Circuito Entrevista

‘Ser governadora redimiria erros do meu pai’

Única mulher eleita para a 18ª legislatura, Janaina Riva (PMDB), 28 anos, foi também a segunda parlamentar mais votada do estado, com 48.171 votos, além de a mais jovem eleita nesse pleito. Mãe de dois filhos (Sophia e José), Janaina nasceu no dia 27 de janeiro de 1989 no município de Juara e mudou-se com a família aos 6 anos de idade para Cuiabá, quando o pai, José Geraldo Riva, venceu a primeira eleição para deputado estadual. Na capital, completou os ensinos fundamental e médio. A paixão por Juara fez com que aos 16 anos ela voltasse à sua terra natal, onde permaneceu por mais dois anos. Por conta da ausência de uma instituição de ensino superior na cidade, Janaina novamente retornou a Cuiabá para fazer faculdade de direito, curso no qual se formou em 2011. Política nata, começou cedo sua atuação e desde adolescente participava das juventudes e militâncias partidárias. Sua primeira atuação foi na Juventude 45 Graus, do PSDB, idealizada por Dante de Oliveira, quando ainda nem votava. Posteriormente passou pelo PTB e pelo PP, quando assumiu e coordenou a juventude da campanha a prefeito do então deputado Walter Rabelo. É opositora do governo Pedro Taques (PSDB) e sempre divulga em suas redes sociais diversas críticas e denúncias de irregularidade. Janaina abriu as portas do seu gabinete e contou ao Circuito Mato Grosso um pouco do descontentamento com a atual gestão. Confira a conversa na íntegra.

Circuito Mato Grosso: Qual o tamanho de sua decepção com o governo Pedro Taques?

Janaina Riva: Essa decepção com a gestão Taques é tanto como cidadã eleitora mato-grossense quanto como parlamentar. Não é uma exclusividade minha. Talvez, hoje, metade da população (não sei quantos por cento daqueles que votaram nele) se sente decepcionada com a forma dele fazer gestão, com a forma do Pedro Taques administrar.

CMT: A senhora também foi uma das pessoas que acreditavam nele?

J.R.: Eu, quando cheguei à Assembleia, não fui diferente. Depositei a mesma fé e crença, pela postura dele, por saber que se trava de um homem inteligente, um homem extremamente culto, um constitucionalista, uma pessoa que vendia muito bem a transparência, pregava o combate à corrupção de forma muito incisiva. Então, eu considerava também que fosse ser um governo revelação para o Estado, que fosse um choque de gestão, um modelo. Porém, a forma dele administrar, o desrespeito com o parlamento, a dificuldade que ele tem de ouvir as pessoas, a dificuldade de debater com tranquilidade, de acatar boas ideias, de ignorar, talvez, alguns comentários que possam não agregar à gestão, fez com que Taques passasse a ser uma figura rejeitada dentro da Casa, não apenas por mim, mas por outros parlamentares. Alguns que fazem até parte da base dele, mas que têm essa insatisfação quanto ao trato com os deputados.

CMT: No âmbito pessoal, a senhora também é contra o governador?

J.R.: No âmbito pessoal, isso já não existe, nunca existiu, na verdade. Ao contrário, acho o Pedro Taques cidadão um homem inteligente, muito perspicaz, um homem… não é à toa que virou governador do Estado, então não pode ser subestimado de forma alguma. Mas, como gestor, eu acho que ele não tem esses requisitos que são essenciais, que é saber dialogar, saber debater, você ter facilidade de transitar, acho que isso é uma coisa que para o Pedro é o oposto dele, acho que isso é a maior dificuldade, mas pessoal e particularmente eu não tenho nada contra. 

CMT: Pedro Taques foi se tornando um outro personagem desde a época das eleições, segundo Zeca Viana.  A senhora também acredita que antes o governador era uma pessoa e depois que assumiu o poder se transformou em outra?

J.R.: Eu nunca tive uma visão diferente do Pedro Taques quando se fala em arrogância, prepotência. Isso eu sempre via, mesmo de longe. O que me assusta ainda mais é ver pessoas que eram tão próximas a ele, como é o caso do próprio Zeca Viana, do Alan Malouf, Otaviano Pivetta, Mauro Mendes, serem pessoas que têm uma restrição total ao nome Pedro Taques. E chegaram até a assinar um manifesto contra ele, inclusive o vice-governador. Então, são pessoas que tinham uma proximidade muito maior com ele, por isso, eles podem falar desse perfil pessoal, desse que eles conhecem e talvez eu não, de ter sido uma pessoa durante a eleição e de hoje ser outra. O que eu tinha era uma esperança, uma expectativa de que ele seria um bom administrador, eles não: pensavam e tinham convicção porque diziam conhecer a pessoa do Pedro Taques e depois viram que não era o mesmo. Quando ele perde o Pivetta, que seria seu coordenador, foi seu coordenador-geral e o Pivetta encerra na transição, você já vê que ele não era aquele produto que ele vendia ser.

