Jurídico

Silvio afirma que dinheiro era de propina e que Emanuel sabia disso

“Não era dinheiro de pesquisa, era dinheiro de propina”, essa foi à resposta dada pelo ex-chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa, Sílvio Corrêa durante o depoimento prestado para os vereadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Paletó que investiga o recebimento de dinheiro por parte do atual prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB).

O ex-assessor foi o responsável por colocar a câmera e ajustar o enquadramento, que mostra políticos recebendo dinheiro, supostamente de propina, durante o governo de Silval. As imagens foram divulgadas pelo Jornal Nacional em agosto de 2017 e fazem parte do acordo de colaboração premiada firmado com Sílvio.

De acordo com a delação de Silvio, as gravações foram feitas devido à pressão que a Assembleia exercia sobre o governo. Como exemplo, afirma que mensagens do Executivo não eram votadas sem a liberação do mensalinho de R$ 50 mil.

Em uma declaração pública, o servidor da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Valdecir Cardoso de Almeida, negou as acusações feitas de que Emanuel Pinheiro teria recebido dinheiro de propina. No documento, Valdecir diz que o atual prefeito estaria recebendo o dinheiro que quitaria uma dívida do ex-governador com o irmão do prefeito, o empresário Marco Polo de Freitas Pinheiro, conhecido como Popó.

O mesmo teria uma empresa de pesquisas, chamado Instituto Mark e teria na época (2014), realizado várias pesquisas no Estado e na Capital para o ex-chefe de gabinete, Silvio Corrêa. “Diversas vezes o Popó falou comigo sobre pagamentos das mesmas que estavam atrasados, querendo que eu intercedesse junto ao Silvio, para que os pagamentos fossem quitado. Como eu ficava com o telefone do Silvio, recebi várias ligações do Popó, e passei todos os recados para o mesmo [Silvio], o qual me disse em oportunidade que já estaria resolvendo com o então deputado Emanuel”.

Silvio disse que desconhece o motivo de Valdísio fazer uma declaração em cartório contra as declarações feitas sobre o dinheiro recebido ser de propina. “Eu afirmo e reafirmo que o dinheiro que foi passado ao Emanuel era propina que veio de retorno do MT Integrado em 2013. Para o irmão dele foi em 2014. Os cheques que passei, ele entregou para outra pessoa cujo nome tenho que levantar para passar corretamente a vocês”, disse.

Questionado pelos vereadores, nesta sexta-feira (16), Silvio Corrêa disse que o dinheiro recebido por Emanuel era sim de propina. Ele confronta a versão de Valdecir, dizendo que as supostas pesquisas realizadas pelo Instituto teriam sido feitas em 2014 e as gravações em 2013. “A única coisa que eu posso afirmar é que o dinheiro que o prefeito recebeu é propina. Era o mensal do Emanuel. Não tem vídeo fora do contexto. Aquelas pessoas que estavam ali [nos vídeos] foram buscar a parcela da propina deles”.

Segundo o ex-chefe de gabinete, o Governo do Estado passou a relação de nomes e nela constava o nome do prefeito Emanuel Pinheiro. “Existe umas anotações, algumas planilhas que mostram quem e quanto recebia de propina. Servia como controle de quem recebeu os valores. Os deputados tinha um acordo com o ex-governador a respeito do MT Integrado. Eu fui incumbido de passar os valores para os deputados, através da Secretaria de Assistência que geria o MT Integrado. As empresas davam ao governo, que passava para mim e eu repassava aos deputados”, contou Silvio.

CPI do Paletó (Foto: Rodivaldo Ribeiro) 

“Eu não sei quantas parcelas ele [Emanuel] recebeu, mas foi em torno de oito ou dez parcelas de R$ 50 mil. Nem todas as imagens dele recebendo foram gravadas”, afirmou.

Ele conta ainda que a maioria dos pagamentos eram feitos em seu gabinete, porém duas vezes foram feitos na própria Assembleia Legislativa. Os pagamentos eram feitos em espécie e em cheques também.

Nesse momento, Silvio revela que quando estava em sessão, Emanuel pedira que alguns colegas parlamentares fossem receber o dinheiro. Ele cita nesse momento os deputados Mauro Savi (PSB) e Romoaldo Júnior (PMDB) que depois repassavam o dinheiro ao ex-deputado estadual.

“Com certeza não confundiu que este repasse era para pesquisa, ele tinha certeza que era propina. Ele deveria saber que era retorno de uma empresa, ele só queria receber nem questionou de onde vinha”, disse aos vereadores.

Silvio conta que as pressões pelos pagamentos eram feitas pessoalmente pelos acusados. “Eles saiam do gabinete do governador [Silval Barbosa] falando que estava atrasado e que iam obstruir a votação. Esses atrasos aconteciam pela falta de retorno das empresas que entregavam o dinheiro ao secretário de Transporte e Pavimentação Urbana (Setpu), Valdisio Viriato”.

Além de Emanuel Pinheiro, os deputados estaduais Gilmar Fabris (PSD), Zé Domingos Fraga (PSD), Baiano Filho (PSDB), os ex-deputados Jota Barreto (PR), Antônio Azambuja (PP), Alexandre César (PT), Airton Português (PSD), Luiz Marinho (PTB), o atual deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) e a prefeita de Juara Luciane Bezerra (PSB), aparecem nos vídeos.

