Agronegócio

Pecuária vive insegurança e desemprego em Mato Grosso

As delações da JBS agravam o cenário de incerteza do mercado do agronegócio em Mato Grosso. A confissão dos empresários Joesley e Wesley Batista ao Supremo Tribunal Federal (STF) engrossou uma série de crises para o setor, que já tinha sido afetado pela recessão da economia e a Operação Carne Fraca.

Nas últimas semanas o aglomerado J&F vem tomando medidas que estão forçando o mercado a se reconfigurar. Na terça-feira (20), a JBS informou que fará um programa de desinvestimentos de R$ 6 bilhões. O plano da empresa inclui se desfazer de sua fatia de 19,2% na empresa Vigor Alimentos S.A., além da participação acionária na Moy Park e dos ativos da Five Rivers Cattle Feeding e fazendas.

Na deflagração da Operação Carne Fraca, em março deste ano, a empresa suspendeu as atividades de dez plantas em Mato Grosso e começou a reabri-los lentamente. Mas com as declarações dos donos da holding à Justiça as atividades de mercado da empresa vêm caindo e forçando a novos remanejamentos.

E por que afeta Mato Grosso? É que 47% do mercado de abate no Estado pertencem ao grupo, que chegou a acumular 25 plantas de frigoríficos. Hoje, a planta de Mirassol D’Oeste está fechada e os 750 funcionários contratados foram dispensados.

Prefeita interina de Mirassol D'Oeste, Marinês 
de Campos (Foto: Assessoria)

“O grupo não anunciou que iria fechar a planta e nem conversou com a prefeitura sobre o que iria fazer com suas atividades. Simplesmente, fecharam as portas e não sabemos se irão reabrir”, diz a prefeita Marinês de Campos.

Segundo ela, o efeito JBS não foi o único fator para a queda da atividade produtiva de Mirassol, outras duas empresas da rede do setor de produção de carne fecharam as portas por causa de insuficiência para se manter no mercado. Na soma, 1,5 mil vagas de emprego foram fechadas na cidade de pouco mais de 25 mil habitantes.

“Estamos tentando abrir vagas de trabalho para encaixar esse pessoal, sendo que alguns saíram da cidade por falta de emprego, a economia é pequena e está fraca. Nossa esperança está na reabertura de planta da Minerva, que já está aceitando currículo, mas as contratações não devem ocorrer antes de agosto”, diz a prefeita.

O diretor da Frialto, Paulo Bellincanta, que opera duas plantas em Mato Grosso (Matupá e Nova Canaã do Norte) diz que o mercado de abate teve melhoria para o grupo em 20% em maio, em parte por abertura de espaço com a paralisação das atividades da JBS. Mesmo assim, existe incerteza quanto às mudanças que podem advir de desdobramentos do cenário de crises.

“Não dá para dizer que somente a JBS impactou o mercado. Tivemos a Carne Fraca, a queda do consumo interno, que está muito ruim, e a delação da JBS. Não dá para falar que o país está em crise e só o agronegócio não foi afetado. Foi sim.”

Segundo ele, os produtores hoje estão receosos com a incerteza do mercado e evitam fazer projeções otimistas para o setor. O medo está na reação que país pode enfrentar com os desdobramentos da crise política, que trava a retomada da economia, e das investigações que têm a JBS e políticos no centro da polêmica.

“Eu acredito que daqui algumas semanas o mercado pode começar a se recuperar, não acredito que possa ter impacto negativo duradouro. Mas isso é uma avaliação minha, o mercado está inseguro com a incerteza da situação num ano que já está difícil. Não sabemos o que acontecerá no segundo semestre”.

Sindifrigo nega que delações tenham impactado mercado

O presidente do Sindifrigo-MT (Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso), Luiz Antônio Martins, diz que não há impacto no mercado estadual criado por delações premiadas de donos da J&F. Ele diz que a situação de Mato Grosso começou a ser formada com a intensificação da crise econômica, no ano passado.