CMT: Como a senhora avalia a atual gestão?

J.R.: Não dá para falar que o governo foi feito apenas por erros, mas que foi um governo marcado por erros. Mas sem dúvida teve alguns acertos e alguns avanços. Eu colocaria aí algumas pessoas e alguns cargos que foram preenchidos por técnicos e que fizeram, sem dúvida, algumas transformações para melhor dentro do nosso Estado, através de leis e comportamentos. Então, acho que algumas coisas tiveram avanço sim, não foram apenas erros. Os avanços, nós podemos colocar, foram no sentido de ter uma visão de planejamento de Mato Grosso, não falando para o futuro, mas você passar a ter acesso à situação real do Estado. A gestão do Pedro trouxe isso, hoje nós temos mais noção de números, de como está a situação de Mato Grosso. Talvez ele peque no planejamento e isso é um fato desfavorável à sua gestão. Há três anos estamos falando que tem crise, que ele identificou. E aí os secretários identificaram a crise, mas não foram capazes de conseguir fazer um planejamento para que nós saíssemos dela. O Pedro é muito centralizador, isso dificulta muito, então, acho que na gestão existiram pessoas ali que queriam fazer a diferença, mas não conseguiram fazer. Foram colocadas as pessoas certas, mas elas não tiveram oportunidade de fazer o que almejavam, tanto é que a maioria saiu.

CMT: Quais foram essas pessoas do governo que tiveram intenções positivas e não conseguiram fazer e saíram?

J.R.: Vamos citar aí o Mauro Zaque, que foi um bom exemplo: fez uma boa revolução na segurança, mas quando ele tentou avançar para o Detran, se deparou com aquela questão do escândalo da instituição e não conseguiu fazer a revolução que queria fazer. Fabio Galindo foi um bom secretário de Segurança. Parece que o Pedro Taques, enquanto governador, nunca gostou das pessoas que se sobressaíam dentro da sua gestão, ele sempre fez questão de ser o centro das atenções e acho que este seja um dos seus maiores defeitos, de não ter delegado mais, de não ter deixado que seus secretários pudessem agir.

CMT: Quais foram os maiores erros de Pedro Taques?

J.R.: O Pedro errou muito no trato com os servidores públicos, ele não soube fazer o diálogo necessário, não soube conversar. Talvez este seja um dos maiores erros dele, o mais fatal. Além disso, também o de não ouvir os políticos experientes, até porque essas pessoas são capazes de dizer como você pode acertar e como você pode não errar melhor do que os novatos, isso é óbvio, até mesmo pelo conhecimento que eles têm. De tudo, o principal erro foi, sem dúvida, o diálogo. Mais do que a corrupção, mais do que a falta de gestão, isso é o desdobramento de você não ouvir que já passou por isso, quem já esteve lá, de você não conversar, não dialogar. Taques ficou tanto no revanchismo, denuncismo, que acabou esquecendo de administrar.

CMT: Sobre os esquemas de grampos em Mato Grosso, quem a senhora acredita que tenha sido o grande mentor?

J.R.: Eu afirmo com toda certeza que foi ele, Pedro Taques, o grande mentor dos grampos, como eu tenho certeza que sou mãe do José e da Sophia, e ele nunca fez nada com relação a isso. Por exemplo, se ele tivesse uma ideia de que estou manchando ele falando isso, poderia muito bem me acionar na justiça. Mas é nítido, claro, óbvio, que foi ele quem fez isso. Um governador que se dá ao trabalho de fazer isso, com tanto problema que tem em Mato Grosso, mostra o quanto é pequeno, perto do que ele poderia ter sido.

CMT: Taques afirma que os problemas de sua gestão são porque os governadores anteriores a ele não fizeram. Isso se justifica?

