Jurídico

Piran nega ter tido conhecimento de que valor recebido de delator era ilícito

O empresário do ramo de factoring, Valdir Piran, confirmou que emprestou R$ 5 milhões ao ex-governador Silval Barbosa. O empréstimo, segundo o empresário, foi realizado por volta do ano de 2012. No entanto, ele não disse para que Silval pegou tal valor.

A declaração foi prestada à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, na tarde desta quinta-feira (27).

Valdir Piran foi preso preventivamente em Brasília (DF) no final do mês de setembro do ano passado, durante a 4ª fase da Operação Sodoma. Em outubro, ele foi colocado em liberdade após colocar R$ 12 milhões como garantia de eventual condenação a ressarcimento ao erário.

O empresário é investigado por suposta participação em esquema que teria desviado pelo menos R$ 15,8 milhões dos cofres públicos, por meio de pagamento a desapropriação de um terreno do bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá.

Conforme Piran, por volta de 2014 a dívida de Silval já passava dos R$ 10 milhões. Ele relatou que por diversas vezes teve que ir ao Palácio Paiaguás cobrar o valor do ex-governador, que não se mostrava favorável a realizar o pagamento.

“Emprestei cerca de R$ 5 milhões [ao Silval Barbosa]. Encontrei algumas vezes no Palácio. Mas, disse que não gostaria de ir lá, pois não tive negócio com o Estado. Ele insistia que pagava R$ 10 milhões. Exigi que ele me desse um cheque dele e ele me pediu um prazo”, declarou.

Atualizada às 16h13min.

Conforme Piran, Silval não cumpriu o combinado.

“Mas, quando foi para cumprir a parte dele [Silval], ele disse que não tinha mais cheque. Ele chamou o Pedro [Nadaf] e fez uma promissória. Ele pediu uns dias”, relatou.

Segundo o empresário, dias após a entrega da promissória, Silval lhe entregou um envelope pardo, cheio de folhas de cheques em nome de terceiros.

“Ele [Silval] me deu vários cheques em um envelope. Não olhei para os cheques. Estava em uma situação muito desgastante. Ele é uma pessoa muito paciente, mas leva você até um limite.

Piran ressaltou que não gostava de ir até o Palácio Paiaguás, pois sua relação comercial não era institucional.

“Eu nunca fiz negócio com o Estado. Achava muito ruim ir ao Palácio. Mas, era a única maneira de falar com ele [Silval]”, disse.

Piran declarou que só notou que os cheques entregues pelo ex-governador não eram dele quando chegou em sua empresa.

“Quando cheguei a empresa á noite, vi que os cheques não serviam para mim. Não eram dele. Voltei a conversar com ele. Esperei na Casa Civil. Eu disse que não queria aqueles cheques. Tinham cheques pré-datados já vencidos”, declarou. 

Atualizada às 16h20min.

Na reunião, de acordo com Piran, Silval afirmou que o empresário estava alterado e que só voltaria a conversar com ele quando se tranquilizasse.

“Eu disse que não estava alterado. Mas, disse que tudo tinha um limite. Ele saiu e disse que me pagaria de outra forma. Pedro [Nadaf] disse que Silval veria uma pessoa para pagar. Não me lembro se foi Silval ou Pedro que disse que o Filinto [Muller] iria me pagar”, declarou.

Conforme Piran, após a promessa de Pedro Nadaf, o empresário, também do ramo de fatoring, Filinto Muller, o procurou.

“Ele me procurou e disse que gostaria de assumir a dívida do Silval. Ele disse que ia me pagar”, declarou.

“Quando disse que aceitava, ele foi buscar os cheques. Ele me passou R$ 2,5 milhões e foi pagando [parcelado]. A partir daquele momento, eu não poderia mais cobrar o Silval”, completou.

Segundo o empresário, ele já tinha ouvido falar sobre Filinto e, por isso, confiou que ele iria cumprir o combinado e quitar o valor. Filinto, conforme Piran, também deu um cheque de R$ 7,5 milhões como garantia do restante dos pagamentos.

“Era melhor eu ter esse compromisso com o Filinto e devolver a promissória do Silval. Ele [Filinto] não deu data para pagar. Disse que me pagaria o mais rápido possível. Era uma situação muito mais confortável. Podia falar com o Filinto a qualquer momento.

Atualizada às 16h32min.

Questionado pela promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco, Piran negou que ele tenha tentado agredir o ex-governador com uma cadeira. O fato foi relatado por Pedro Nadaf.

“Eu disse para o Silval que não queria mais ir até lá ao gabinete, que não me sentia confortável. Mas não teve nenhuma agressão, não lembro de cadeira nenhuma".

A promotora também questionou o réu de o motivo dele não ter executado a dívida de Silval na Justiça. Piran disse que este não é o melhor caminho para receber por um empréstimo feito.

“Acho o meio mais fácil de receber cobrando, indo atrás. Eu ameacei entrar com a ação, mas não ia entrar", disse.

Atualizada às 16h56min.

A promotora ainda perguntou onde ele guardou o dinheiro recebido por Filinto.

"Eu não vou falar aqui, porque se não amanhã vou acordar desconfiado de todo mundo. Posso garantir que não está debaixo de um colchão", respondeu.

Ana Bardusco questionou Piran sobre a declaração de Nadaf, na qual o empresário saberia que o dinheiro entregue a ele por Filinto tinha origem ilícita. Piran, no entanto, negou.

"Se eu soubesse que o dinheiro era ilícito, eu não teria recebido de jeito nenhum. Eu ouvia muito falar do Filinto como empresário, não desconfiei. É muito difícil a pessoa chegar e dizer de onde saiu o dinheiro. Eu só desconfiaria se ele chegasse lá com um saco de dinheiro", disse Piran, garantindo que o valor recebido já foi regularizado e declarado em seu importo de renda.

Atualizada às 16h57min.

Após os questionamentos do Ministério Público Estadual, o interrogatório foi encerrado.

 

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