A Comissão Pastoral da Terra de Mato Grosso divulgou neste sábado uma carta de repúdio ao assassinato da ex-vereadora Tereza e de seu marido Aloísio da Silva. A entidade afirmou que ao crime, cometido na quinta-feira (6), é mais um em série de violência contra indígenas e camponeses que “lutam para permanecer na terra”.
“O que aconteceu nesse fatídico dia 06 é uma realidade triste na história deste povo que luta pela permanência na terra e pela terra. Terra essa delimitado pelo governo estadual e nacional como privilégio de poucos. Numa realidade que o dinheiro possui mais valor que a vida, a terra é uma terra-privilégio porque é uma terra-mercadoria”.
Conforme a comissão, apenas neste ano, 60 camponeses e indígenas foram assassinados no Brasil em conflito de terra e indicou subida da violência em disputas na zona rural de Mato Grosso e outros Estados (leia a nota abaixo).
“Em 2017 já são 60 camponeses/as, indígenas e lutadores/as assassinados no País até o mês de setembro, se aproximando do ano passado, uns dos mais violentos em 15 anos. Um número denunciativo tanto sobre a luta pela terra e pela permanência na terra quanto sobre a participação direta do Estado ou indiretamente ao deixar impune essa violência por interessar à política agrária e agrícola”.
No caso anterior em Mato Grosso, nove camponeses foram assassinados em Colniza (1.065 km de Cuiabá). A chacina ocorreu no no dia 19 de abril e nove homens com idade entre 23 e 57 anos foram torturados e assassinados. Eles estavam instalados em barracos erguidos na área rural quando foram rendidos. Dois deles foram assassinados com golpes de facão e os outros sete com tiros de espingarda calibre 12.
“Violência continuada em diversas partes do Mato Grosso, exemplo, os assentados/as do P.A Raimundo Viera III, Lote 10 Gleba Gama, município de Nova Guarita que recentemente o Fórum de Direitos Humanos e da Terra e a CPT denunciaram através de nota pública as inúmeras violências ocorridas”.
A ex-vereadora de Nossa Senhora do Livramento, Teresa Rios, 55, e Aluisio da Silva Lara, 56, foram assassinados a tiros na chácara deles na comunidade de Mata Cavalo.
Os corpos foram encontrados por um dos filhos por volta das 15h de quinta-feira (7).
Segundo a Polícia Judiciária Civil, as vítimas foram executadas na manhã de quarta-feira (6). Ambos eram ativistas de política de regulação fundiária e distribuição de terra.
O corpo de Tereza Rios foi enterrado neste sábado (9) no cemitério de Nossa Senhora do Livramento; já o corpo de Aloísio continua no IML (Instituto Médico Legal) para exames. Conforme a Politec, falta material para equipamentos de raio X e serra. O corpo de Aloísio deve passar por exame de balística para a retirada de projétil. A Politec, o exame será realizado em parceria com outras instituições de perícia.
Leia a íntegra da nota
Nota de pesar e de repúdio.
A Comissão Pastoral da Terra – MT vem por meio desta se solidarizar com a família, amigos/as e companheiros/as de Tereza Rios e Aloísio da Silva, assassinados brutalmente nessa quarta-feira, 06/09/2017.
Tereza e Aloísio foram presenças ativas na comunidade, participando em atividades agroecológicas, feiras, debates de gênero e direito à terra. Ainda Tereza presidia a União Nacional das Cooperativas da Agricultura familiar e Economia Solidária (Unicafes-MT) e a COOPERLIVRE e foi vereadora da cidade de Nossa Senhora do Livramento. Vidas intensas direcionadas ao bem comum e da terra.
O que aconteceu nesse fatídico dia 06 é uma realidade triste na história deste povo que luta pela permanência na terra e pela terra. Terra essa delimitado pelo governo estadual e nacional como privilégio de poucos. Numa realidade que o dinheiro possui mais valor que a vida, a terra é uma terra-privilégio porque é uma terra-mercadoria. Diferente para dona Tereza e seu Aloísio, que era uma terra-trabalho, de vida e de convivência com a família, amigos e comunidade.
Essa violência não é um caso isolado no campo. Em 2017 já são 60 camponeses/as, indígenas e lutadores/as assassinados no País até o mês de setembro, se aproximando do ano passado, uns dos mais violentos em 15 anos. Um número denunciativo tanto sobre a luta pela terra e pela permanência na terra quanto sobre a participação direta do Estado (representado pelos agentes públicos dos poderes executivo, legislativo e judiciário) ou indiretamente ao deixar impune essa violência por interessar à política agrária e agrícola.
Ainda nem nos curamos da dor e indignação da 'Chacina de Colniza', em que 09 camponeses foram também assassinados brutalmente. Violência continuada em diversas partes do Mato Grosso, exemplo, os assentados/as do P.A Raimundo Viera III, Lote 10 Gleba Gama, município de Nova Guarita que recentemente o Fórum de Direitos Humanos e da Terra e a CPT denunciaram através de Nota Pública as inúmeras violências ocorridas.
Também não podemos nos esquecer dos acampados da região norte do estado que sabem ainda mais o que significa a violência, ainda mais quando relacionada à impunidade de fazendeiros criminosos e presença ativa ou passiva do estado.
Ainda daqueles que planejam iniquidade e que tramam o mal em leitos!
Ao amanhecer, eles o praticam,
porque está no poder de sua mão.
Se cobiçam campos, eles os roubam,
se casas, eles as tomam;
eles oprimem o varão e sua casa,
o homem e sua herança. (Miquéias 2, 1-2).
Dona Tereza e seu Aloísio não serão apenas números desta triste realidade sofrida pelos pequenos do campo: camponeses/as, trabalhadores/as rurais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos/as, extrativistas. O sangue derramado no chão desta lutadora e deste lutador será a semente que alimentará a nossa luta por justiça, por terra, por alimentos e por trabalho.
Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. (Mateus 5, 6)
Cuiabá, 08 de setembro de 2017.
Comissão Pastoral da Terra – Regional Mato Grosso