O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta terça-feira (7) não ter visto com tanto "pessimismo" o discurso em que Michel Temer admite uma possível derrota na aprovação da reforma da Previdência e, ao mesmo tempo, tenta transferir o ônus desse fracasso para o Congresso.
Um dia após a fala de Temer em reunião no Palácio do Planalto, Maia disse que a situação da base "é muito difícil" depois da votação que barrou a segunda denúncia contra o presidente e que o governo precisa fazer o último esforço para que avancem as mudanças na aposentadoria.
"Não interpretei desse jeito tão pessimista", disse o presidente da Câmara ao ser perguntado por jornalistas sobre a possibilidade de Temer ter jogado a toalha quanto à aprovação da reforma.
"A base está muito machucada pós-denúncia. Quem votou [com Temer] teve uma atitude muito corajosa, então não dá para cobrar nada nesse momento. O governo precisa chamar seus líderes, os presidentes dos partidos, individualmente, e tentar mais uma conversa mostrando qual o impacto da não realização da reforma já em 2018", completou Maia.
A reforma da Previdência, pouco palatável aos parlamentares às vésperas de um ano eleitoral, tornou-se mais um dos temas para a disputa entre o deputado e Temer na condução da agenda econômica do país.
Ambos querem acenar ao mercado -um dois principais pilares de sustentação do governo e que cobra a aprovação da medida-, mas nenhum quer arcar sozinho com a culpa pelo eventual fracasso.
"Esse é um tema de governo, e é por isso que é preciso reorganizar o governo. A Câmara, sozinha, não consegue tocar essa pauta. Mas consegue ajudar, como fez com a PEC do Teto de Gastos, que diziam que não passaria, e com a reforma trabalhista, que veio do governo muito menor do que saiu no final", disse Maia à Folha.
No discurso desta segunda (6), Temer jogou justamente para o outro lado: "[Se] o parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprová-la, paciência".
ELETROBRAS
Maia elogiou a decisão do governo de enviar a proposta de privatização da Eletrobras ao Congresso esta semana, via projeto de lei e não como medida provisória.
O assunto foi tema de discussão entre o presidente da Câmara, que defendia o PL, e a equipe econômica de Temer, que preferia via MP. Na semana passada, Maia acertou com o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) como seria a tramitação.
Como PL o projeto precisa de aval dos parlamentares, enquanto uma MP teria vigência imediata.
"Foi o caminho certo a privatização da Eletrobras ter sido por projeto de lei. Não dá para vender ativo por MP, não é democrático", declarou Maia.