A procuradora da República de Mato Grosso Vanessa Cristhina Scarmagnani foi designada pela nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para acompanhar a investigação do suposto envolvimento do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), citado na delação do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
O nome de Vanesa Sacarmagnani aparece na lista de novos procuradores nomeados por Dodge que passa a integrar a equipe que trabalha no escândalo da Lava-Jato.
A procuradora foi responsável pelo pedido de prisão do deputado estadual José Riva (PSD) na Operação Ararath em 2014 e do ex-secretário de Estado Eder Moraes (PMDB) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Ela chegou a ficar sob proteção policial, iniciativa do Ministério Público Federal (MPF) que não informou à época qualquer detalhe sobre as ameaças nem a forma que chegaram até a procuradora.
Silval Barbosa relatou, na delação, que Blairo Maggi teria participado da montagem de um esquema para liberar dinheiro de precatórios (dívidas decorrentes de sentenças judiciais) em troca do apoio de parlamentares do Estado. O fato, de acordo com o delator, teria acontecido ao fim da gestão de Maggi como governador do Estado (2003-2010).
Além do ministro do governo Temer, os senadores por Mato Grosso Wellington Fagundes (PR) e Cidinho Santos (PR), suplente de Maggi, são alvos da delação. Os dois, de acordo com Barbosa, teriam se beneficiado de recursos ilícitos.
Barbosa mencionou em sua delação uma suposta tentativa do ministro Maggi de obstruir a Justiça em relação à operação Ararath, apelidada de Lava Jato pantaneira e deflagrada em 2010 para investigar o pagamento de precatórios.
O tema também foi abordado por outro delator do caso, o ex-deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, José Geraldo Riva.
Riva afirmou que Maggi autorizou o pagamento de cerca de R$ 260,6 milhões em precatórios para a construtora Andrade Gutierrez.
O objetivo, segundo ele, seria abastecer um esquema de compra de apoio de parlamentares.
O ex-deputado detalhou uma reunião com Maggi, o então secretário da Fazenda de Mato Grosso, Éder Moraes e Barbosa para acertar o suposto esquema.
Também disse que o pagamento dos precatórios era apenas parte de uma manobra para comprar a adesão dos deputados.
O outro lado
O ministro Blairo Maggi afirmou, por meio de sua assessoria, que jamais usou "de meios ilícitos" na relação com deputados de Mato Grosso e que, quando tiver acesso à delação de Silval Barbosa, vai se utilizar "de todos os meios legais necessários para se defender".
"Causa estranheza e indignação que possíveis acordos, muitos ainda não homologados, coloquem em dúvida a credibilidade de figuras públicas que tenham exercido com retidão cargos na administração pública", disse.
Segundo o ministro, qualquer afirmação sobre ação feita ou autorizada por ele para obstruir a Justiça "é mentirosa, leviana e criminosa". Disse ainda que "o rito obedecido nos pagamentos de precatórios à Andrade Gutierrez foi absolutamente legal, com atuação dos órgãos consultivos".
Em nota, a Procuradoria, o Ministério Público Federal (MPF/MT), esclarece o papel da procuradora Vanessa Scarmagnani na PGR:
"Em razão das informações publicadas na mídia com base na Portaria nº 995, de 18 de setembro de 2017, publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (19), o Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT) informa que a procuradora Vanessa Cristhina Marconi Zago Ribeiro Scarmagnani terá a função de, apenas, auxiliar a equipe da Procuradora Geral Raquel Dodge no processo de transição dos elementos de provas, analisando o material apreendido durante a Operação Malebolge. A procuradora em questão é responsável pelos processos relativos a Operação Ararath em primeiro grau. Todos os processos referentes a Operação Malebolge serão acompanhados pela Procuradoria Geral da República (PGR)".