Preso desde 23 de maio, o ex-comandante da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Zaqueu Barbosa, negou em depoimento à Corregedoria da PM ter determinado a escuta clandestina de mais de 100 pessoas que não eram suspeitas de crimes entre os anos de 2014 e 2015. Disse também que não sabia da quebra irregular, a pedido da instituição, do sigilo telefônico das vítimas, entre elas jornalistas, políticos, médicos e servidores públicos. Ele foi ouvido nessa terça-feira (27).
Os números de telefones foram inseridos numa suposta investigação do Núcleo de Inteligência da PM sobre tráfico de drogas envolvendo policiais. O caso veio à tona em maio, mesmo mês em que a Corregedoria da PM instaurou inquérito para investigar o crime. A Procuradoria-Geral da República apura de quem partiu as ordens para realização dos grampos e se o governador Pedro Taques (PSDB) sabia do esquema. Ele nega.
O advogado de Barbosa, Flávio Ferreira, disse ao G1 que o depoimento durou aproximadamente oito horas e foi acompanhado pelo Ministério Público (MPE). O coronel disse à Corregedoria que o pedido de inserção dos telefones era feito pelo 'analista', pessoa que tem acesso ao sistema de escutas.
No caso, o analista seria o cabo Gerson Correa Junior, também preso desde o dia 23 de maio, e atualmente lotado na Casa Militar. Ele continua recebendo salário normalmente pelo cargo comissionado.
Barbosa, que comandou a PM em 2015, primeiro ano da gestão Taques, disse que não tinha conhecimento da inserção de números de telefones de pessoas que não eram investigadas, prática chamada de 'barriga de aluguel', e que nunca determinou a escuta de ninguém de forma irregular.
No dia 21 de junho, foram presos preventivamente os coroneis Evandro Lesco, que comprou dois aparelhos que podem ser usados para interceptações telefônicas em maio de 2015, e Ronelson Barros. Os dois ocupavam as funções, respectivamente, de secretário-chefe e secretário-adjunto da Casa Militar, mas foram afastados dos cargos comissionados, sem direito a remuneração.
No mesmo dia, foram presos o tenente-coronel Januário Batista e o cabo Euclides Torezan, cedido ao Gaeco, do MPE, suspeitos de participação no crime, além do corregedor-geral e o diretor de Inteligência da PM, coronel Alexandre Mendes e tenente-coronel Victor Paulo Pereira. Esses dois últimos teriam avisado Lesco e Barros de que eles seriam alvo de mandados de prisão. Mendes e Pereira, porém, já estão soltos graças a uma decisão judicial.
Usando a justificativa do suposto vazamento das prisões dos então secretários da Casa Militar, o governo trocou o comando da PM no estado pela quarta vez. O coronel Jorge Luiz Magalhães foi substituído pelo coronel Marcos Vieira da Cunha para ser o novo chefe da corporação. A nomeação já foi publicada no Diário Oficial do Estado, mas Cunha ainda não tomou posse.