Paulo Celso Pereira – O Globo
Renúncia, impeachment ou cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral. Basicamente são esses três os caminhos existentes hoje para o presidente Michel Temer, diante da gravidade das denúncias trazidas a público pelo colunista Lauro Jardim.
O primeiro depende exclusivamente de Temer, que até este momento o rejeita categoricamente. O impeachment demoraria meses e, assim como a renúncia, ensejaria uma eleição indireta, feita pelo mesmo Congresso Nacional que hoje é alvo central da Operação Lava-Jato.
É por isso que o caminho da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, que parecia não mais assustar tanto o presidente, volta a ser apontada como a rota mais segura. Desde 2015, com Dilma ainda no poder, o TSE sempre foi apontado como um "escape" institucional, uma porta de saída quando a crise se mostrasse incontornável. O momento da corte começar a desempenhar esse papel pode chegar no próximo dia 6, quando está marcado o início do julgamento da chapa.
Já não há dúvidas de que foram cometidos diversos crimes eleitorais pela campanha da presidente Dilma Rousseff. Por isso, Temer trabalhava intensamente pela inventiva separação da chapa, que, contrariando toda a jurisprudência da corte, visava manter o vice no cargo mesmo reconhecendo que sua chapa só chegou ao poder após cometer crimes eleitorais. Em nome da "estabilidade" do país, ministros da corte sinalizavam que poderiam aderir à invencionice. Se há algo que desapareceu desde ontem foi a dita "estabilidade".
Se nunca foi popular na sociedade, o presidente Michel Temer conseguiu antes mesmo de chegar ao Planalto convencer os principais atores econômicos e políticos de que teria condições de fazer a chamada "ponte" – ou "pinguela", nas palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — até 2018.
O caminho seria através das reformas que o país precisa para sair da mais profunda recessão de sua história, deixada pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Na manhã desta quinta-feira, o relator da reforma trabalhista, Ricardo Ferraço, anunciou que a tramitação da matéria, que é muito menos impopular que a da Previdência está suspensa. A equipe econômica, por sua vez, já descarta que a mudança no sistema previdenciário seja aprovado no curto prazo. Ou seja, a ponte ruiu.
O cenário à frente é de absoluta incerteza. A primeira dúvida óbvia é por quanto tempo Temer conseguirá se segurar no cargo. A segunda é que tipo de eleição vem depois. Renúncia e impeachment ensejam claramente eleições indiretas, a menos que uma proposta de emenda constitucional, de difícil tramitação, mude isso.
Hoje não há nenhum candidato claro para uma eleição congressual além do óbvio nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que assumiria o mandato em caso de vacância e podeira disputar no cargo a "reeleição".
Uma eventual cassação no TSE, no entanto, abre espaço para um debate jurídico sobre a realização de eleições diretas, que seria definida pelo Supremo Tribunal Federal.
O grupo político de Temer não tem qualquer condição de disputar com chances eleições diretas. O ex-presidente Lula, que corre risco de ser condenado pelo juiz Sérgio Moro em julho, lidera todas as pesquisas de intenção de voto mas tem também a maior rejeição entre os possíveis candidatos.
O PSDB pode chegar ao próximo pleito destroçado da mesma forma como o PT chegou ao de 2016, após ver vários tesoureiros presos e seus principais dirigentes acusados. Presidente nacional do partido, o senador Aécio Neves se tornará símbolo equivalente entre os tucanos
Para piorar, a situação dos dois correligionários que desde 2002 rivalizaram com ele o posto de candidato presidencial – o senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin – também estão citados nas delações da Lava-jato, especialmente na Odebrecht, embora em situação menos delicada.
É difícil acreditar que o prefeito João Doria, principal sopro de renovação na legenda, deixe a prefeitura paulista com menos de seis meses de mandato para disputar um pleito tão incerto como o que se pode avizinhar.
Assim, a tendência é que cresçam os nomes de outsiders ou candidatos que se apresentaram nos últimos anos como terceira via, especialmente a ex-senadora Marina Silva, que hoje não tem mandato e figura bem em todas as pesquisas eleitorais.