Cidades

Após 16 anos, mãe de menina estrangulada por Santo Martinello se diz aliviada

Leila Maria Lodi, mãe da pequena Aléxia Carolina Lodi Aragão, morta asfixiada em 2001, recebeu com alívio a notícia da morte do assassino Santo Martinello, na cidade de Hernandarias, no Paraguai.

O empresário matou com requintes de crueldade a menina que na época tinha apenas seis anos. Desde então, o acusado vinha sendo procurado pela Polícia Federal e era um dos listados no sistema internacional de busca da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).

Martinello foi encontrado morto pela mulher na casa em que residiam no país vizinho. Um documento divulgado pela polícia paraguaia revela que o falecimento do réu – condenado a 31 anos – ocorreu no dia 13 de janeiro de 2017, porém somente agora foi anunciado pelas autoridades brasileiras.

A mãe de Aléxia contou ao Circuito Mato Grosso que já tinha conhecimento do fato, mas que a família da menina não possuía documentos comprobatórios para elucidar a informação.

“Nós já sabíamos da morte dele desde o final de janeiro, porque uma mulher do Paraguai entrou em contato comigo pelo Facebook e acabou me passando todas as informações. Só que a gente não tinha certeza porque não tínhamos o documento da exumação”, revela a mãe de Aléxia.

Ainda de acordo com o laudo da PF do Paraguai, Santo morreu de “câncer maligno às 22h30, aproximadamente”. Ele tinha 60 anos.

Dia do crime

Testemunhas viram Santo Martinello pelo menos três vezes saindo da casa da mãe de Aléxia. A pequena menina estava em casa, quando foi surpreendida pelo frio estuprador. Ele fugiu, mas manteve contato com a família dias depois.

Com muita dor, a mãe de Aléxia lembra o que passou naquele dia. “Eu estava saindo do meu trabalho numa panificadora e estava vindo de bicicleta quando passei uma subida e meu telefone tocou, era o Allisson [irmão de Aléxia] do telefone da vizinha, e ela me falou assim: ‘Leila fala com o teu filho porque não tenho coragem’ e aí ele falou: ‘mãe, a Aléxia foi estuprada e está morta’, naquele momento parece que se abriu um buraco e caí dentro. Só lembro que acordei no hospital”, contou em depoimento chocante.

Santo, na época, foi patrão dos pais de Leila e chegou a manter um relacionamento amoroso com ela. Entretanto, ele não aceitava o término e agiu extremante por vingança, matando a filha da namorada. Caso repercutiu nacionalmente.

O assassino frio ainda esteve no velório e enterro da menina e chegou a chorar se mostrando “prestativo” aos familiares. A suspeita só foi levantada nas investigações quase que uma semana depois do crime, quando uma das amantes desconfiou dos arranhões e lesões no órgão genital do empresário e resolveu denunciá-lo.

Atuação da Justiça

Passados praticamente mais de 15 anos, a Polícia Federal não conseguiu encontra-lo. Nesse período, a família de Aléxia, mais especificamente a mãe, correu atrás de pistas para localizar o bandido. Ela conta que foram dias difíceis atrás do criminoso e reclama a falta de interesse e responsabilidade da Justiça em dar andamento no caso.

“Se é a própria Justiça que tem que estar fazendo isso, por quê não fez?. Porque realmente a dor não era deles. Eu vim lá do Paraná e procurei o juiz e ele foi muito ignorante e grosso comigo. E agora de uns dois, três anos pra cá, eu consegui contato com o doutor Hugo [juiz] que foi a única pessoa que recebeu no fórum e me explicou”, menciona.

No depoimento, Leila ainda ressalta o duro trajeto para conseguir alcançar ajuda judicial em meio aos problemas minuciosos da Justiça.

“Por motivos pequenos eles transferiam o julgamento ou cancelavam e aquilo me deixava cada dia mais revoltada. Por que com todo mundo a Justiça era feita e só com o caso da minha filha não?”, detalha com duras palavras.

Aléxia

Aléxia Carolina Lodi Aragão era uma garota loira que vivia com a família em Lucas do Rio Verde (334 km ao Norte de Cuiabá). É com carinho que a mãe recorda os momentos em que passou durante os seis anos da menina.

“Ela era uma pessoa que tinha seis anos, mas com um comportamento adulto, principalmente nas atitudes comigo. Às vezes, eu chegava [em casa] chateada do trabalho ou quando alguma coisa não havia dado certo, e ela chegava perto de mim e me dizia: ‘não fica triste não, mãe, amanhã vai ser melhor, você vai ver, essa tristeza vai passar. Estamos aqui para cuidar de você’. Então… ela me confortava”, disse.

Além de Aléxia, Leila tem outro filho, Alisson Luiz Aragão que atualmente está com 28 anos. Ele teve dois filhos, Felipe e Isabela, um deles inclusive mora com ela desde que nasceu.

Se estivesse viva hoje a menina assassinada, em 2001, estaria com 23 anos, sendo completados no último dia 4 de julho.

Perdão

“Estou aliviada em partes, porque, na verdade, eu gostaria que ele pagasse na cadeia pelo que ele fez com a minha filha. Acho que me sentiria melhor hoje”, expressou Leila Maria.

Para ela, nada mais justo que o assassino viver dias ”escuros” pelo cometimento do crime. Porém, em resposta à reportagem, diz tê-lo perdoado, juntamente com a família. Apenas guarda uma mágoa da esposa do assassino.

“Não tenho raiva dele nem da família. Consegui perdoá-lo. Muitas vezes cheguei a rezar por ele e pela família dele que não tem culpa. A única mágoa que eu tenho é da mulher dele porque ela sabia onde ele estava e, por ser mãe, ela sabia desse sofrimento todo e não o denunciou”, fala lembrando da tragédia.

Lodi acrescenta que a partir de agora, a alma da filha irá descansar e acredita ainda que o bandido cruel tenha se arrependido antes de morrer.

“Hoje, minha filha vai descansar em paz, e ele também. Agora, vai acertar as contas com Deus, espero que ele tenha tido tempo de se arrepender, porque ele teve câncer na garanta e morreu sem ar, foi o que ele fez com a minha filha. Então ele deve ter sentido na pele”, crê.

 

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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