Política

Campanhas vão apostar na arrecadação pela internet em 2018

A foto de um candidato aparece na sua caixa de e-mail ou pula na tela do seu celular. Ao lado do rosto sorridente, um pedido: dê dinheiro para minha campanha. A situação será mais comum em 2018 do que em qualquer outra eleição, segundo a expectativa de candidaturas que começam a se organizar e de consultorias em busca de clientes para o pleito.

É uma conta simples: sem as contribuições de empresas (proibidas pelo Supremo Tribunal Federal em 2015), políticos vão precisar ampliar canais de arrecadação.

Já terão o reforço do fundo eleitoral de aproximadamente R$ 2 bilhões criado neste ano pelo Congresso, mas esperam também a verba das campanhas virtuais.

Reunidos em um seminário em São Paulo para debater o modelo de "financiamento cidadão", representantes de partidos e assessorias que prestam serviços para campanhas demonstravam interesse em explorar esse caminho, embora reconheçam que brasileiros não têm o hábito de doar para políticos.

"As pessoas ajudam Graac [que reúne contribuições para a luta contra o câncer infantil], Hospital do Câncer. Disponibilidade para doar elas têm", ponderava o marqueteiro Justino Pereira, que organizou o evento há alguns dias em um hotel no centro da capital. "Elas doam para causas".

A construção de uma narrativa que transforme campanhas em causas nas quais as pessoas queiram se engajar -e investir- foi apontada por convidados internacionais do encontro como estratégia que impulsiona a arrecadação.

Representantes de empresas que operaram os sistemas nas campanhas de Donald Trump e Bernie Sanders (nos EUA) e de Pedro Sanchéz (na Espanha) compartilharam dicas com os brasileiros.

Entre elas: é mais fácil conseguir dinheiro para objetivos específicos (pagar gastos do comitê, custear um encontro com militantes); é preciso usar comunicação direta e simples; se o processo de cadastro e doação for complicado, a pessoa desiste no meio.

‘Vaquinha’ é novidade

A antecipação do debate sobre as doações é explicada pela necessidade de buscar novas fontes, mas também pelo calendário. A reforma eleitoral aprovada no Congresso permite que a partir de maio, antes até do registro de candidatura, já possam ser usadas plataformas de "crowdfunding" para conseguir recursos.

O prazo para apresentar a inscrição na Justiça Eleitoral termina três meses depois, em agosto. Se a candidatura for indeferida, os recursos obtidos pela plataforma terão que ser devolvidos a cada doador.

Com o requerimento da candidatura, o político também poderá começar a coletar dinheiro em sua própria página, sem intermediários. A modalidade já era permitida, mas a expectativa é que agora ganhe mais atenção e peso no caixa de campanha.

Pelas definições do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sites como Catarse, Vakinha e Kickante estariam aptos a ser contratados para hospedar as arrecadações. As páginas estão à espera de regulamentação do tribunal que deve sair neste mês.

A lei vai impor a elas uma série de obrigações, como cadastro prévio, identificação detalhada de doadores, emissão de recibo e prestação de contas em tempo real.

Preocupado com o risco de que as facilidades do sistema favoreçam lavagem de dinheiro -por exemplo com o uso de CPFs para disfarçar doações irregulares-, o TSE deverá apertar a fiscalização.

‘Perfumaria’

Levantamento da reportagem mostrou que, na campanha de 2016, a primeira sem financiamento empresarial, doações de pessoas físicas corresponderam a 43% dos recursos obtidos pelos candidatos. Na eleição de 2012, o percentual era de 25%.

Com mais de R$ 293 mil, a candidatura de Marcelo Freixo (PSOL-RJ) para deputado em 2014 virou referência no assunto. "Doações de pessoas físicas representaram 30% da arrecadação dele naquele ano", diz Antônio Andrade, da Um a Mais, empresa que operou o sistema.

"Quando se atinge esse patamar, nosso trabalho deixa de ser visto como 'perfumaria' e passa a ser considerado central."

No encontro em São Paulo, a consultoria Ideia Big Data apresentou levantamento com quase mil pessoas mostrando que 5% dizem querer doar para candidato ou partido em 2018.

Entre os entrevistados, 95% disseram que nunca doaram para legendas. Antes de mostrar a pesquisa, o representante da Ideia, Moriael Paiva, dirigiu à plateia um misto de provocação e piada: "Se já está difícil pedir voto, imagina dinheiro".

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Política

Lista de 164 entidades impedidas de assinar convênios com o governo

Incluídas no Cadastro de Entidades Privadas sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim), elas estão proibidas de assinar novos convênios ou termos
Política

PSDB gasta R$ 250 mil em sistema para votação

O esquema –com dados criptografados, senhas de segurança e núcleos de apoio técnico com 12 agentes espalhados pelas quatro regiões