Política

Executivo da Odebrecht revela origem de dinheiro utilizado na compra de dossiê

A delação do ex-executivo da Odebrecht Luiz Eduardo Soares, que atuava no departamento da propina da empreiteira, revelou a suposta origem do dinheiro utilizado no episódio ocorrido em Cuiabá (MT) e São Paulo (SP), que acabou conhecido como “escândalo dos aloprados”, em 2006.

De acordo com a reportagem do Estadão, o esquema de lavagem de dinheiro criado entre a Odebrecht e a cervejaria Itapava serviu para, além de bancar caixa 2 de campanhas eleitorais, pagar a compra, por R$ 1,7 milhão, de um dossiê contra candidatos tucanos nas eleições de 2006 oferecido pelos empresários Luiz Antônio Trevisan e Darci José Vedoin,  donos da empresa Planam – com sede em Cuiabá -, envolvida no escândalo de superfaturamento da compra de ambulâncias, caso conhecido como “Máfia das Sanguessugas”.

A venda do dossiê que tratava sobre o suposto envolvimento do então candidato ao Governo de São Paulo, José Serra, com a Máfia das Sanguessugas, teria sido negociada com o empresário Valdebran Padilha, que em 2004 foi tesoureiro da campanha de Alexandres Cesar (PT) à Prefeitura de Cuiabá.

Padilha foi preso em um hotel da capital paulista com US$ 109.800 e mais R$ 758 mil em dinheiro. Além dele, o ex-agente da Polícia Federal e advogado do PT, Gedimar Passos, também foi preso com US$ 139 mil e mais de R$ 400 mil em dinheiro.

O suposto esquema chegou a ser investigado em ação penal que tramitou na Vara Criminal em Mato Grosso. No entanto, em 2013, o processo foi encaminhado para São Paulo, após decisão do Tribunal Regional Federal. 

Em 2015, a acusação contra Padilha e Gedimar foram rejeitadas pela juíza federal de São Paulo, Fabiana Alves Rodrigues.

Detalhes do esquema

Em sua delação, o ex-executivo Luiz Soares afirmou que um dia após a prisão de Padilha e Gedimar, em 16 de setembro de 2016, o ex-tesoureiro da campanha de Lula, José de Filippi, convocou uma reunião emergencial no comitê da campanha do petista, em São Paulo.

Soares diz que encontrou Filippi, o presidente da Itaipava, Walter Faria e Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht. 

“Nós fomos tomados de surpresa na operação dos aloprados. BJ me ligou dizendo que tinha dado um grande problema e que precisava de minha ajuda”, disse o delator.

Ainda de acordo com o delator, o  clima era de tensão, pois entre as centenas de maços de dinheiro apreendidos, um deles estava com rótulo da empresa Leyroz de Caxias, distribuidora da Itaipava que articulava a distribuição de dinheiro no esquema de propina da cervejaria.

“Como nós tínhamos essa operação que já tinha começado, de troca de reais por dólar, eles estavam com medo, porque descobriram que uma parte desse dinheiro estava com o timbre da Leyroz de Caxias. Mostrava que isso era da cervejaria Itaipava”, disse Soares.

Conforme o Estadão, em seu depoimento Soares chegou a dar risada ao se lembrar do episódio. 

“Me dá vontade até de rir um pouco. O senhor Walter (Faria, presidente da Itaipava) falou que ele mesmo estava tirando (o rótulo) e esqueceu de tirar os invólucros de um pacote, .”

O delator lembra que as investigações avançaram, mas não chegaram à Itaipava. “Aí a coisa morreu, arrefeceu, e ninguém nunca soube de onde era o dinheiro”, disse. Luiz Eduardo Soares confirmou que o dinheiro foi repassado ao ex-tesoureiro do PT pelo próprio Walter Faria. “Eles pediram esse dinheiro e usaram esse dinheiro”, disse. 

Segundo o delator, José de Filippi sabia que a propina seria usada para a compra do dossiê. “Pediram a minha ajuda naquele momento de tensão. Eu sempre tive uma postura de me afastar dos problemas, apesar de eles estarem sempre me perseguindo”.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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