No cerrado Nambiquara, com os índios, entre 1981-1982, anos de ditatura de João Batista Figueiredo, Jacutinga viu-se metido em situações complicadas. As nuvens de gafanhotos deleitavam-se com pastagens das fazendas, deixando enfurecidos os proprietários. Se para os índios gafanhoto é fartura alimentar, para os pecuaristas, uma praga! Na “rádio-cipó” circulavam notícias da infestação e dos mecanismos para exterminá-la.
O alarde chegou ao Ministério da Agricultura e ações começaram a ser pensadas para combater com ataque aéreo: agrotóxicos aspergidos por teco-tecos!
Jacutinga viajou para Cuiabá, sede da Funai, para falar com o delegado regional, Coronel Cunha. O militar, um carioca gente-fina, após ouvi-lo, sugeriu a compra de um ultraleve para fiscalizar as áreas indígenas perto das fazendas. Cunha chegou à Funai em um momento difícil. Diversas entidades indigenistas denunciaram ao Banco Mundial o extermínio Nambiquara, se mantido o asfaltamento da BR 174, variante da BR 364, um ato genocida. O documento propôs a manutenção do traçado original da BR 364 e a demarcação de um território indispensável aos demais grupos da etnia Nambiquara. Funcionários da Funai, membros da Comissão de Defesa do Povo Nambiquara, foram demitidos e as recomendações do documento não foram acolhidas.
A demarcação da Terra Indígena Vale do Guaporé nasceu espremida entre as fazendas. Mas, em “anos de chumbo”, uma enorme vitória! Luta de Ana Lange, Rinaldo Arruda, Sílbene de Almeida e Marcelo dos Santos. O conflito na região era tanto que o Exército Brasileiro efetuou a demarcação. Entretanto, o acesso dos índios ao rio Guaporé foi suprimido e o território de alguns grupos não foi observado.
Nuvens de Tordon substituíram as de gafanhoto. O desfolhante químico, que alterou o Agente Laranja da Guerra do Vietnã por ser proibido oficialmente, trouxe a disenteria e, dizem, os lábios leporinos.
Os gafanhotos? Vez por outra aparecem nuvens menores, mas vêm deixando de ser uma iguaria cobiçada pelos índios pelo medo do veneno que mata e deforma pessoas.