J.R.: Não, claro que não se justifica. Eu tenho certeza que atrapalha, sim. É claro que tudo aquilo que foi feito de errado prejudica. Porém isso não atrapalhou apenas ele, atrapalhou todos os governadores que passaram, mas nem por isso passaram todo o mandato colocando a culpa no passado e esquecendo de fazer um plano para o futuro. Um governo que triplica, quadruplica renúncia fiscal não pode ficar colocando a culpa nos gestores que passaram. Um governo que tem dificuldade em sentar com os hospitais filantrópicos, que enfrenta greve, como Pedro Taques enfrentou, não é apenas culpa do passado, é muito mais culpa dele do que de qualquer outra pessoa. Quem coloca seu nome à disposição do Executivo tem que saber que toda responsabilidade daquilo que foi feito, daquilo que ele fizer, daquilo que seus assessorados e secretariados fizerem, vai recair sobre ele. Talvez o Pedro, quando se colocou como candidato a governador, era muito mais senador e não sabia a responsabilidade que ele estava assumindo. Quando ele passa a falar que é culpa do passado, se o Silval também assumiu um governo que já tinha indícios de escândalos e corrupção na gestão de Blairo Maggi e não foi diferente com o próprio Maggi. Ele também assumiu um governo em que existiam indícios de corrupção no governo anterior. Ou seja, a corrupção no nosso país é cultural e histórica, nenhum dos governadores que assumiram Mato Grosso assumiu sem ter escândalo de corrupção.

CMT: Faltou recurso financeiro nos cofres?

J.R.: Depois de quatro anos, o Estado duplicou a sua arrecadação, Mato Grosso vai fechar a gestão do Pedro Taques tendo duplicado aquilo que ele pegou do Silval. Eram R$ 14 bilhões quando ele deixou o governo e Taques vai fechar em uma média de R$ 28 bilhões de arrecadação. Não tem como você falar que um Estado deste é inviabilizado. O que faltou foi gestão, reforma administrativa, reforma tributária, então a responsabilidade muito maior foi dele.

CMT: Por que Pedro Taques era tido como a pessoa com mais credibilidade para assumir o Poder Executivo?

J.R.: Ninguém assumiu o Estado com tanta moral como Pedro Taques, ele era idolatrado, era uma pessoa aplaudida de pé, ele tinha aquela credibilidade para pegar os deputados, pegar todo mundo que ele mesmo fala que era corrupto, que tinha se corrompido, e ter moralizado, ele era o único que tinha condição de fazer isso. Os outros eram políticos de carreira, o Blairo Maggi, quando assumiu, não tinha o apoio da Assembleia, diferente de Taques.  Agora, o Pedro assume com a maioria dos parlamentares junto com ele, Pedro assume fazendo a mesa diretora que o Blairo não conseguiu fazer, ele assume com o poder do povo e com cheque em branco que ele podia preencher. Então, por isso, ele é muito penalizado hoje, porque ele é o único que tinha condições de fazer e não fez. Era o momento do Pedro Taques, ele era a estrela de Mato Grosso e foi se ofuscando e se apagando.

CMT: Quais seriam os candidatos que a senhora acredita que podem assumir o governo e mudar essa realidade problemática?

J.R.: Primeiro, eu acho muito importante a renovação do Executivo. Reeleição é uma coisa com que eu tenho dificuldade. Não apenas eu, mas todos aqueles que já passaram e presenciaram a reeleição já viram o quanto isso não beneficia em nada o município e o governo do Estado. Eu acho que novidade é sempre boa, mas seria prepotência minha colocar um ideal para Mato Grosso, é uma discussão ampla. Porém, como mato-grossense, desejaria um governo que trouxesse paz para o Estado. Paz econômica, política, e o mais importante: viver em um Estado sem essas frequentes denúncias de escândalos. A gente viveu isso com Silval e continuamos com Pedro Taques, precisamos mudar isso para uma pauta positiva.

CMT: A deputada tem o desejo de ser governadora um dia?

J.R.: Tenho, mas tenho este desejo e sempre falo isso, para todas as pessoas. Eu tenho este desejo, mas não tenho este desejo se for para passar pelo que o Pedro Taques está passando. Eu quero chegar em um momento preparada, em que tenha muito mais bagagem. Eu tenho vontade de ser governadora se eu tiver governabilidade, seu tiver credibilidade e conseguir chegar a ter uma Assembleia do meu lado, não pelo que estou dando, mas pela confiança naquilo que vou fazer. Então, se for para ser governadora, não quero passar vergonha como Pedro Taques está passando, eu quero ser uma governadora para ficar, como Dante de Oliveira ficou, uma figura da qual as pessoas têm uma boa lembrança.

CMT: Seria uma forma de redimir seu pai?

J.R.: Eu sempre falo que eu quero se governadora para redimir aquilo que meu pai viveu dentro do Estado, aquela cultura de corrupção que muitos atribuem a mim até hoje. Eu ainda pago o pato pelo sobrenome, as pessoas ainda vinculam tudo isso a mim. Então, acho que eu teria uma oportunidade muito grande de fazer um trabalho diferente, de mostrar que posso ser diferente. Eu seria capaz de fazer um governo ouvindo as pessoas, com um secretariado experiente, sendo capaz de admitir onde eu peco, onde eu preciso melhorar. Então, eu tenho sim o sonho de ser governadora, mas quando estiver preparada para ser. Você ser Executivo é uma construção.

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