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DO GLOBO RURAL
Uma doença grave está colocando em risco a vida dos cavalos do Pantanal. É a anemia infecciosa equina. A repórter Ana Dalla Pria foi a Mato Grosso do Sul e mostrou como essa doença afeta os animais e traz prejuízos para os criadores.
A principal atividade econômica da região é a pecuária de corte. Juntando o Pantanal de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, o rebanho supera 7,5 milhões de cabeças. Animais que estão sempre em movimento, em busca de terras secas para se abrigar e pastar.
Mas não é qualquer cavalo que se dá bem com a ecologia do lugar. Por isso, em toda a fazenda é possível encontrar animal com sangue da raça pantaneiro. Cavalo pantaneiro é uma das especialidades da zootecnista e pesquisadora da Embrapa Sandra Santos.
“Essa raça se formou na região pantaneira. No Brasil não existiam equinos. Eles foram trazidos pelos primeiros colonizadores. Eles encontraram as condições perfeitas no Pantanal. Eles se adaptaram, se multiplicaram sem a interferência do homem por mais de dois séculos.”
O pantaneiro consegue comer o capim que fica embaixo da água. Mas tanta rusticidade não foi suficiente para livrar o pantaneiro da anemia infecciosa equina. Uma doença grave, transmissível, que não tem vacina ou cura.
“Anemia infecciosa equina e ou AIE, como é conhecida, é uma doença viral de equídeos. Que quer dizer? Que é uma doença que o agente é um vírus, é o vírus da anemia infecciosa equina, e ela só acomete equídeos. Serão infectados os cavalos, os jumentos, e a cruza do asinino com o equino, que são os muares. A mula, o burro, o bardoto, por exemplo”, explica a veterinária da Embrapa Márcia Furlan.
A transmissão, segundo a veterinária, só acontece através do sangue. “O vírus está no sangue. Qualquer utensílio que possa conter o sangue e esse sangue tendo o vírus, será transmitido do animal infectado para o não infectado.”
A AIE tem comportamento singular. Em geral, não mata o cavalo rapidamente. São três fases: aguda, crônica e assintomática. A aguda é quando o animal recebe o vírus. Depois, chega a fase crônica, onde ele apresenta inchaço nas partes baixas, na barriga, no peito. Ele melhora, volta a adoecer. Já a fase assintomática é quando o animal tem o vírus, mas não aparenta estar doente. As três fases levam a óbito.
Os primeiros casos de AIE foram registrados no Brasil no final da década de 1960. Para conter a doença, o Ministério da Agricultura adotou um protocolo que inclui, entre outras medidas, o sacrifício do animal infectado. A legislação está em vigor até hoje e é válida para todo país, exceto o Pantanal. Com autorização do Ministério, o criador não é obrigado a sacrificar os animais doentes.
No entanto, esses cavalos não podem sair do Pantanal. Para circular por outras áreas do estado ou do país, é preciso comprovar que o animal não tem a doença. Estima-se que a tropa de equídeos de todo o Pantanal tenha em torno de 100 mil animais. Pelos estudos da Embrapa, pelo menos 40% desse rebanho é portador do vírus da anemia infecciosa equina.
Segundo a veterinária da Embrapa, apesar de existir um inseto que pode transmitir a doença, o homem ainda é o principal disseminador da doença.