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Nadaf diz que R$ 200 mil de esquema pagou festa da posse de Silval

O ex-secretário de Estado, Pedro Nadaf, afirmou que ter repassado R$ 200 mil ao empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf, para o pagamento de um dívida de Silval Barbosa (PMDB) com a empresa, que em 2011 realizou a festa de posse do então reeleito governador.

A revelação foi feita em interrogatório à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, na tarde desta terça-feira (4). Nadaf é réu confesso em ação derivada da 4ª fase da Operação Sodoma.

De acordo com Nadaf, o valor entregue ao empresário era referente à sua parte no suposto esquema que teria desviado cerca de R$ 15,8 milhões do Estado, por meio do pagamento da desapropriação de uma área no bairro Jardim Liberdade, no valor de R$ 31,7 milhões, à empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários.

Nadaf confirmou trecho da denúncia do Ministério Público Estadual (MPE). Segundo o ex-secretário, entre os anos de 2013 e 2014 ele foi procurado por Alan na Casa Civil para falar sobre o não pagamento do débito.

Ao repassar a demanda a Silval, Nadaf disse que ficou determinado que ele deveria arrumar dinheiro desviado para pagar metade da dívida, sendo que os outros R$ 500 mil ficariam sob responsabilidade do ex-secretário da extinta Secopa, Mauricio Guimarães.

"Era um compromisso de governo. Ficou combinado que o Maurício, que na época estava na Casa Civil, pagaria R$ 500 mil e eu pagaria outros R$ 500 mil". 

Segundo Nadaf, Alan passou a procurá-lo, pois Maurício não queria mais pagar. "Eu acabei pagando por fora cerca de R$ 450 mil. Ele passou a me cobrar mais insistentemente e eu acabei pagando".

Nadaf relatou que, para levantar o montante, utilizou R$ 200 mil que recebeu no esquema investigado na 4ª fase da Sodoma, ou seja, o desvio de cerca de R$ 15,8 milhões por meio do pagamento da desapropriação de uma área, no valor de R$ 31,7 milhões, à empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários.

Outros R$ 150 mil, segundo o ex-secretário, foram conseguidos no esquema apurada na Operação Seven: a compra de uma área de terra na região do Manso, de forma duplicada e superfaturada, por R$ 7 milhões.

Ocultação

Nadaf também disse que ocultou R$ 1,5 milhão, recebido a título de propina, com Alan, no ano de 2014.

A ocultação de R$ 1,5 milhão já havia sido relatada por Nadaf, em depoimento à Defaz, no dia 25 de julho de 2016. O ex-secretário relatou que ele e o ex-secretário de Estado de Planejamento, Arnaldo Alves, entregaram dinheiro oriundo do desvio a Alan, para que fosse investido e gerasse lucro.

Pagamento a prefeita

Em seu depoimento, Nadaf afirmou o pagamento de R$ 700 mil a atual prefeita de Juara e ex-deputada estadual, Luciane Bezerra (PSB), no ano de 2014. O pagamento seria referente a uma dívida, no valor total de R$ 1 milhão, do ex-governador Silval Barbosa com a ex-parlamentar, cujo motivo o ex-secretário afirmou desconhecer.

O suposto repasse é investigado no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), uma vez que Luciane tem foro por prerrogativa de função.

"O [ex] governador me procurou pra pedir que eu terminasse de pagar uma dívida de R$ 1 milhão pra Luciane Bezerra. Quem fazia antes era o Silvio, mas ela pediu pra mudar. Então, eu entreguei pra ela 700 mil", disse.

Divisão entre a organização

Além de confirmar o pagamento de uma dívida de campanha com o empresário Valdir Piran, no valor de R$ 10 milhões, Nadaf também detalhou quanto cada membro da organização criminosa teria ficado do montante supostamente desviado na desapropriação.

"R$ 600 mil para o Filinto [Muller], R$ 700 mil para mim, R$ 600 mil para o Afonso Dalberto, R$ R$ 700 mil para o Marcel e R$ 600 mil para o Arnaldo [Alves]", disse.

Segundo Nadaf, Marcel disse que não gostaria de receber sua parte em dinheiro e lhe perguntou se conhecia um operador para trocar cheques de sua esposa. Foi então que Nadaf apontou o então presidente da Metamat, João Justino.

