ou ler um texto. É preciso investimento não só na infraestrutura, mas num sistema que ainda não está implantado, em que o município tem suas responsabilidades com as séries iniciais, o Estado, com a educação do ensino médio e fundamental, da quinta à nona série; precisamos fazer com que esse sistema funcione, com investimento de todos os poderes, mas o governo federal tem de investir fortemente, porque os municípios não dão conta. Professores sem a formação necessária, alguns até sem ensino superior ou médio, enquanto a legislação cobra isso há dez anos no plano de metas da educação… e estamos longe de cumprir, é preciso um investimento muito grande na infraestrutura e educação.

CMT – Qual é a relação da senhora com empresários do agronegócio, como Blairo Maggi, Carlos Fávaro e o próprio Wellington Fagundes?

M.L.C.N. – Olha, tenho excelentes relações, primeiro porque quando fui reitora eles eram senador ou deputado e sempre tive diálogo muito franco, principalmente em questões afeitas à universidade, mas também entendo o agronegócio como algo importantíssimo para Mato Grosso, porque estamos aí como um dos 10 maiores distribuidores para o PIB, nosso crescimento é maior que a taxa chinesa, 13% em 2017, e essa cadeia produtiva é importante não só na questão das commodities, mas há questões como o imposto, infraestrutura e logística, porque podemos agregar valor, mas é preciso que o governo federal ajude, sobretudo com obras e a questão que hoje está evidente na logística: temos apenas um modal comandando toda a economia brasileira. É preciso que tenhamos essa preocupação, não é possível que um país com a navegabilidade que tem faça tudo por rodovia. Há também o transporte ferroviário. É um meio de fazer escoamento. E também há a questão da indústria, da robótica, da inteligência, e ainda não temos a via terciária implantada no Estado. Não dá também para passar por cima da questão da reforma agrária. Se 70% da comida do brasileiro vêm do pequeno agricultor, é preciso assentar as famílias em áreas produtivas, isentas de agrotóxicos. E isso não é coisa de comunista, é coisa de capitalista, pois precisa-se se desenvolver como um todo, inclusive para que o grande produtor possa sobreviver, como ele já vem sobrevivendo.

CMT – Há questões a serem enfrentadas, como PIB alto dos produtores e ínfimo em per capita à população geral; rebanhos e produção gigantes, mas péssima distribuição de renda. Isso tudo não vai contra a ideologia do PCdoB?

M.L.C.N. – Eu tenho coragem para enfrentar essa discussão, obviamente compreendendo a importância do agronegócio. O PCdoB é a favor da produção, é contra o rentismo. É preciso investir, melhorar, precisa-se de infraestrutura e logística, mas também sabemos que é preciso investir na agricultura familiar, fazer a reforma agrária e diminuir essas contradições que nos são impostas. Outra questão que vamos enfrentar é a volta da pobreza extrema no Brasil. E vamos enfrentar logo.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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