Principal partido aliado ao governo, o PSDB repetiu nesta quarta-feira (18) o racha da votação da primeira denúncia contra o presidente da República.
Na sessão da Comissão de Constituição e Justiça que analisou a segunda denúncia, foram cinco votos contra Michel Temer e três a favor -desses, todos deputados de Minas Gerais ligados a Aécio Neves.
Na véspera, a base governista foi decisiva para que o Senado derrubasse decisão do Supremo Tribunal Federal e restituísse o mandato de Aécio. A oposição afirma que houve uma troca, com compromisso de voto em peso dos aecistas a favor de Temer.
Dos tucanos, votaram contra Temer Betinho Gomes (PE), Fábio Souza (GO), Rocha (AC), João Gualberto (BA) e Silvio Torres (SP) –esse último ligado Geraldo Alckmin, o que sinaliza um fracasso até agora da tentativa do Planalto de ter os votos do grupo ligado ao governador de São Paulo.
A favor de Temer votaram Bonifácio de Andrada (relator), Rodrigo de Castro e Paulo Abi-Ackel, todos da bancada mineira do partido.
Outra novidade foi o voto do ex-ministro da Justiça de Temer Osmar Serraglio (PMDB-PR). Apesar de ser do partido do presidente, ele deixou o governo demonstrando insatisfação e se ausentou da sessão plenário que analisou a primeira denúncia. Agora, votou a favor do presidente.
Os governistas contavam até o início da sessão com 42 votos, três a mais do que realmente conseguiram. As perdas se deram no PSB (dois votos a menos), partido que está rachado e que teve uma troca de liderança nesta quarta em prol dos oposicionistas. E no Solidariedade. O Planalto contava com os dois votos do partido, mas Benjamin Maranhão (PB) acabou não aparecendo. Isso abriu espaço para o voto contrário a Temer do suplente Major Olímpio (SP).
Traições
O governo vai começar imediatamente o trabalho bancada a bancada para tentar assegurar uma votação no plenário, na próxima quarta-feira (25), similar à que barrou a primeira denúncia, em agosto. Na ocasião, a acusação de corrupção passiva foi barrada por 263 votos a 227. A autorização para prosseguimento da denúncia se dá com o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados.
Temer tem repetido o que fez nas últimas semanas, recebendo dezenas de deputados em audiências isoladas e atendendo a pleitos como da bancada ruralista, que conseguiu emplacar alterações que esvaziam instrumentos de combate ao trabalho escravo.
Uma das principais preocupações é no PSD do ministro Gilberto Kassab (Comunicações), em que há ameaça de traição.
O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), minimizou o placar mais enxuto na CCJ, dizendo que "faz parte do jogo".
"Nós só tivemos uma mudança de última hora que foi a do PSB, que foi um problema interno do partido, mas não modifica o resultado no plenário. É possível ter o mesmo placar [da primeira denúncia] no plenário."
Os articuladores políticos do Planalto devem voltar mais cedo para Brasília no fim de semana para auxiliar o presidente na maratona de conversas com deputados até a semana que vem.
Aguinaldo Ribeiro também tentou minimizar o eventual impacto dos recentes atritos entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Michel Temer.
"O presidente Rodrigo Maia tem sido correto e o governo reconhece essa postura. No meio deste processo surgem muitas questões, alguns pontos de tensão. Com certeza todos foram superados. É natural num processo como este que tenha muita gente interessada em que haja problemas, discussões. Temos que ter serenidade", disse o líder do governo.