A ex-funcionária da extinta Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana (Setpu), Tatiana Sangalli, negou que tenha tido algum relacionamento amoroso com o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, como apontou quebra de sigilo telefônico na operação da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) denominada Querubim.
Tatiana foi uma das vítimas de interceptações telefônicas ilegais, na qual envolveria policiais militares e membros do governo Pedro Taques (PSDB).
Por meio de nota, a ex-servidora estadual disse estar sendo vítima de um ato “ardil” e “sorrateiro”.
“Esclareço ainda que nunca tive qualquer envolvimento com o João Arcanjo Ribeiro, excerto o fato de ser amiga de sua filha Kelly, assim como nunca tive qualquer relacionamento com qualquer senador da República”, disse, rebatendo relatório da GCCO e boatos envolvendo seu nome.
“Não permitirei, em hipótese alguma, que meu nome seja usado para encobrir crimes de quem quer que seja, posto que sou vítima de um ato ardil e sorrateiro”, completou.
Tatiana confirmou, no entanto, que manteve um relacionamento com o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, que foi exonerado no dia 11 de maio, após o escândalo dos grampos telefônicos vir a tona.
De acordo com a ex-amante, as afirmações de que, em ligações interceptadas na Operação Querubim, teria revelado o casamento com Arcanjo, tem como objetivo desviar a atenção da opinião pública.
“Tais notícias visam apenas denegrir a minha imagem, distorcendo fatos e buscando que se desviem do objeto maior que deve ser investigado: escutas ilegais e clandestinas com interesses pessoais, utilizando de cargos públicos e de membros de outros poderes”, afirmou.
“Esclareço que mantive um relacionamento amoroso com o ex-secretário chefe da Casa Civil entre os anos de 2009 até o início de 2015, sendo que, talvez por isso, tenha sido alvo de escutas ilegais”, completou.
Outro lado
Procurado pela reportagem, o ex-secretário Paulo Taques afirmou que não irá se manifestar sobre a questão no momento.
Operação Querubim
Relatório realizado pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) apontou que Tatiana Sangalli, já havia sido grampeada durante investigação da Polícia Civil, no âmbito de operação denominada Querubim.
O nome de Sangalli surgiu como uma das vítimas de supostos grampos ilegais realizados por um núcleo da Polícia Militar, por meio de tática conhecida como “barriga de aluguel”, em que números de telefones de pessoas comuns são inseridos em pedidos judiciais de quebra de sigilo, sem qualquer relação com investigações.
De acordo com portaria realizada pelo delegado Flávio Henrique Stringueta, então titular do GCCO, no dia 25 de março de 2015 ele recebeu uma ligação anônima de um telefone público, em que o denunciante relatou que o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro – preso na Operação Arca de Noé, em 2003 – estaria arquitetando ações de vingança contra o governador Pedro Taques (PSDB). A intenção, conforme a denuncia, era acabar com a vida do tucano.
"Dando sentido dúbio a essas palavras, não se sabe se colocando fim à sua vida ou fim ao seu mandato eletivo, ou carreira política", diz trecho da portaria.
Stringueta relatou que foi informado de que a filha de Arcanjo, Kely Arcanjo Ribeiro Zen, se encontrava frequentemente com Tatiana, ex-funcionária da Sinfra e da Secretaria de Transporte. Por sua vez, Tatiana era amiga de Caroline, uma funcionária da Casa Civil, que passaria, regularmente, informações sobre a rotina e agenda do governador e de Paulo Taques.
Com a denúncia anônima, o delegado deu início a investigação, determinando a realização de diligências para identificar o local exato em que o telefone público estava instalado; quem foram as pessoas que visitaram Arcanjo nos dois anos anteriores a denúncia; além de o levantamento de informações sobre Tatiana, Muvuca, Caroline e Kelly.
O segundo relatório parcial elaborado pelo Núcleo de Inteligência Policial da GCCO, em 28 de abril de 2015, a interceptação de uma ligação de Tatiana, mostrou sua conversa com um amigo apelidado de Dudu, em que ela relatou que iria se casar com o “Homem de Preto”, que viria a ser Arcanjo.
De acordo com o relatório, Dudu orientou Tatiana a fazer uma procuração a uma terceira pessoa, para que fosse formalizada a união estável com o ex-bicheiro.
Outra conversa interceptada mostra conversa com uma mulher não identificada. Tatiana volta a falar sobre o casamento com o “Homem de Preto”.
