Foto Ahmad Jarrah
Após a deflagração da Operação "Carne Fraca" pela Polícia Federal (PF), na manhã desta sexta-feira (17), o ministro da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Blairo Maggi, cancelou a licença de dez dias que havia tirado para tratar de assuntos particulares.
A operação apura o envolvimento de fiscais do Ministério em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. Estão sendo cumpridos 27 mandados de prisão preventiva, 11 de temporária (válida por cinco dias) e 194 buscas e apreensões, em seis Estados e no Distrito Federal .
Por meio de comunicado enviado à imprensa, Maggi declarou que a investigação começou antes de assumir o MAPA.
“Diante dos fatos narrados na Operação Carne Fraca, cuja investigação começou há mais de dois anos, decidi cancelar minha licença de 10 dias do MAPA. O que as apurações da Polícia Federal indicam é um crime contra a população brasileira, que merece ser punido com todo o rigor”, diz trecho do comunicado.
Segundo Maggi, neste momento, toda atenção é necessária.
“Isto para podermos separar o joio do trigo. Muitas ações já foram implementadas para corrigir distorções e combater a corrupção e os desvios de conduta, e novas medidas serão tomadas”.
O ministro informou, ainda, que já determinou o afastamento de todos os envolvidos na operação.
“Já determinei o afastamento imediato de todos os envolvidos, e a instauração de procedimentos administrativos. Todo apoio será dado à PF nas apurações. Minha determinação é tolerância zero com atos irregulares no MAPA”.
A Operação
Segundo a PF, a "Carne Fraca" é, em números, a maior operação já realizada pela instituição no país. Pela manhã, funcionários do ministério foram detidos.
Alguns dos principais frigoríficos do país estão na mira da operação, como a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e a JBS, dona das marcas Seara e Big Frango. A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das investigadas. No total, cerca de 30 empresas estão na mira da operação, incluindo fornecedoras dos grandes frigoríficos.
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, também é citado na investigação. Ele aparece em grampo interceptado pela operação conversando com o suposto líder do esquema criminoso, chamando-o de "grande chefe". A PF, porém, não encontrou indícios de ilegalidade na conduta do ministro, que não é investigado.
O objetivo da operação é desarticular uma suposta organização criminosa liderada por fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, que, com o pagamento de propina, facilitavam a produção de produtos adulterados, emitindo certificados sanitários sem fiscalização.
A investigação revelou até mesmo o uso de carnes podres, maquiadas com ácido ascórbico, por alguns frigoríficos, e a re-embalagem de produtos vencidos.
Entre os presos, estão executivos da BRF como Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais, e André Baldissera, diretor da BRF para o Centro-Oeste.
Também estão na lista funcionários da Seara e do frigorífico Peccin -um dos que tinha irregularidades gravíssimas, como uso de carnes podres, segundo a PF-, além de fiscais do Ministério da Agricultura.
A investigação aponta que os frigoríficos exerciam influência direta no Ministério da Agricultura para escolher os servidores que iriam efetuar as fiscalizações na empresa, por meio do pagamento de vantagens indevidas. Roney dos Santos, executivo da BRF, tinha acesso inclusive ao login e senha do sistema de processos administrativos do órgão, de uso interno.
Com a FolhaPress