Jurídico

Nadaf exercia função de arrecadador de propina, diz ex-governador

O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) afirmou que na organização criminosa criada dentro do Executivo estadual, o ex-secretário de Estado, Pedro Nadaf, atuou como arrecadador de fundos para pagar as dívidas da campanha eleitoral acumuladas no pleito de 2010.

Silval e Nadaf são réus em ações penais derivadas das operações Sodoma e Seven, que apuram diversos esquemas de corrupção na gestão estadual passada. Por conta das confissões e de supostas ameaças, no dia 13 de junho, a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado, converteu a prisão preventiva de Silval em domiciliar. Após um ano e nove meses no Centro de Custódia da Capital (CCC), o político está em casa, usando tornozeleira eletrônica.

A afirmação consta no depoimento prestado pelo peemedebista à Delegacia Fazendária (Defaz), realizado no dia 1º de junho. A confissão de Silval Barbosa foi tomada pelos delegados Márcio Moreno Vera e Alexandra Fachone, junto a defesa do ex-governador, Délio Lins e Silva Junior.

Silval declarou que atribuiu a Nadaf a função de arrecadar propina e abordar empresários para garantir a entrada de propina no esquema e saldar as dívidas de campanha e compromissos políticos que teria firmado.

“Por conta das dívidas de campanha eleitorais e compromissos políticos assumidos em razão das eleições de 2010, assumiu um grande passivo a ser saldado, motivo pelo qual necessitou da ajuda de alguns secretários de Estado,tendo delegado para Pedro Nadaf a função de levantar recursos para o pagamento de dívidas, sendo que em algumas oportunidades a função de abordagem aos empresários era repassada para alguns secretários de Estado”, diz trecho do depoimento de Silval.

A investigação oriunda da Operação Sodoma foi deflagrada, em setembro de 2015, após a denúncia do empresário João Rosa, dono do grupo Tractor Parts. Ele teria pago cerca de R$ 2,5 milhões em propina para receber incentivos fiscais realizados por meio do Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso).

“No caso do Prodeic concedido às empresas de João Rosa não se recorda de ter sido avisado acerca de pagamento de propinas, mas incumbiu a Pedro Nadaf as abordagens aos empresários, tomando conhecimento posterior que parte dos valores recebidos de João Rosa foram utilizados para pagamento de parte de uma dívida com um empresário”, diz outro trecho. 

Nadaf foi secretário da Sicme no Governo Blairo Maggi e continuou ocupando o mesmo cargo a partir de 2010, quando Silval assumiu o cargo de governador do Estado do Mato Grosso. Ao final de 2012, foi nomeado secretário-chefe da Casa Civil.

Ainda em seu depoimento, Silval disse que Nadaf o auxiliou bastante na campanha de 2010, com o apoio político e financeiro e que exerceu uma função estratégica muito importante na abordagem de empresários para levantamento de recursos. "Exercia a função de levantar fundos para pagamento das dívidas e dos compromissos políticos ilícitos", diz trecho do depoimento. 

"Assumiu o papel de Eder Moraes, mas mesmo antes disso já operava na obtenção de propina na Sicme na concessão de incentivos fiscais e créditos tributários a empresas sediadas no Estado, sendo que a partir de 2013 também exercia o papel de articular entre o chefe e Secretários, bem como agia administrando o pagamento das dívidas contraídas pelo grupo criminoso e mantinha contato com operadores financeiros". 

Confirmações

De acordo com o depoimento de Silval Barbosa, trechos de suas declarações completam as confissões realizadas por Pedro Nadaf anteriormente.

Em depoimento à juiza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado, Nadaf confessou que era um dos responsáveis por quitar dívidas de campanha de Silval, tendo garantido o pagamento dessas dívidas.

"Eu era uma pessoa que detinha total confiança do governador, era responsável por atender empresários e até secretários que não tinham interesses em participar da organização criminosa. Na Casa Civil, eu atendia secretários que iam tratar de questões financeiras. Já o governador atendia aquilo que fosse dar um retorno para a organização criminosa", revelou Nadaf durante audiência em agosto de 2016.

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Valquiria Castil

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