“Temos uma situação que envolve várias coisas e não uma criada exclusivamente pelas delações da JBS. O mercado atual está afetado pela crise econômica, que vem prejudicando não só Mato Grosso e sim todo o país”.

Luiz Antônio afirma que Mato Grosso mantém a variação de preço da cabeça de boi entre 10% e 12% abaixo de outros estados produtores, por exemplo, o de São Paulo. “Essa diferença se mantém e isso por causa da crise. Se hoje o preço está mais baixo é porque houve queda também em outras regiões”.

O presidente do Sindifrigo, no entanto, ressalta que o cenário de incerteza deixa o mercado em desconforto e um prolongamento da situação pode gerar instabilidade.

“A demora na retomada da economia, que está travada pela crise política, pode piorar a situação de instabilidade do mercado”.

Acrimat diz que abate aumentou, mas preço registrou queda

Diretor-executivo da Acrimat, Luciano Vacari (Foto: Reprodução)

A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) afirma que os abates apresentaram alta de 50% em maio, atingindo 435,5 mil animais, na comparação com abril, mesmo com a paralisação de algumas plantas. Porém, os preços estão em queda, acumulando seis semanas consecutivas, de cerca de 10% desde o início do ano.

“O problema não está em vender, mas nas condições existentes. Algumas empresas não estão pagando à vista, há um clima de incerteza no mercado com relação ao futuro de alguns grupos e os pecuaristas são reféns dessa situação. Não há opções, nem para quem vender nem em quais condições”, diz o diretor-executivo Luciano Vacari.

Hoje, 22 plantas permanecem fechadas em Mato Grosso e um grupo de pecuaristas trabalha para reativar pequenos frigoríficos para manter a demanda. No entanto, segundo a Acrimat, essa retomada de atividades ainda está na estimativa. Já as plantas em atividade somam 25.

Quanto à variação do preço da arroba no mercado, o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada) diz que em janeiro a arroba do boi gordo estava em média R$ 127 e passou para R$ 118 nas últimas semanas, à vista e sem desconto do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural), que equivale a 2% do valor total pago ao produtor.

Conforme a Acrimat, 70% do mercado de Mato Grosso são dominados por quatro empresas. E em algumas regiões do Estado somente uma empresa está em operação. Situação que possibilita a manipulação do mercado e imposição preços e condições de venda para o pecuarista.

 Pecuaristas querem reativar frigoríficos e isenção de ICMS

Marco Túlio Duarte Soares, presidente da Acrimat
(Foto: Reprodução)

A Acrimat confirmou que existe em Mato Grosso a intenção de pecuaristas de reabrir pequenas e médias plantas frigoríficas para ocupar o espaço que vem sendo deixado pelo recuo da JBS no mercado.

Luciano Vacari afirma que pecuaristas de várias regiões já manifestaram a intenção de assumir o setor, mas a queda no preço da arroba do boi gordo e a incerteza no setor têm pesado no deslanche da ação.

“A alternativa de exportar para abate em outros estados garantia mais oportunidades, concorrência e assim condições de venda. Não faltam compradores, mas alternativas, diversidade e concorrência”, afirma Vacari.

Outra medida solicitada pelos pecuaristas é a isenção pelo governo do ICMS no envio de gado para abate em outros estados. Dois pedidos para avaliação da retirada da cobrança já foram enviados para análise do governo, entre o fim de maio e o dia 6 deste mês.

Conforme a Acrimat, a concentração empresarial no setor da carne é um problema que vem se agravando desde 2008, após a falência de algumas indústrias e a aquisição das mesmas por três grandes grupos nacionais.

Segundo o presidente a associação, Marco Túlio Duarte Soares, a redução do ICMS, neste momento, é a única saída para os pecuaristas. “Esperamos sensibilidade do poder público com o setor que sempre produziu riquezas para o Estado e um dos responsáveis pela projeção econômica de Mato Grosso, mesmo em tempos de crise. Neste momento, é a vez do governo estender as mãos para nós”, declara Marco Túlio.

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