Opinião

MÃE JUJA

Este ano a tradicional Festa de São Benedito realizada na Igreja do Rosário perdeu uma de suas figuras mais icônicas: Benedita Faria de Souza, ou Dona Juja, faleceu aos 99 anos de causas naturais no dia 21/04, deixando um imenso legado cultural a nossa cidade de Cuiabá. Poucos sabem, mas a figura materna que era vista com frequência nas festas religiosas tradicionais da cidade teve em sua vida uma proximidade com o espiritual muito profunda.

Contou ela em várias ocasiões que quando a Prainha em nada se parecia com o que se tornou hoje um riacho de águas cristalinas corria por ali se tornando ponto de encontro de várias lavadeiras que para ali se dirigiam para fazer seus serviços domésticos, e ela era uma daquelas. Certo dia, quando já tinha 30 anos, estava na beira do córrego lavando roupas quando de repente viu o sol adquirir uma coloração estranha, intensa.

Juja percebeu que algo anormal estava acontecendo consigo e, amedrontada, foi para casa. Quando lá chegou, começou a falar uma língua diferente. Procurou ajuda com o padre e este lhe disse: “É a manifestação da sua mediunidade. A senhora é uma pessoa boa e esse é um dom que Deus lhe deu. Nunca deixe de fazer a caridade. É isso que Deus espera da senhora”. Juja procurou ajuda no meio espiritual e teve seu desenvolvimento concluído por Pai Mocoteiro por intermédio do Médium Tito e Cabocla Jorra através do Médium Alvim.

Depois daquele dia, o conselho do padre foi seguido a rigor.  Ao retornar do trabalho, exausta, encontrava a casa repleta de gente aguardando-a para receber um passe ou uma orientação espiritual de seus guias: “Caboclo Tupinambá”, que era a Entidade Chefe de sua mediunidade, e “Rei do Congo”. Eram pessoas provenientes dos mais diversos lugares da cidade e de todas as camadas sociais. A fama da médium séria e generosa lá do bairro Baú correu por toda a Cuiabá e ela atendia a todos, indistintamente, até altas horas da madrugada.  

Em 2016, após 73 anos de trabalhos públicos, por decorrência da idade, passou a atender apenas as pessoas que a procuravam pedindo ajuda, sem realizar mais as famosas homenagens e festas. Na quarta-feira que antecedeu sua partida, seu neto Uglay conversava com ela quando do nada ela lhe indicou: “… Uglay, você vai cuidar do terreiro para mim”. Surpreso, o neto guardou a indicação no seu peito ao mesmo tempo em que se recordava que na última manifestação de Rei Congo em Mãe Juja, na sexta-feira da paixão (07/04), ele afirmou: “… está vindo uma tempestade, mas vai passar; sejam fortes”.

Foram 74 anos à frente do terreiro, mais de 40 anos participando ativamente da Festa de São Benedito e 99 anos de vida muito bem vivida em prol daqueles que precisavam. Ao final disso, só podemos dizer obrigado e pedir a bênção dessa matriarca de força e axé que passou em nosso meio deixando lastro de alegria e coragem, mas, principalmente, exemplos de dedicação.

Que Deus a ilumine sempre!

Ave Juja!!!

Redação

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