O deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB) negou pagamentos de mensalinho a deputados em compra de apoio à gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB). Ele disse que os acordos firmados entre o Executivo e o Legislativo, durante a gestão de Barbosa (2010-2014), eram “políticos” e que vê nas declarações dadas em delação premiada do ex-governador uma alternativa “para se salvar” de condenações mais pesadas.
“Talvez tenha tido acordos políticos, que é diferente de mensalinho. Acordos políticos é favorecimento em cargos, emendas parlamentares, mas mensalinho, não. As pessoas estão falando para se salvar. Para jogar responsabilidade sobre os outros. Vamos ver as provas que ele tem para apresentar contra os deputados da Assembleia”, disse Maluf em entrevista no sábado (5), em Barra do Garças (515 km de Cuiabá).
O deputado sugeriu serem questionáveis as declarações feitas por réus confessos em crimes (além de Silval Barbosa, o ex-deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, José Riva (PSD), que teriam dado declarações “forçadas” em acordos de colaboração em investigação “mal negociados”, o que pode resultar, de novo sugerido pelo deputado, em provas sem contundências.
“Deve haver uma harmonização nessas delações. Muitas delas foram forçadas. Muitas delas foram mal negociadas. Muitas delas foram falseadas para ter benefícios. Essa harmonização tem que acontecer. O Poder Judiciário, acho, que vai entrar em uma fase de discussão dessas delações. Até a Polícia Federal já está entrando na discussão dessas delações, e isso deve acontecer uma harmonização”, finalizou.
Em acordo de delação premiada, o ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) relatou, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), participou da montagem de um esquema para liberar dinheiro de precatórios (dívidas decorrentes de sentenças judiciais) em troca do apoio de parlamentares do Estado.O fato, de acordo com o delator, teria acontecido ao fim da gestão de Maggi como governador do Estado (2003-2010).
O acordo de colaboração de Barbosa foi assinado há cerca de dois meses com a PGR (Procuradoria-Geral da República) e aguarda homologação do ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal). Na quarta (2), o magistrado declarou que a colaboração é "monstruosa", mas se recusou a dar detalhes.
Além do ministro do governo Temer, os senadores por Mato Grosso Wellington Fagundes (PR) e Cidinho Santos (PR), suplente de Maggi, são alvos da delação. Os dois, de acordo com Barbosa, teriam se beneficiado de recursos ilícitos.
O ex-governador também relata fatos envolvendo pelo menos três deputados federais com mandatos em curso, cujos nomes a reportagem não identificou, além de repasses a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Barbosa relatou ainda pagamento de um "mensalinho" para deputados estaduais que atuaram na sua gestão para lhe garantir apoio.
Como evidência, forneceu vídeos dos parlamentares estaduais recebendo dinheiro em espécie. Envolvidos no acordo afirmaram à reportagem que os valores giravam em torno de R$ 80 mil.
Silval Barbosa governou Mato Grosso de 2010 a 2014. Ele foi preso em 2015 na operação Sodoma, da Delegacia Fazendária (Defaz) que investiga crimes de fraudes na concessão de incentivos fiscais. Desde junho, porém, Barbosa está em prisão domiciliar. No acordo assinado com a PGR, Barbosa recebeu uma multa de R$ 80 milhões. Inicialmente os investigadores solicitaram o valor de R$ 150 milhões.
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