Fotos Willian Matos
Após mais de dez anos trabalhando como taxista, José Farias de Souza, 50, deixou a profissão para vender água pelas ruas de Cuiabá. A mudança radical teria sido resultado da diminuição das corridas, com a chegada dos serviços dos aplicativos de transporte alternativo, como o Uber e o Yet Go, na Capital.
Ao Circuito Mato Grosso, José Farias contou que chegava em casa com uma média de R$ 50 a R$ 60, após um dia de trabalho. Com a entrada dos motoristas de aplicativo no mercado, ele passou a faturar apenas entre R$ 10 a R$ 15 para plantões de 12 a 15 horas diários.
“Antes era bom de mais para mim. Aí, com a chegada do Uber eu não consegui mais pagar o aluguel do táxi e sustentar a família”, relatou José Farias, que tentou trabalhar em sistema de comissão, mas sem sucesso, até que desistiu de ser taxista.
A saída que José Farias encontrou para melhorar a renda foi começar a vender água nas ruas centrais de Cuiabá. Além de percorrer pontos de ônibus, ele fica parado na Avenida Tenente Coronel Duarte (Prainha) com a Avenida Mato Grosso.
“Vários taxistas, me vendo no trânsito vendendo água, disseram que eu estou melhor do que eles, porque as corridas caíram muito com a introdução do transporte individual alternativo”, conta o ex-taxista, que tem que cuidar ainda da mulher e de uma neta.
Aplicativo de fachada
O presidente da Associação Mato-grossense dos Taxistas (Amat), Abel Arruda, afirma que o lucro do taxi chegou a cair 70% após os aplicativos "invadirem" a Capital.Principalmente no mês de dezembro. No entanto, Abel afirma que esse número tem apresentado melhoras e subiu para 50% de redução das corridas.
“Hoje mais de 60% da frota é financiada, então se você pagar a prestação do carro, não come. Se come, não paga a prestação do carro. O sistema inchou e não tem de onde você tirar dinheiro, ainda mais nessa crise”, reclamou Abel.
Abel ainda pontuou que cerca de 30% dos taxistas migraram para os aplicativos. No entanto, ele justificou que a maioria destes já voltou para o táxi.
“Foram, viram e voltaram. Na realidade quem tá fazendo esse trabalho para o Uber tá fazendo trabalho escravo. Está vivendo de ilusão e depreciando o carro. Imagina uma corrida de carro que é R$ 40 e você fazer ela por R$ 9. Para quem está usando é uma maravilha, agora pra quem banca, infelizmente não compensa. É inviável”, afirmou Arruda.
Ainda segundo Arruda, os aplicativos de transporte estão funcionando como “fachada” para o transporte clandestino. O sindicalista argumentou que muitos motoristas fazem cartão de visita e tentam fidelizar clientes para fazer corridas “por fora”, o que segundo ele é ainda pior. “Ele coloca o preço que ele quer. Não tem taxímetro, não tem nada”, disse.
Motoristas Uber pedem regulamentação
Os motoristas do Uber e do YetGo vem reivindicando a regulamentação dos aplicativos na Capital. Eles argumentam que a medida irá garantir segurança jurídica sobre seus serviços e assegurar o respeito dos consumidores. Ainda evitaria a coação de taxistas, que consideram os profissionais como clandestinos.
O motorista Mário Gomes de Souza, 32, trabalha como parceiro do Uber há cerca de quatro meses e ressaltou que os trabalhadores buscam o direito de conquistar renda sem ter medo de qualquer tipo de represália.
“Sou a favor da regulamentação e acho justo que o poder público tenha direito de recolher os devidos impostos, afinal tudo que é sério tem obrigações e não apenas deveres”, pontuou o motorista.
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