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Intervenção revela que CAB distribuía água com lama em Cuiabá

Fotos: Andrea Lobo

A CAB não cumpriu o que prometeu quando assumiu os serviços de saneamento básico de Cuiabá. Muito pelo contrário: ao invés de realizar as melhorias prometidas, atacou “perdas financeiras”, penalizando a população. A afirmação é do interventor da empresa há quase um ano, Marcelo Oliveira Padeiro, em entrevista exclusiva ao Circuito Mato Grosso.

A empresa não investiu em reservatórios, em produção e também não investiu na qualidade da água. Longe disso, Padeiro relata o descaso da concessionária com a limpeza e manutenção de equipamentos, como do decantador (recipiente onde se separa a água de materiais sólidos) da Estação Tratamento de Água (ETA) São Sebastião.

A ETA São Sebastião é onde é produzida a maior quantidade de água de Cuiabá e estava com alguns dos decantadores com até um metro e meio de lama.  “Há quatro anos não se lavava, estava sujando toda a água. Os módulos estavam todos quebrados. Hoje nós refizemos tudo, mudamos todo o material filtrante, é como se estivesse funcionando uma ETA zerada”, pontuou Marcelo.

A empresa também não se preocupou em distribuir melhor o líquido, apenas em “hidrometrar” toda a cidade, enquanto o ideal seria atacar as perdas de água, que é resultado de inúmeros vazamentos na cidade.  Marcelo argumenta que assim seria possível colocar mais água nas torneiras, e o aumento no faturamento viria por consequência. 

De acordo com o interventor, a CAB Cuiabá chegou a se recusar diversas vezes a atender pedidos de abastecimento de água feitos por empreendimentos edificados em Cuiabá. “Hidrometraram muito a cidade de uma vez só e tentaram atacar a redução de perdas, mas não aumentaram um litro de água no sistema”, afirma ele.

Padeiro explica que hoje a CAB Cuiabá precisará aumentar em 30% a produção de água em função da solicitação de disponibilidade de água de 800 litros por segundo, que deverá ser entregue em 10 ou 15 anos. Mas antes, quando os empreendimentos faziam essa solicitação, a resposta era sucinta: “Não, não temos água”.

“Poxa, se eu vendo água, o cara pede água para construir um empreendimento no Parque Cuiabá, no Coxipó, na Guia… e eu falo que não tenho água? Eu vivo de que então, venda de ar? Não, eu vendo água!”, ironiza o interventor, que acrescenta que a CAB perdia em faturamento e afetava a economia e o desenvolvimento municipal, já que tais construções empregam milhares de pessoas e movimentam o comércio.

Ainda segundo Marcelo, todos os que “não tinham compromisso com o saneamento de Cuiabá” foram devolvidos à CAB Cuiabá e que no mesmo dia em que assumiu a gestão outros funcionários também pediram demissão. Inclusive a engenheira química, responsável pelo tratamento da água, que o deixou “na mão” e o obrigou a contratar outro engenheiro às pressas.

“Quando nós viemos para cá para melhorar os indicadores de produção, qualidade, distribuição e reservação, dois dias depois a nossa engenheira química entrou na sala e falou que não era mais a responsável. Por sorte, a CAB tinha o Célio, que tem profunda dedicação ao saneamento e multiplicou por mil a nossa qualidade e produção”, sintetizou Marcelo.

Emanuel ameaça romper contrato e fazer nova licitação

O prefeito Emanuel Pinheiro (PMDB) ameaçou determinar a caducidade do contrato de saneamento básico, caso a RK Partners, nova empresa que vai comandar a CAB Cuiabá, não apresente um cronograma de investimento de R$ 1,2 bilhão na capital, em sete anos.

De acordo com Pinheiro, os acionistas da nova empresa se reuniram com ele no mês de janeiro e havia outra reunião marcada para o mês de março, mas os empresários não compareceram. Caso a empresa não se manifeste até o dia 30 de maio, Pinheiro ameaça retomar os serviços de saneamento para a Prefeitura e realizar nova licitação. 

“Se não for apresentado o programa de desembolso de R$ 1,2 bilhão em sete anos, no dia 31 eu já retomo o sistema para a Prefeitura e vou preparar o processo licitatório para convocar uma nova concessão”, afirmou Pinheiro.

Ele ainda ressaltou que a nova empresa, que deverá assumir os serviços de saneamento de Cuiabá caso a RK não se manifeste, deverá ter know how e expertise na área de saneamento. “E que tenha atendido pelo menos duas capitais ou duas cidades de grande porte no Brasil”, explica Emanuel.

