Pai. A gente vê que a vida passa rápido pelas datas marcantes. Parece ontem, nasceu meu filho Francisco. O mais bonito dos três. Já nasceu com a cara limpa. Todo charmoso, longe de parecer joelho. Quase não chora (durante o dia), já ri, já reconhece a voz. É a alegria da casa. João vive querendo pegar ele no colo, Maria chega a sufocar ele de tanto beijar. Tá certo, de vez em quando ela o belisca e ele chora com todo gás. E não é que por ironia do destino ele nasceu num dia 16? Assim como você. O caçula de três irmãos, como você. Colorado (assim espero) como você. Cara de polaco, assim como você. E não é que por ironia do destino esse próximo dia 16, seu aniversário, é domingo de Páscoa?
– Chico puxou povo de Fritz e de sua avó Dona Dalila.
Minha mãe não cansa de lembrar. Aliás, é impossível esquecer você. Tem dias que a saudade bate que dói. Bate assim, de repente, e dói no peito como uma faca que arrebenta as entranhas. Fico me perguntando como eu não me preparei para morte iminente. Engraçado que amor nos ludibria de tal forma que conseguimos transformar a realidade. Como o senhor fez até embarcar na nave. Sei que o senhor está bem, e olhando por nós. Até me desculpe, véio, tenho abusado da sua boa vontade. O senhor sabe, dou trabalho até hoje. Mania de filho único. Se tem um problema, corre direto pro colo do pai. Saudades… saudades… saudades… Domingo vamos comer uma costela na chácara. Afinal, né, Seu João, 66 anos não se comemora todo dia.