Opinião

É fria, a frente

Foto: Valéria Del Cueto 

“Querida amiga reclusa.

Antes de mais nada gostaria de pedir desculpas pela ausência. Não consegui chegar em tempo hábil na última lua cheia para, usando seus raios, alcançar a fresta da janela e “invadir” sua cela no retiro voluntário.

Andava “pluct placteando” e perdi o bonde da carona lunática espectral. Falha minha envolvido que andei acompanhando os inenarráveis movimentos para o desenlace pós recesso no país. Fim de férias para várias pendências nacionais, estaduais e municipais. Para não ampliarmos excessivamente nosso raio de observação científica.

Pulei de galho em galho, tal e qual macaca de auditório acompanha shows dos ídolos décadas atrás do milênio passado.

Sim, sei que você vai me repreender por usar o termo animal, em vez do simpático e politicamente correto tiete. Culpa dos sofisticados sistemas de minha moderníssima aeronave. Aquela que não consegue ultrapassar a atmosfera e me cuspir para além da estratosfera. Seguiria tranquilo minha viagem intergaláctica. Tomamos embalo. Ela, a nave mãe, comigo dentro, mas acabamos ping pongueando sem furar o bloqueio celestial.

Diante disso, só me resta passar para o plano B da viagem interestelar e continuar por aqui recolhendo dados do declínio inexorável dessa civilização que tantas maravilhas já revelou ao universo. É muita informação para ser armazenada. Dessa missão até tenho dado conta. Quem não está conseguindo acompanhar e decodificar os eventos é a máquina na cabine de comando da nave que havito.

Não, não vou entrar em detalhes para evitar traumas e choques na sua lenta – e frágil – recuperação. Acontecerá com você, amiga, o mesmo que ocorre com o computador de bordo. Chamará tiete de macaca de auditório e político de ladrão e sem vergonha. Assim mesmo. Generalizando que é para colocar toda a farinha no mesmo saco. De preferência cm uns corózinhos, aqueles bichinhos, que é para inutilizar de vez o fardo inteiro. Tudo podre.

E é aí que mora o perigo. Porque corre o risco da minha cronista preferida levar um “teje preso”. É fia, estamos nessa vibe. Com direito a projeto de lei proibindo “defamar” a categoria como um todo. De autoria renomada e apoiado por muitos dos que pregam crença que não creem nem moral que não praticam.

Sorte que a novidade não atingirá seres como eu, de outro planeta. Só que este não é o seu caso e a desculpa da insanidade não será considerada nas cortes judiciais do seu país.

Tatua o nome do seu amado no ombro? Tira a camisa numa cerimônia pública para exibir a obra de hena? Usa seu precioso tempo no seu ambiente de trabalho para pedir nudes pelo seu aplicativo? Votou sim? Não? Então não terá a menor chance de pedir imunidade para abusar da impunidade.

Insanidade pouca não anda fazendo verão por aqui. Foca, amiga querida. Contenção de gastos é a ordem geral. Excluindo para eles que continuam mandando ver em emendas, explodindo de cargos e, claro, levando algum por fora.

Por falar nisso, essa é a razão dessa missiva fora de lua. Ainda estamos a uma semana da lua que nos une por seu raio. Não tenho ideia de onde estas mal traçadas linhas irão encontra-la, minha enluarada.

Seu reduto do outro lado do túnel, o Pinel, está ameaçado, se já não foi esvaziado! Por isso, mando essas instruções por aquele enfermeiro gente boa.

Não se preocupe, vou busca-la onde estiver. Na próxima cheia nos encontramos na ponta do raio mais longo de luar. Até lá, É fria, a frente. Se cuida.        

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte das séries “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM… 

delcueto.wordpress.com

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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