Segundo a conclusão do delegado Stringueta, a investigação apontou que não havia “registro de áudios de Tatiana tentando contra o governador Pedro Taques ou sua administração”.
Entre os itens elencados no relatório, está que a intenção de Tatiana era de incomodar o ex-secretário Paulo Taques. “Tatiana tem ressentimentos em face de Paulo Taques e articula ações a fim de perturbar sua relação com sua esposa (casamento)".
Grampos ilegais
A “arapongagem”, de acordo com a denúncia do promotor de Justiça Mauro Zaque e investigada pela Procuradoria-Geral de República (PGR), tinha entre outros alvos, o nome da deputada Janaina Riva (PMDB), do advogado José do Patrocínio e do jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”.
A suposta quebra de sigilo telefônico ilegal era feita por meio de um esquema conhecido como “barriga de aluguel”, em que números de telefones de pessoas sem conexão com uma investigação são inseridos em um pedido judicial de quebra de sigilo telefônico.
Além da deputada Janaina Riva, do jornalista José Marcos dos Santos “Muvuca” e do advogado José do Patrocínio, a lista de números telefônicos supostamente grampeados clandestinamente pela Polícia Militar de Mato Grosso também traz contatos de servidores da Assembleia Legislativa, ex-secretário adjunto da Capital, assessores parlamentares e até de um ex-desembargador do Tribunal de Justiça (TJ-MT).
A suposta arapongagem em Mato Grosso teve repercussão nacional na noite deste domingo (15), quando foi revelado que Janaina, Muvuca e Patrocínio tiveram o sigilo telefônico quebrado por meio de um esquema conhecido como “barriga de aluguel”, em que números de telefones de pessoas sem conexão com uma investigação são inseridos em um pedido judicial de quebra de sigilo telefônico.
Neste caso, os contatos foram inseridos no pedido de quebra de sigilo telefônico no âmbito de investigação de tráfico internacional de drogas.
Outros que integram a lista são: o atual secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Vinicius Hugueney (PP); o assessor do deputado Wagner Ramos (PR), Eduardo Gomes Silva Filho; o assessor especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Romeu Rodrigues da Silva; a jornalista Larissa Malheiros Batista; a filha do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, Kely Arcanjo Ribeiro Zen; os servidores da Assembleia Legislativa, Mario Edmundo Costa Marques e Carlinhos Bergamasco (já falecido); desembargador aposentado José Ferreira Leite; e a gerente de Inteligência e Contra Inteligência da Casa Militar, Claudia Rodrigues de Gusmão.
Confira a nota de Tatiana Sangalli na íntegra:
“Eu, Tatiana Sangalli Padilha, através desta nota venho manifestar-me no seguinte sentido:
1- Desde que veio à tona a denúncia de que grampos foram realizados em diversos telefones, de forma ilegal e clandestina, aproveitando-se de processos criminais em curso, meu nome tem sido utilizado em diversas matérias jornalísticas sem qualquer fundo de veracidade.
2- Dois telefones que eram de minha propriedade e uso nos anos de 2014 e 2015 foram incluídos em um processo judicial que tramita na Comarca de Cáceres, como se eu fosse membro de uma organização criminosa de tráfico de drogas, sendo que jamais tive qualquer envolvimento com os policiais militares nos processos mencionados;
3- Esclareço que mantive um relacionamento amoroso com o ex-secretário chefe da Casa Civil entre os anos de 2009 até o início de 2015, sendo que, talvez por isso, tenha sido alvo de escutas ilegais;
4- Esclareço ainda que nunca tive qualquer envolvimento com o João Arcanjo Ribeiro, excerto o fato de ser amiga de sua filha Kelly, assim como nunca tive qualquer relacionamento com qualquer senador da República, acreditando que tais notícias visam apenas denegrir a minha imagem, distorcendo fatos e buscando que se desviem do objeto maior que deve ser investigado: escutas ilegais e clandestinas com interesses pessoais, utilizando de cargos públicos e de membros de outros poderes.
5- Exijo sim, que se apure a fundo esse crime praticado, e que sejam apresentados o mais rápido possível à sociedade os autores desses delitos.
6- Não permitirei, em hipótese alguma, que meu nome seja usado para encobrir crimes de quem quer que seja, posto que sou vítima de um ato ardil e sorrateiro.
7- Buscarei na Justiça a reparação dos danos que eu e minha família estamos sofrendo por atos injustos e abusivos.
Tatiana Sangalli Padilha”
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