No cerrado, em pouco tempo junto aos grupos da etnia Nambiquara, Jacutinga percebeu o influente grau de decisão das mulheres na vida aldeã, ainda que ocultado ao olhar do estrangeiro por elas mesmas. Foi a vontade das mulheres que convenceu seus maridos a transferem suas casas próximas à BR 364 e à vila Chefão – que ilusoriamente prometiam aos índios tempos de bonança – para o porto pesqueiro do Juína.
Aproximou-se de Lourenço, Fuado, Reginaldo, Estevão, Milton, Erdo, Eutímio, Orivaldo, Daniel, João Maxixe, Eládio, Rufino, Ezequiel, Raimundo, Zezinho, tornando-os, até hoje, seus grandes amigos. Foi também graças a eles que Jacutinga colocou em ação seu plano de construir a estrada, aberta a machado, até o porto Juína, com mais ou menos 30 quilômetros de extensão. Por ser no cerrado, em poucos dias chegaram ao destino. No mutirão, gêneros alimentícios juntaram-se à chicha e ao beiju de mandioca, enquanto que munição e implementos de pesca enriqueciam as refeições.
Na abertura da estrada, com o casal Lourenço-Anita e seus filhos, em uma expedição venatória (de coleta frutos, insetos, tubérculos e matérias-primas), Jacutinga viveu mais intensamente as adversidades e sabedorias dos indígenas. Certa ocasião, a paisagem, que rapidamente mudou a coloração do dia com a chegada de nuvens escuras, anunciou uma tempestade. O pajé Lourenço, a usar um amuleto e a dar sopros longos e sonoros, tentou desviar a chuva de seu caminho. Mas, amuleto e sopros não atingiram a ira de Wayulakalosu, ser sobrenatural, dono da chuva de gelo, possuidor de vários braços que, ao invés de mãos, tem cabaças em cada um deles, repletas de pedras de gelo. O pajé viu a tempestade de gelo se aproximar e, com um berro, fez com que todos sumissem pelo cerrado. Jacutinga, atônito, se viu só. Depois, voltaram com folhas de guariroba para construção de um abrigo. E logo a noite chegou. Com ela, a fogueira, as histórias…
Com a estrada pronta e com os índios longe da BR 364 e do Chefão, o porto pesqueiro foi por um longo tempo um dos acampamentos de Jacutinga e dos índios.