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Mulher espancada após boato não quer mais voltar para casa

Foto: reprodução

Por Extra

Espancada em uma rua de Araruama, na Região dos Lagos, depois que boatos circularam no WhatsApp acusando-a de sequestrar bebês, a jovem Pâmella Martins não quer mais voltar para casa. Na tarde desta quarta-feira, após as agressões, ela passou em sua residência escoltada por policiais apenas para buscar roupas. Dormiu com o marido, Luiz Carlos Ferreira, em um local afastado, e agora procura parentes que possam abrigá-la temporariamente, disse uma vizinha que pediu ao EXTRA para não ser identificada.

Pâmela e um homem chamado Luiz Aurélio de Paula, com quem ela trabalha, foram agredidos por uma multidão enfurecida, movida por informações falsas que circulavam em grupos do aplicativo de mensagens. Um áudio identificava os dois como sequestradores de crianças, e fotos mostravam a placa do carro em que estavam. Na hora do almoço, moradores do bairro reconheceram o veículo e depredaram o automóvel, antes de avançar sobre a dupla. Eles só não foram linchados porque agentes da Guarda Municipal intervieram.

As imagens recebidas pelo WhatsApp do EXTRA (21 996441263) mostram o momento em que o carro de Luiz é cercado e atacado por centenas de pessoas. O veículo foi queimado e Luiz, atingido com uma pedrada na cabeça. A mulher sofreu escoriações no rosto, nos braços e nas pernas.

Vizinhos da jovem ficaram assustados com a repercussão. Uma delas, que preferiu não se identificar com medo da hostilidade da população, contou que conhece a família de Pâmella há 30 anos e "nunca ouviu falar de qualquer erro na conduta" dela.

— Vi Pâmella nascer. Ela morou um tempo com a mãe, fora de Araruama, e depois voltou. Nunca vi nada de errado. Ela sai para trabalhar, para a Igreja. Quando vi as mensagens no meu celular, já percebi que havia um mal-entendido. Pelo que soube, depois tudo foi solucionado — contou.

Segundo o vizinho, o pai de Pâmella estava no local do espancamento e tentou desesperadamente frear a multidão.

— Ele viu a menina ser agredida. Tentou explicar, acalmar a população, mas não conseguiu. Depois tiraram foto dele e publicaram como se fosse outro acusado de sequestrar bebês. Ela estava apenas trabalhando, vendendo laticínios. É uma história absurda. Eles são conhecidos na região. O pai dela, mecânico, é muito querido — defendeu o morador.

Segundo informações da 118°DP (Araruama), existe, de fato, um boato de que sequestradores de crianças estão atuando na região. A delegacia, no entanto, não tem registros de desaparecimentos de menores. Luiz teria ido falar com uma mulher, que achou que ele estava tentando roubar o filho dela e fez as imagens que foram compartilhadas.

De acordo com a prefeitura de Araruama, na hora da confusão, Luiz precisou se refugiar numa padaria na região onde foi abordado e Pâmella ficou escondida numa papelaria. A Polícia Civil foi chamada, mas não conseguiu conter os populares que queriam agredir a dupla e precisou pedir reforços da Polícia Militar, que levou o casal para a delegacia. A mulher que incendiou o carro foi presa em flagrante.

Em entrevista para jornalistas na delegacia, Luiz condenou os boatos que surgem através das redes sociais e as consequências que eles têm na vida das pessoas. Ele também agradeceu a atuação da polícia, que conseguiu retirá-lo do meio da confusão.

"Tinha umas mil pessoas do lado de fora falando que iam me matar por causa dessa porcaria desse WhatsApp, que está incriminando e matando as pessoas sem culpa. Eu estou morto de vergonha da minha esposa e da minha família por estar passando por uma situação dessas. Nem um cachorro, nem os piores bandidos do mundo merecem passar pelo que estou passando hoje", dissse emocionado.

 

Redação

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