A delegada Alana Cardoso disse que foi ilegal o interrogatório feito pelo secretário Rogers Jarbas (Segurança Pública) para conseguir informações sobre um suposto sistema de grampos telefônicos pela Polícia Civil. Ela foi responsável por registro de denúncia, que gerou inquérito para investigar a hipótese de trama envolvendo duas servidoras públicas e o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, em 2015.
A delegada protocolou na Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT) um protesto contra a medida do secretário Jarbas e pede acompanhamento pela instituição do caso, por temer por sua vida.
“Houve violação grave a preceitos fundamentais como o devido processo legal, ampla defesa, presunção de inocência e, principalmente, à legalidade, já que a delegada foi ouvida sem qualquer procedimento formalmente instaurado”, informa trecho do documento, que o site Midia News teve acesso.
Conforme a delegada,o ofício redigido pelo secretário Roger Jarbas, com base nas informações dadas por ela no depoimento, contém “grave violação de legalidade”, dentre eles o pedido de apuração da participação da delegada no suposto esquema de grampos e a falta de acesso dela ao documento oficial produzido pela secretaria sobre seu depoimento.
Informalidade
O depoimento foi colhido pelo secretário Roger Jarbas no dia 26 de maio e cinco dias mais tarde passou a integrar procedimento oficial de investigação da Polícia Civil, sob a responsabilidade do diretor-geral da entidade, Fernando Vasco Sipenelli.
A entrevista foi acompanhada pelo secretário-adjunto da Inteligência, Gustavo Garcia Francisco. Para justificar o depoimento, teria sido mostrado “documento assinado pelo governador Pedro Taques, [mas] o qual não teria sido dado para leitura [da delegada]”.
Esse documento acompanharia ofício emitido pela juíza da Vara Especializada em Crime Organizado, Selma Arruda, que informava a identificação do nome da delegada, em auditoria, em pedido de interceptação telefônica de duas pessoas.
No ofício protocolado na OAB-MT, a delegada Alana Cardoso disse que havia recebido a informação de que a então servidora Tatiana Sangalli Padilha estaria em “contato com o bicheiro João Arcanjo Ribeiro e que poderiam estar arquitetando um atentado contra a vida do governador”.
Depoimento
Conforme ofício o Secretaria de Segurança Pública, no depoimento, a delegada Alana Cardoso aponta o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, como a origem de denúncia de trama contra a vida do governador Pedro Taques.
O ataque estaria sendo planejado à época por Tatiana Sangali Padilha, apontada como a amante de Paulo Taques, e Caroline Mariana dos Santos, que ocupava o cargo de secretária do ex-chefe da Casa Civil, e João Arcanjo Ribeiro.
Ambas as servidoras tiveram o número de telefones grampeados por pedido de Paulo Taques, conforme o depoimento da delegada Alana Cardoso, e passaram a integrar uma operação sigilosa da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).
Alana Cordoso afirmou ainda que a investigação teve início após receber informação da ex-secretária-adjunta da Inteligência, delegada Alessandra Saturnino, em março de 2015, que teria intermediado a declaração de denúncia a Paulo Taques.
“[..] tinha a notícia de que a investigada estaria indo visitar João Arcanjo naqueles dias e que como não havia nenhum documento que pudesse subsidiar a instauração de uma medida cautelar, foi ponderada a possibilidade da inserção dos dois números na Operação Forti, cujo a prorrogação estava sendo promovida, até que pudéssemos instaurar um inquérito", diz ela a delega no depoimento.
Ela negou que tenha infringido alguma lei ao dar início ao inquérito, visto que seguiu instruções sobre o suposto caso de suspeita de atentado contra o governador.
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