Nadaf disse que intermediou os trocas. "Na primeira troca, o Justino me entregou o dinheiro, e eu entreguei para o Marcel. Falei para o Marcel que fazia um negócio com o Justino e a cooperativa de ouro em Peixoto de Azevedo. Então, eu passava para ele [Justino] recursos para comprar ouro. E aí eu falei para o Marcel disso: 'Então se você quiser o que eu estou te devendo [parte do dinheiro da desapropriação] eu pago para você em ouro'. Aí o Marcel disse que poderia receber essa parte em ouro e complementou mais em cheque, para dar em torno de 10kg. O João Justino entregou para ele cerca de 5 kg e eu entreguei depois mais 5kg pra ele, na Fecomércio".

Conforme Nadaf, ele ficou com R$ 500 mil e Marcel ficou com os 10 kg de ouro, referente a R$ 700 mil.

Briga entre Piran e Silval

Em seu depoimento, Nadaf contou sobre uma briga protagonizada por Valdir Piran, no gabinete de Silval, no Palácio Paiaguás. O empresário teria ficado sem paciência e partido para cima do peemedebista.

"Piran sempre me tratou muito bem. No entanto, o Silval esqueceu de avisar que os cheques [repassados a Piran] eram predatados. O Piran ficou muito irritado que o cheque tinha voltado. Foi muito rápido, ele entrou na sala falando que Silval era picareta, mentiroso. Ele pegou uma cadeira para jogar [em Silval] e eu segurei. Silval saiu da sala e o Piran acabou caindo no chão. Eu o ajudei a levantar",relatou.

De acordo com Nadaf, Piran estava acompanhado do filho. "Um menino muito bom, não abriu a boca pra nada".

"Receita da organização"

Nadaf disse que nunca teve dúvida em utilizar o dinheiro desviado pela organização para o pagamento de tais dívidas de campanha. "Não tinha dúvida. Eu tirava direto da receita da organização criminosa".

O ex-secretário disse ainda que era o procurador do estado aposentado, Chico Lima, quem recebia parte do dinheiro do empresário e delator Filinto Muller, que era o responsável por repassar a quantia de R$ 10 milhões a Valdir Piran, durante o período de abril a novembro de 2014. O valor total da dívida entre Silval e Piran era de R$ 40 milhões. "Ele dava a parte de Piran e devolvia o resto pro Chico".

Passagens e hotel de luxo

O ex-secretário também confirmou trecho da denúncia do MPE, na qual apontou que em 2015, o ex-secretário de Estado de Planejamento, Arnaldo Alves Neto, teve hospedagem em "hotel de luxo" na Capital paga pela Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio), então presidida por Nadaf.

Nadaf confirmou que a autorização para o pagamento da hospedagem foi dada por ele, pois a vinda de Arnaldo, que trabalhava em Brasília (DF), “foi solicitada no interesse da organização criminosa”, supostamente liderada por Silval.

"Ele [Arnaldo] ficou uns meses comigo trabalhando sem remuneração. Ele chegou a trabalhar uns dois meses pro senador [licenciado] Blairo [Maggi]. Ele deve ter reservado em nome da Fecomercio. Ele ia pra lá, pois não tinha trabalho. Ele me ajudava às vezes com analises de relatório".

Pacto

Em seu interrogatório, Nadaf também disse que entre os membros da organização criminosa instalada no Palácio Paiaguás havia uma espécie de pacto implícito pelo silêncio.

"Era implícito, mas todo mundo tinha que se cuidar. Cuidar dos seus ilicitos para não expor a organização e os membros dela", declarou.

Ameaça na prisão

Nadaf relatou ainda que se sentiu ameaçado no período em que esteve preso – entre os meses de setembro de 2015 e setembro de 2016. "Silvio [Cesar, ex-chefe de Gabinete de Silval] comentou que essas pessoas que faziam delação tinham que morrer".

Nadaf conta que ficou assustado e contou a família, uma vez que já estava com o pensamento de fazer delação. "Eu fiquei com muito receio, porque ele foi muito enfático".

Secretário "temperamental"

Nadaf disse que era responsável por ficar com a parte do dinheiro de Marcel e relatou que não era muito amigo do ex-presidente Intermat, Afonso Dalberto.

"Ficou combinado que a parte do Marcel ficaria comigo e o do Arnaldo [Souza Alves, de Planejamento] e Afonso com o Chico lima. Afonso era mais reservado. Chico Lima falava para eu tratar as coisas com ele. Eu era amigo de todos, só o Afonso que era mais temperamental. Na organização eu tinha mais diálogo com o Marcel", disse.

Nadaf disse que realizava os pagamentos aos integrantes de acordo com o que tinha. "Se eu tinha dinheiro, eu pagava em dinheiro. Se eu tinha em cheque eu entregava dessa forma".

 

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