Silvio pediu empréstimo a Alan Zanatta

O ex-chefe de gabinete disse que após sair da prisão, se encontrou com o ex-secretário estadual de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme) e pediu um empréstimo em dinheiro, pois estava passando dificuldades financeiras. O valor seria de R$ 5,6 mil e ainda não foi pago.

“Enquanto eu estava preso, o Alan disse que queria falar comigo, porém eu disse que não teria como, pois eu não podia receber visitas. Quando saí ele pediu novamente para falar comigo, porém eu disse que estava com minha família e naquele momento não poderia falar com ele. Foi então que a minha situação financeira ficou complicada e eu lembrei que ele tinha dito que se eu precisasse me emprestaria um dinheiro”.

Silvio conta então que pediu a um amigo pessoal que buscasse Alan para que ele pudesse conversar com o mesmo. O encontro aconteceu na casa de Silvio e o dinheiro, cuja a quantia não foi revelada por Silvio, foi emprestado por Alan.

“Ele não me pediu nada em troca, nem que eu aliviasse para o Emanuel, ou nada parecido. Ele apenas me deu o dinheiro e foi isso”, respondeu ao ser questionado se Alan teria pedido alguma coisa em troca do empréstimo.

Silvio disse que não sabia que estava sendo gravado por Zanatta, quando o ex-secretário esteve em sua casa. E disse ter lido distorções nas transcrições da conversa em informações que saíram na mídia.

“O que não correspondia?”, questionou o vereador Diego Guimarães (PP). “A questão do que eu fiz. A questão do garimpo e o pagamento e indenização ao Estado”.

Questionado se o ex-secretário teria o gravado para beneficiar Emanuel, o delator disse não saber. Ele também foi questionado sobre a relação dos dois: prefeito e ex-secretário e se sabia que a esposa de Alan foi nomeada na prefeitura para ocupar um cargo dentro da gestão de Emanuel. "Desconheço a relação dos dois, porém soube através da mídia que a esposa dele teria sido nomeada", respondeu. 

“Não tenho opinião sobre isso”.

Questionado pelo vereador Felipe Wellaton (PV) se ele considerava Emanuel Pinheiro criminoso por receber propina, o ex-chefe de gabinete disse que não tinha opinião sobre isso. “Não sou juiz para condenar ninguém”, respondeu ao parlamentar.

Polêmica sobre a pesquisa

Os vereadores querem saber sobre a suposta pesquisa feita pelo irmão do prefeito. O vereador Renivaldo Nascimento (PSDB) questiona então o delator, se a empresa fez mais de uma pesquisa eleitoral ao grupo de Silval Barbosa e Silvio responde que “sim”.

O líder do prefeito na Câmara, vereador Lilo Pinheiro (PRP) pergunta se Silvio tem conhecimento de que a empresa de Popó teve uma pesquisa contrata em 2012. Silvio disse que sim, mas não saber se restaram pendências de pagamento.

Advogado de defesa faz perguntas

O advogado André Stumpf, que faz a defesa do prefeito Emanuel, fez questionamentos ao delator. Ele quis saber como as pessoas que apareciam nas imagens dos vídeos gravados por Silvio, fizeram para ir até ele.

“O senhor disse ao STF que essas pessoas foram chegando e então o senhor ia fazendo o pagamento a elas. Mas onde elas estavam antes de entrar em seu gabinete? Elas estavam reunidas em algum lugar?”, questionou.

Silvio responde que estavam todos reunidos em uma sala ao fundo do gabinete em uma reunião com Silval Barbosa e que depois foram entrando para receber o dinheiro.

A defesa questionou de quem foi à iniciativa para aquisição de equipamento de vídeos e quem comprou e instalou. Silvio, responde que a resposta já está em sua delação.

O advogado então fala sobre a empresa de Popó. Ele quer saber se Silvio foi quem contratou a empresa para realizar as pesquisas e o mesmo diz que não.

“Não sei quem contratou, se foi o grupo ou o próprio governador Silval. Isso eu desconheço”, respondeu.

Ele confirma que houve sim atrasos no pagamento para o Instituto e disse que até hoje, cheques que ele deu ao irmão do Prefeito está pendente na Justiça.

O advogado então pergunta se era Silvio quem pedia para que as pesquisas fossem feitas e ele responde que não. Ele então é questionado o porque Popó falava com ele, sendo que ele não havia contratado os serviços, mas efetuava os pagamentos.

“Porque para falar com o governador ele tinha que falar comigo antes. Então ele acabou contanto do que se tratava”, respondeu.

O advogado questiona se Silvio tem consciência de que se dizer que o dinheiro entregue a Emanuel era fruto de pagamento de pesquisa, poderá anular sua delação. Silvio diz que não mentiu em sua delação, mas que tem consciência que sim.

O presidente da CPI, Marcelo Bussiki, pergunta se a defesa de Silvio quer fazer alguma colocação e eles dizem que não. O depoimento é encerrado. 

Redação

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