Durante décadas a gordura foi considerada a grande vilã da alimentação e a principal causadora da obesidade e das doenças cardiovasculares. Tradicionalmente alimentação bem restrita em gorduras (ou low fat) era recomendada para todos que quisessem perder peso ou estivessem com o colesterol alto ou mesmo fossem diabéticos ou hipertensos, e a indústria alimentícia não poupou esforços para atender a essa demanda, oferecendo uma infinidade de produtos “light” ou “zero gordura” (produtos em que a gordura é substituída por mais carboidrato, numa troca muito pior, na maioria das vezes).
Nos estudos atuais ressurgiram as dietas low carb/high fat, com o consumo da gordura saturada, do ovo, da manteiga e até mesmo do bacon e o resultado foi uma busca um tanto desenfreada por este tipo de alimentação . Fala-se muito em aumentar o consumo da gordura para compensar a (grande) restrição dos carboidratos, e para muita gente está valendo qualquer tipo de gordura, a regra tem sido: quanto mais, melhor: bacon, queijos amarelos, linguiça, presunto, carne vermelha com bastante gordura etc., além das oleaginosas (castanhas, amêndoas etc.), abacate e coco. O equilíbrio e bom senso nunca são demais, já que exagerar na gordura, apesar de dar mais saciedade, pode contribuir realmente para o ganho de peso (e recuperação do peso perdido) e para o aumento das doenças metabólicas, como as cardiovasculares e o diabetes tipo 2.
O consumo aumentado dessas gorduras altera a nossa microbiota intestinal. Praticamente tudo no mundo em que vivemos contribui para termos uma microbiota intestinal alterada: hábitos alimentares errados (muito açúcar, carboidratos refinados, poucas fibras, muitos aditivos químicos, muito glúten etc.), poucas horas de sono, sono de qualidade ruim, estresse, uso frequente de antibióticos e de medicamentos que diminuem a acidez do estômago, entre outras coisas. Assim, passamos a ter mais bactérias Gram negativas (bactérias “do mal”), que ao morrerem chegam facilmente à nossa circulação, causando inflamação principalmente onde a gordura está localizada, inclusive no fígado. Depois que a gordura é digerida, os ácidos graxos resultantes precisam ser distribuídos pelo corpo e, para isso, são colocados numa esfera microscópica chamada de quilomícrons. Essas pequenas “bolinhas” também transportam as tais bactérias ruins Gram negativas por todo o corpo.
Quanto mais gordura, mais quilomícrons são formados e mais bactérias (ou LPS) são espalhadas pelo corpo, gerando mais inflamação e levando à resistência insulínica (aquela que todo mundo tenta evitar quando corta os carboidratos da alimentação). E se pensarmos que muitas pessoas, ao aumentar a gordura, cortam inclusive os carboidratos das frutas e vegetais, o corpo fica sem defesas antioxidantes e anti-inflamatórias para combater essa inflamação. O efeito disso acaba sendo bem parecido com o efeito de uma alimentação cheia de açúcar e carboidrato ruim. Sem falar que acaba sendo também uma alimentação com excesso de sódio (que piora a inflamação, aumenta o risco de cálculos renais e perda de cálcio dos ossos) e pobre em potássio e magnésio. Outro problema é que geralmente os adeptos das dietas high fat consomem muita carne vermelha, que por sua vez contém uma boa quantidade de carnitina, fundamental para a “queima” de gordura. Se a microbiota intestinal estiver ruim, essa carnitina será metabolizada em compostos tóxicos que aumentam o risco de aterosclerose (formação de placas de colesterol, aquelas que entopem as artérias).
Então o que é melhor? Melhor se entupir de pão, bolo e biscoito? Não! Claro que não!!! A dica é reduzir os carboidratos “ruins” e priorizar os bons (como o das frutas e os tubérculos – mandioca, cará, inhame, batata-doce) –, aumentar gorduras boas (peixes, azeite de oliva, abacate, coco, oleaginosas, gema de ovo) e não comer as gorduras ruins como bacon, queijos amarelos, carne vermelha com gordura, linguiça etc.