“Eu já mandei licitar o novo Plano Municipal de Saneamento Básico para dizer o que o município quer para o saneamento básico da capital e estou aguardando. Caso eles não cumpram, será determinada a caducidade do contrato e vamos retomar o serviço para Cuiabá”, informou Emanuel Pinheiro.

Segundo Pinheiro, a sua maior preocupação é resolver o passivo do saneamento básico com a população cuiabana. Ainda de acordo com Pinheiro, Cuiabá foi prejudicada com a Operação Pacenas, em 2009, e com a CAB em 2015.

“Foi um retrocesso, um crime contra a população cuiabana. Então nós temos que retomar esse processo e resolver esse passivo com a população cuiabana, que hoje custa R$ 1,2 bilhão. Temos que buscar esse recurso da iniciativa privada, porque Cuiabá não tem esse dinheiro”, afirmou o gestor.

Tratamento de esgoto deve “pular” de 30% para 60% em 18 meses

A partir do dia 31 de maio, caso a RK Partners assuma o controle da CAB Cuiabá e consequentemente os serviços de saneamento, começará a contar o prazo de 18 meses para que sejam investidos R$ 114 milhões no tratamento de esgoto. Além disso, serão investidos outros R$ 90 milhões no abastecimento de água em caráter de emergência.

Segundo Marcelo, o município passará a tratar 500 litros de esgoto por segundo, que cai no córrego Mané Pinto e está sendo jogado in natura no rio Cuiabá. A empresa deverá reativar o sistema Mané Pinto-Prainha e aumentar a capacidade da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Aquino de 180 mil a 310 mil litros. Também será aumentada a capacidade da ETE Tijucal.

“Vamos fazer uma revitalização completa em todos esses sistemas condominiais e separador absoluto. E há três bairros que não têm [sistema de esgoto]: Bosque da Saúde, Carumbé e Campo Verde da Esperança. Vamos coletar esses esgotos e trazer para a ETE Dom Aquino”, explicou Marcelo.

Ainda segundo o interventor, a ETE Dom Aquino opera abaixo da sua capacidade, pois quando foi construído, com recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH), na década de 70, o “dinheiro acabou no meio do caminho” e foram feitas apenas algumas redes coletoras e um coletor-tronco.

“Era para tratar um volume bem maior de esgoto. Ela tinha capacidade de tratar, mas não tinha esgoto chegando à Estação. A mesma coisa aconteceu na ETE Tijucal, e não foram feitas as redes coletoras para atender as estações”, argumentou Marcelo.

O ex-prefeito de Cuiabá Roberto França chegou a construir um coletor-tronco na beira do rio Cuiabá, mas o sistema foi paralisado na gestão seguinte por não arrecadar recursos para o Executivo municipal. “O rio Cuiabá não quer saber, o Pantanal lá em baixo também não quer saber disso, foi um crime o que fizeram”, afirma Padeiro.

Cuiabá terá água com flúor a partir de 1º de junho

Os cuiabanos terão uma melhora significativa na qualidade da água a partir do dia 1º de junho deste ano: é que 100% da água será fluoretada. O sistema está em teste no bairro Coophema, onde são produzidos 120 litros por segundo e será implantado, em seguida, no Distrito da Guia, que será o primeiro distrito de Cuiabá a receber a água com flúor. “Agora, além de filtrar, clorar, nós vamos fluoretar. Vai aquele flúor na água, que evita cárie, que faz bem”, afirmou Padeiro.

Intervenção diminui perdas de água em 12%

As ações realizadas pelo interventor na CAB Cuiabá resultaram em uma redução de perda de água de 12% – antes se perdiam 68% do líquido e agora caiu para 56% de desperdício. Padeiro exemplifica que 12% de um universo de 2.000 litros por segundo, a CAB ganhou mais 240 litros por segundo. Assim, ele argumenta, conseguiu atender as demandas.

Segundo Marcelo, foram realizados investimentos onde a CAB não tinha feito nada, que são os setores de produção, qualidade do produto e melhor distribuição. “Com isso nós conseguimos colocar mais água no sistema, tinha sistema que não recebia água, como o Residencial Santa Terezinha”, argumenta Marcelo.

No Residencial Santa Terezinha eram 4,5 mil residências que eram abastecidas por cinco poços artesianos, que não conseguiam fornecer a região por 24 horas. Para solucionar o problema, as perdas de água na região foram atacadas e estendida uma adutora do bairro Parque Cuiabá até o local.

“Nós jogávamos água fora, hoje nós ainda ampliamos o sistema Santa Terezinha. Fomos para mais três bairros: Jardim Presidente 1 e 2, Itapajé e Vila Verde. Nós conseguimos atender esses bairros com a mesma quantidade de água do Parque Cuiabá e que não prejudicou o abastecimento”, esclareceu Padeiro.

Felipe Leonel

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