Andar a cavalo pode ser uma atividade extremamente benéfica para a saúde. Esta simples atividade pode estimular mais de 1.800 músculos do corpo humano, fazendo com que uma pessoa deficiente física sinta a mesma sensação de estar andando enquanto cavalga. Por este motivo, a equoterapia tem sido cada vez mais procurada para tratamentos de deficiências físicas e mentais.
Para Ana Julieta Pompeu de Barros, proprietária da Hípica Rancho Dourado, localizada na região do Porto, em Cuiabá, esta é uma atividade gratificante, além de benéfica, tanto para os pacientes como para a família. Ela explica que os praticantes chegam até a chorar no momento em que recebem alta.
“Com três meses já dá para notar uma diferença. A melhora ocorre em todos. Seria injusto falar de apenas uma pessoa. Uma coisa que os pacientes não gostam aqui é de receber alta. Eles até choram porque gostam muito. Realmente é uma atividade muito gratificante”, explica Ana Julieta.
Profissional de marketing, Ana Julieta conta que abandonou a profissão para investir no que realmente gosta ainda na década de 90, quando só existia o Parque de Exposições. Já a ideia da equoterapia veio através de um amigo terapeuta ocupacional, Jorcy Junior, com o propósito de atender a alta demanda para o tratamento alternativo.
Ana Pompeu explica que o rancho só aceita pacientes com orientação de um profissional médico ou psicólogo. As aulas têm duração média de 30 minutos e ocorrem uma vez na semana, geralmente aos sábados, com uma equipe de cinco profissionais (fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e dois fisioterapeutas).
Ela observa que cada praticante é direcionado para a área que o médico que fez a avaliação indicar. “Um que tem paralisia tem que ser atendido pelo fisioterapeuta, porque ele iria montar junto com o praticante, fazendo os exercícios. E também tem o praticante que vai sozinho, acompanhado de uma psicóloga”, esclareceu.
Aproximação dos animais
Apesar de os animais serem extremamente dóceis, é comum o paciente ficar com receio de se aproximar, o que exige jogo de cintura por parte dos profissionais. Ela conta que certa vez uma criança com autismo se recusava de todas as maneiras chegar perto do cavalo.
Diante da situação, o terapeuta ocupacional Jorcy Junior teve que criar um recurso para realizar a aproximação, que foi dar banho no animal com ajuda da criança.
“O que fez a criança se aproximar foi o fato de o terapeuta criar esse recurso que foi o banho. Com isso, ela criou um vínculo grande com o animal e foi desenvolvendo, até que começou a montar no cavalo e participar das atividades”, relata.
Equoterapia melhora postura e equilíbrio
De acordo com o terapeuta ocupacional Jorcy Junior, a equoterapia trabalha o “biopsicossocial”, ou seja, o físico, mental e social. E com poucos meses de terapia é possível perceber melhoras na postura, equilíbrio, força muscular, além de aumentar a concentração e o raciocínio.
A montaria, detalha o profissional, pode ser dupla, quando a criança tem dificuldades motoras ou simples, quando a criança tem facilidade de ficar em cima do animal sozinha. Jorcy explana que a Associação Nacional da Equoterapia (Ande) orienta que as aulas sejam de 30 minutos, o que pode emitir de 1.800 a 2.000 impulsos no sistema nervoso.
Simultaneamente à andadura do cavalo, são realizados exercícios de cinesioterapia para estimular os músculos da criança. “Nós vamos avaliar o paciente e ver qual é a limitação dele e vamos realizar a estimulação dentro dessa limitação. Mas existem outras terapias associadas, que vão proporcionar uma melhor qualidade de vida do paciente, mas são todas através de exercícios cinesioterápicos”, explicou.
Para Joelma Crespim Azambuja, 38, mãe do Davi, de dois anos e seis meses, de Pontes e Lacerda (443 km de Cuiabá), a equoterapia está sendo fundamental para evolução de seu filho, que tem icterícia neonatal e que atacou o sistema nervoso central.
Com o problema, Davi perdeu a audição e os movimentos. “Agora ele está começando a segurar o pescoço. Tudo isso é reflexo da equoterapia e das outras terapias complementares”, avaliou Joelma.
Ela disse que ficou sabendo da técnica através de terceiros e que gostou das avaliações positivas que recebeu. Quem gostou também, segundo a mãe, foi Davi que faz toda a terapia sem chorar, o que segundo ela não é comum com o seu filho.
“Os fisioterapeutas que acompanham o Davi falam que ele não chora para fazer, fica quietinho, já chegou até a dormir em cima do cavalo. Eu acho muito bom, porque algumas crianças choram muito e ele não chora”, disse.
Cavalos
O rancho tem capacidade de atender até 500 pacientes por mês, segundo Ana Pompeu, que reserva cinco animais para a prática da equoterapia. São cavalos de várias raças e todos extremamente mansos.
“Depende da cabeça do cavalo. Eles são como seres humanos, há os bons e os ruins. Mas para a equoterapia são todos mansos. Se a criança chegar a cair, o cavalo até para”, diz ela, acrescentando ainda que tem outros animais que poderiam ser utilizados, mas até o momento apenas 200 pacientes fazem tratamento.
Ela explica que está tentando fechar parcerias com o Poder Público, mas que enfrenta dificuldades. Hoje apenas uma hípica possui este tipo de parceria, o que permite oferecer preços mais atrativos para os pacientes.
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