Embora pouco conhecido em Mato Grosso, o Culto da Jurema Sagrada é uma sumidade na região Nordeste do país e ter contato com ele é sempre uma experiência única e inesquecível. Não se sabe ao certo e com exatidão as origens do Culto da Jurema Sagrada, no entanto, é inquestionável sua procedência indígena. Originalmente as folhas da Jurema eram usadas pelos índios muito antes da descoberta do Brasil e é exatamente por isso que sabemos não ser o culto atual exatamente idêntico ao primevo do passado.
O Culto da Jurema Sagrada feito na atualidade é resultado de uma verdadeira construção cultural cujo estudo e interpretação nos permitem acompanhar a história e cultura do Brasil e de sua gente através de seus milhares de Famílias e Mestres. Para se entender a riqueza doutrinária do culto é preciso entender que se trata de uma tradição mágica religiosa que ganhou grande espaço na região Nordeste de nosso país, desde a origem até os dias atuais, e que o que temos hoje é o resultado de uma construção feita em cima do culto indígena da Jurema e que com o passar do tempo absorveu influências de várias origens como, por exemplo, a feitiçaria europeia, a pajelança, o xamanismo indígena, passando depois pelas religiões africanas, pelo catolicismo popular e alcançando o esoterismo moderno; em algumas casas é possível perceber a presença até mesmo da rara psicoterapia psicodélica e do cristianismo esotérico.
Ao descrevermos o culto dessa forma, são visíveis as semelhanças constituintes, entre elas a Umbanda, no entanto, enquanto distinção, a presença e o uso da erva Jurema dentro do Rito são a principal característica que os diferencia, já que a Umbanda não faz uso de bebidas específicas que sejam exclusivas do Culto Umbandista tal qual a Jurema.
Em Cuiabá se tem notícia apenas de uma comunidade de Jurema Sagrada, liderada pelo conhecido Pai Glauber de Oxum, patriarca do Ilê Axé Oniki Obalodo. Para fazer seu culto, Pai Glauber instalou a Casa dos Mestres numa bela mata dentro da cidade, tendo nela um rio e uma cachoeira quase que secreta. Nessa mata onde estão instaladas as firmezas dos Mestres é possível sentir a presença forte dos Seres Encantados que habitam as matas e que com as bênçãos de Alhandra vêm à terra se manifestar.
Ali as noites são viradas na companhia de Mestres tais como o Sr. Zé Pelintra e Sr. Malunguinho que, entre um gole de bebida e um sopro de cachimbo, revelam as ideias que permeiam as mentes dos presentes, respondendo aos questionamentos sem que esses sejam proferidos de forma oral pelos presentes. Uma experiência inesquecível que todos deveriam viver.
Tal como a cultura indígena, origem do culto, os praticantes da Jurema sofrem pesadamente a intolerância e o preconceito, mas isso não os perturba; a fumaça dos Mestres não deixa o barco afundar e, no tombo da Jurema, “… filho de Jurema sempre há de levantar”. Salve os Mestres!