Opinião

RAONI E STING

O país, mais do que nunca, acha-se mergulhado em águas malcheirosas da corrupção, “enquanto homens exercem podres poderes” – verso de uma das músicas cantadas no último domingo de maio por Caetano Veloso na Praia de Copacabana, no “Rio Diretas Já”. Em meio ao caos político, faz bem lembrar da dupla Raoni e Sting, formada em Altamira, Pará, em 1989. Em fins do ano passado, o líder indígena Metuktire e o cantor britânico se reencontraram e discutiram a hidrelétrica de Belo Monte.

Por um longo tempo, Raoni e Sting percorreram diversas partes do mundo para denunciar a destruição da floresta Amazônica e o descaso do governo brasileiro com os povos indígenas, até conseguirem obter recursos para fundar a Rainforest Foundation, instituição voltada para conservação ambiental e demarcação das terras indígenas.

Ainda que não andem mais por este mundo afora em campanha em prol da floresta Amazônica, Raoni e Sting podem ser considerados velhos amigos, aos moldes do que escreveu Milan Kundera sobre a amizade em “A Identidade”. De volta ao Brasil, Sting encontrou um cenário de incertezas ainda maior para os povos indígenas: em Brasília, no Acampamento Terra Livre, a polícia cometeu atos de violência contra mais de 1.500 lideranças indígenas, atingidas por bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha; o povo Munduruku, com bordunas, arcos e flechas, interditou um trecho da Transamazônica, onde há o escoamento da produção de soja, em represália ao descaso do governo em demarcar suas terras e ao desmonte da Funai; no Maranhão, o povo Gamela foi vítima dos produtores rurais que cobiçam suas terras; em Brasília, foi prorrogado o funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito Funai-Incra. Como se não bastasse, o Conselho de Direitos Humanos da ONU recomendou ao Brasil deter violações contra os povos indígenas, defensores dos direitos humanos, populações pobres e carcerárias.  

Como na canção “Podres Poderes”, pergunta-se: “será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica que sempre precisará de ridículos tiranos”?

Anna Maria Ribeiro Costa

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Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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