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Justiça no Brasil não é mais de prostitutas, pobres e pretos, diz Janot em Cuiabá

Após um ano exato da delação com os executivos da JBS, o procurador Rodrigo Janot esteve em Cuiabá para falar sobre como combater a corrupção em sua palestra na noite desta quinta-feira (17). O conteúdo, que revelou um esquema de lavagem de dinheiro, propina e corrupção entre agentes públicos, políticos e empresários, serve de base para as principais acusações de figuras chaves do poder econômico e politico nacional. Por este motivo, ele foi um dos convidados para falar no 1º Encontro Mato-Grossense de Estudantes e Profissionais das Áreas de Direito, Administração, Contabilidade, Economia e Marketing (Ecomep).

Rodrigo Janot foi procurador-geral da República entre 2013 e 2017. Saiu em setembro do ano passado para dar lugar a Raquel Dodge. O procurador, que já chegou a apresentar duas denúncias contra o presidente Michel Temer no Supremo Tribunal Federal, falou como a corrupção é velha no país e o quanto “uma sociedade corrupta fede”.

Inclusive, o procurador chegou recentemente ao Brasil. Ele esteve por cinco meses em Bogotá, Colômbia. Professor visitante na Universidade de Los Andes, ele ministrava o curso de extensão “Técnicas Relevantes de Investigação de Crimes de Corrupção” para acadêmicos colombianos do curso de direito. Em sua última semana de licença, ele contou que voltará a procuradoria na próxima segunda (21).

Como se fosse uma aula, Janot explicou o que é corrupção e como ela opera no país. A partir daí, o procurador exemplificou como a Lava Jato se tornou uma mudança nas investigações. Outra figura importante do caso palestrou também no evento. O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da operação em Curitiba (PR), discorreu sobre corrupção e ética na noite desta terça-feira (15). Ele disse que era importante ir além do caso para combater a corrupção no país.

Este além estaria na sociedade em encontrar formas de diminuir a corrupção e a impunidade, acredita Dellagnol. Assim como o procurador curitibano, Janot acredita que a Lava Jato sozinha não é capaz de mudar o país. "A solução para o Brasil é a mudança do sistema político. E é mudando o sistema político que você então vai autorizar a mudança de todos os outros sistemas", disse.

Questionado se é possível o ministro Blairo Maggi ir para a cadeia, mesmo na condição de ministro e senador licenciado, Janot preferiu não comentar o caso. Relacionado ao caso da Operação Ararath, Maggi foi denunciado por corrupção ativa no caso de venda de cadeiras no Tribunal de Contas (TCE) do Estado de Mato Grosso. O Supremo ainda não aceitou a peça da atual procuradora. Por estar recentemente no país, ele ainda não leu o documento apresentado pela colega.

“Agora o que eu posso dizer, é que eu confio no sistema de Justiça. E as vítimas, circunstâncias e os últimos exemplos que a gente está tendo aí, é que a justiça no Brasil não é mais a Justiça de três p's – prostitutas, pobres e pretos. É uma justiça que passou a ser republicana. E a Justiça tem que aplicar igualmente essas leis para todos. Cumpriu tem que pagar”, comentou.

Mesmo sendo criticado por acusados e setores da população por beneficiar políticos investigados, ele defendeu também a colaboração premiada com políticos e empresários. Janot disse que os investigadores pesam o custo e o benefício de se fazer um acordo de delação. “O que é melhor para o estado? Deixar que essa estrutura criminosa continue operando? Ou premiar uma pessoa que me permita pegar toda essa organização e desmantela-la?”, questionou.

Ele avalia que a delação é “um poderoso instrumento para desarticular organizações criminosas que se apoderam de poder político e de poder econômico”.

“A gente tem que saber o que a gente quer. Para que eu consiga que um integrante dessa organização me revele à estrutura, chefes, distribuição do trabalho, crimes praticados e a forma de praticar esses crimes, eu tenho que dar alguma coisa para ele em troca. Ele tá revelando uma estrutura criminosa”, apontou.

Por fim, Janot disse que entende a crítica dos investigados e réus que são acusados pelos promotores e procuradores dos Ministérios Públicos do país.

“Eu vejo isso até com certa naturalidade. Quando a gente enfrenta criminosos e imputa ele fatos e provas e, se essas pessoas se escondem atrás de mandatos políticos, a reação das pessoas é sempre isso. Estou sendo perseguido. É a criminalização da política. Mas o que ele não esclarece que ele é um criminoso que abocanhou um pedaço da política para disso se beneficiar e para se esconder da punição pelos atos que praticam”, disse.

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Redação

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