Cidades

Mulher com transtorno mental é encontrada nua em empresa

Foto: Internauta

Os funcionários de uma concessionária de veículos, em Cuiabá (MT), foram surpreendidos na manhã desta segunda-feira (8) ao encontrarem uma mulher nua, com problemas mentais, aparentando entre 50 e 60 anos, dormindo em um dos corredores da empresa. 

De acordo com a administradora da concessionária Extra Caminhões, Jussiane Perotto, a mulher estava andando nas adjacências e em determinado momento entrou e deitou-se em um canto. “Ela deitou no chão e dormiu. Parecia estar dopada. Mas não estava agressiva e nem incomodou ninguém”, disse.

Ao ver aquela pessoa nua, Perotto ficou comovida com a situação e tentou buscar ajuda. No entanto, a administradora relata a dificuldade em encontrar os “responsáveis” para retirar a mulher do local e levá-la para uma unidade de saúde.

Segundo Jussiane, ela ligou para o Samu, mas estes informaram que não seriam os responsáveis por situação como esta. Jussiane ainda tentou encontrar solução em outros órgãos públicos, sem sucesso. Ao final, o Samu acabou a atendendo.

“Os funcionários ficaram chocados com o descaso como as pessoas tratam as outras. Não foi nenhum olhar de recriminação, mas de piedade”, disse Perotto, que ainda arrumou uniformes da empresa para vestir a mulher nua. A paciente foi encaminhada para a Policlínica do Coxipó.

O encaminhamento

Segundo o coordenador da Policlínica do Coxipó, Alessandro Brito, a paciente não foi identificada, pois não portava documentos e não soube informar os dados. Alessandro informou também que a senhora chegou a ser atendida mais cedo, porém, momentos depois que recebeu medicações para ficar mais “calma” ela saiu correndo nua.

Eles chegaram a acionar a Polícia Militar e uma ambulância para tentar localizar a paciente, mas não obtiveram êxito.  “No momento que ela recebeu a medicação, ela arrancou o soro e saiu correndo”, explicou Alessandro.

O coordenador da policlínica disse que o procedimento agora será fazer classificação da paciente, e caso seja constatado o problema mental, ela será mantida na unidade e receber medicações. O caso, então, seria repassado para a Assistência Social de Cuiabá.

Sem parentes

Alessandro explica que como a paciente não tem família, ela possivelmente, será encaminhada para um Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS AD) ou entrar na filia para se tratar no Hospital Adauto Botelho, até que se localize um parente, ou “até que alguém se pronuncie”.

Ainda segundo Alessandro, a grande dificuldade dos profissionais de saúde é que a família “abandona” seus entes que estão enfrentando problemas mentais e deixam a responsabilidade pra o município e o Estado. Para Brito, a Policlínica não tem estrutura para receber pacientes mentais.

“A gente sabe da situação, que é difícil. Nós temos dificuldades em receber esses pacientes, por que aqui é uma unidade de pronto atendimento. Nós não dispomos de uma equipe de saúde mental 24 horas na unidade, então é muito complicada essa parte da saúde mental”, avaliou Alessandro.

Faltam CAPS

O fato ilustra bem a situação em que passa a saúde pública mental brasileira. Na última sexta-feira (5), o Conselho Municipal de Saúde de Cuiabá cobrou a Secretaria Municipal de Saúde para iniciar a construção de novos Centros de Atenção Psicossocial na Capital imediatamente.

De acordo com a recomendação publicada no Diário de Contas do Estado, existem R$ 400 mil nos cofres do município destinados a construção das unidades. Apesar de os projetos estarem prontos, até o momento as obras não iniciaram e Executivo Municipal pode ter que devolver os recursos para o Fundo Nacional da Saúde, com juros e correções.

O município pediu mais tempo para executar a obra e o Ministério da Saúde acatou a solicitação.

Outro lado

O Circuito Mato Grosso entrou em contato com a coordenadora Especial de Rede Assistencial de Saúde Mental de Cuiabá, Darci Bezerra, que esclareceu sobre quais as providências devem ser tomadas ao se deparar com uma situação como esta. Em casos de crise de transtorno mental, conta a coordenadora, o primeiro passo é ligar para o Samu através do 192, pois é o único “autorizado a fazer o encaminhamento” para as Unidade de Pronto Atendimento (Upas) ou policlínicas.  

“Os profissionais do Samu são especializados para realizar o atendimento do paciente em crise, portanto, eles são os primeiros a serem acionados, pois eles encaminharão o paciente para um atendimento nas policlínicas ou nas Upas”, afirmou. A coordenadora explicou que em caso de uma situação mais grave o paciente é encaminhado para o Caps e em caso de necessidade de tratamento é levado ao Adauto Botelho.

Darci admitiu a falta de atendimento para unidade de saúde para atender pessoas com problemas de transtorno mental. “Esses serviços são inovadores, e em Cuiabá e Mato Grosso não tem. É uma expansão da rede psicossocial. No entanto realizamos esses trabalhos através dos Caps e das unidades de atendimento”, pontou.

Quando o paciente tem família, o trabalho é realizado através de uma atenção básica que faz o acompanhamento familiar. “A atenção básica faz todo o acompanhamento do paciente quando ele tem uma família que colabora. Pois requer uma atenção especial das famílias”, explicou.

Sobre os R$400 mil, a coordenador explicou que o dinheiro é destinado para outros três projetos, entre eles a construção de um Caps AD para atendimento adulto. “Veio um repasse de R$200 para iniciar a obra do projeto. Outros R$200mil é para a implantação de outros dois Caps, um adulto e outro infanto juvenil”, pontuou.

Ao todo a rede municipal de saúde mental conta com, um neuropediatra, quatro psicólogos, oito psiquiatras, 10 clínicos em saúde mental e 14 assistentes sociais. 

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Felipe Leonel

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