A indústria de produtos veterinários do Brasil vai ofertar no próximo ano uma vacina contra a febre aftosa com uma dose menor, que trará maior praticidade na aplicação, o que potencialmente ajudará a reduzir riscos de a carne bovina ser comercializada com abscessos (caroços), afirmou nesta terça-feira (4) um dirigente de associação do setor de saúde animal do país.
Os abscessos, que responderam por 28 por cento dos problemas apontados pelo governo dos Estados Unidos para suspender a carne in natura do Brasil, podem ser gerados por uma vacinação mal executada, realizada com uma agulha rombuda (sem ponta), mas o problema não deve ser atribuído ao medicamento em si, que passa por rigorosos testes e é seguro, segundo o Sindicato da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan).
A vacina com uma dose reduzida de 5 ml para 2 ml, que estará disponível no mercado para a campanha de vacinação do segundo semestre de 2018, proporcionará maior facilidade para uma aplicação subcutânea, minimizando riscos de erros no processo, disse à Reuters o vice-presidente-executivo do Sindan, Emílio Carlos Salani.
"Como terá maior praticidade, não vai ter cansaço (de quem aplica) ao final do processo… Vai ser igual a uma vacina de criança, uma picadinha, sem choro", afirmou Salani, explicando que o processo de vacinação de um rebanho, manual, demanda grande esforço dos técnicos, e uma dose menor traria algum alívio.
A redução da dose, que deverá ser apresentada ao governo dos EUA enquanto o Brasil tenta reverter a suspensão, está entre as reivindicações de representantes do setor pecuário no Brasil para reduzir o risco de abscessos.
Com uma aplicação subcutânea facilitada pela redução da dose, se algum abscesso for gerado pela vacinação, ele será superficial e eliminado mais facilmente pelo frigorífico ou pelos fiscais do Ministério da Agricultura no processamento da carne.
Um dos problemas apontados pelos EUA foram os abscessos profundos, entremeados na carcaça, de difícil visualização.
Após a suspensão dos EUA, o ministério determinou um fatiamento da carcaça pelos frigoríficos como forma de minimizar a possibilidade de a carne ser comercializada com abscessos, os quais não apresentam problemas à saúde, segundo técnicos do governo brasileiro.
A diminuição da dose, que tem um custo unitário de 1,5 real atualmente, proporcionará ainda uma redução de custo de até 7 por cento ao pecuarista, uma questão que a indústria de medicamentos terá de lidar, disse o dirigente do Sindan, sem entrar em detalhes.
Também vai reduzir custos logísticos, pois uma caixa poderá transportar 6 mil vacinas, ante até 2,5 mil atualmente.
O Ministério da Agricultura confirmou nesta terça-feira que uma missão técnica brasileira fará reunião em Washington no dia 13 de julho para discutir medidas para a retirada do embargo provisória à carne in natura do Brasil, que tem impacto muito mais à imagem do produto nacional do que financeiro, uma vez que os norte-americanos são clientes menores.
No encontro, o ministério deverá apresentar os resultados de auditorias que estão sendo feitas nas empresas, além de melhorias em procedimentos para evitar novos problemas.
Eliminação do vírus
O setor de saúde animal está investindo 15 milhões de dólares na redução da dose e também na eliminação de um sorotipo do vírus da aftosa na vacina brasileira, disse Salani.
A indústria de medicamentos veterinários reúne no Brasil empresas como Ourofino, Boehringer Ingelheim do Brasil e Ceva Saúde Animal.
O sorotipo C será retirado do medicamento que estará disponível no ano que vem, uma vez que esse tipo do vírus está erradicado do Brasil, explicou ele, lembrando que a medida também atende a um pedido do ministério, assim como a redução da dose.
A vacina com um sorotipo a menos faz parte do processo do país para deixar de vacinar totalmente contra a aftosa, um passo que poderia colocar no futuro o rebanho brasileiro em outro patamar.
A carne de um país livre de aftosa sem vacinação é mais valorizada no mercado global.