Profissionais da saúde que atuam na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Morada do Ouro em Cuiabá (MT) denunciam que trabalham sob constantes ameaças de pacientes e parentes de pacientes. Segundo denúncia encaminhada ao Circuito Mato Grosso, médicos, enfermeiros e acolhedores sofrem ameaças e xingamentos diariamente. Um médico – que por questões de segurança não quis se identificar – foi ameaçado de morte pelo o pai de um paciente, que exigia atendimento diferenciado ao filho.
“O pai do paciente já chegou exaltado aqui na UPA, exigindo atendimento, todo o procedimento correto foi feito, examinei, auscultei, fiz exame na parte física e até neurológica, para saber se não poderia ser meningite entre outros e o encaminhei para receber medicamento e soro, já que o paciente reclamava de dor e apresentava febre, e suspeita de dengue ou chikungunya. Depois deste processo eu iria colher os demais exames, como o de sangue por exemplo, pois não tem como coletar sangue com o paciente apresentando febre”, relatou o médico.
De acordo com o médico, neste momento, o pai do paciente já chegou reclamando e dizendo que o médico não queria atendê-l, que o seu filho estava jogado e com falta de ar. Foi quando, além de agredir verbalmente, começou a ameaçar de morte o profissional de saúde.
“Eu tentei explicar ao homem que estava nervoso, que o filho dele estava sendo atendido, que foi medida a pressão, feita a saturação do oxigênio para identificar se o paciente estava com dificuldades para respirar ou não, e estava tudo sob controle, foi quando o pai do paciente disse ‘se você não voltar lá e atender o meu filho ou acontecer alguma coisa, mais alguém vai morrer aqui nessa UPA hoje’, e continuou as ameaças na frente das enfermeiras e demais pacientes”, completou.
Falta médicos
Além do médico ameaçado de morte, outros profissionais se queixam da falta de condições de trabalho na unidade e principalmente a falta de segurança. Pela Organização Mundial de Saúde (OMS), os médicos tem que atender quatro pacientes hora, porém a média atual da UPA Morada do Ouro, segundo a denúncia, é sete pacientes hora.
Segundo outro profissional que atua na UPA, casos assim são constantes.
“Isso esta constante, pois o fluxo de pacientes aumentou muito, estamos atendendo muito e mesmo assim não resolve. A população acredita que a culpa é do médico. O problema é que não há médicos suficentes na unidade pela demanda na UPA”, afirmou.
Uma das questões que geram a superolatação das UPAs seriam a falta de médicos nos Postos de Saúde da Família (PSF), dentro dos bairros. “Muito dos pacientes que procuram a UPA eram para ser atendidas no PSF, porém pelo o que constamos é que os médicos que tiram férias do PSF não são cobertos por outro profissional, fazendo com que o atendimento no PSF não ocorra, fora o aumento no atendimento por causa dos surtos de conjuntivite e resfriados virais” explica.
De acordo com a coordenadoria da UPA já foi solicitada a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) um médico clínico geral para o dia e outro clínico geral para a noite, porém a secretaria alega faltar recursos financeiros para contratar mais profissionais.
Segundo os profissionais que atuam na unidade e não quiseram se identificar, tanto os concursados como os contratados, sofrem represárias da direção quando questões internas e problemas na unidade são divulgados.
“Se nós como concursados reclamamos, sofremos represália por parte da secretaria de saúde e tomamos até advertência por falar dos problemas, já se é algum profissional contratado que relata a situação, corre o risco de ser mandado embora pelo subsecretário Milton Corrêa da Costa Neto, que contrata e manda embora na hora que bem entender”, finalizou o profissional.
Falta segurança
A denúncia encaminhada ao Circuito Mato Grosso ainda informa que os únicos “seguranças” que atuam na unidade são funcionários públicos que ficam nos corredores e não receberam treinamento de segurança, logo não são capacitados para realizar tal serviço. Além disso, a denúncia ainda aponta que esses funcionários também desempenham o papel de acolhedores dos pacientes.
Outro lado
A reportagem buscou ouvir a Secretaria Municipal de Saúde, que respondeu através de sua assessoria de imprensa por nota.
Segundo Flávio Eduardo Souza, diretor da atenção secundária, a secretária tem ciência dos transtornos ocorridos nas unidades de saúdes e reforça que cada uma das UPAS conta com um vigia que caso seja necessário interfere nas situações de desentendimentos. Salienta que em breve deve realizar a contratação de uma empresa terceirizada para fazer a segurança e a limpeza das unidades e com isso reforçar a proteção dos profissionais e cidadãos no local.
Em caso de violência, agressões e situações que necessitem da força policial, a SMS informou que guarnições que fazem ronda pela região possuem um número privado de acesso direto com as unidades de saúde da localidade e que quando necessário, são acionadas e rapidamente se deslocam até o local.
No caso de profissionais agredidos, os mesmos devem entrar com um processo administrativo, e quando necessário registrar um Boletim de Ocorrência, para que a assessoria jurídica da Secretaria tome as devidas providências.
Ainda segundo a SMS, o quadro de profissionais da UPA Morada do Ouro está completo, sendo três médicos clínicos gerais e dois pediatras que realizam o atendimento da população. Porém, admitem que o número de profissionais seja baixo perante a demanda, mas que está dentro do que determina a Organização Mundial da Saúde.